Dunga deixa nas mãos de Neymar decisão de ficar na Seleção até o fim

20/06/2015 00h00 - Atualizado há 4 anos

Suspenso por quatro jogos pela Conmebol, no momento, Neymar está fora da Copa América. A CBF vai recorrer à Câmara de Apelações da entidade e pode mudar o panorama da punição. Porém, caso não ocorra nenhuma mudança, Dunga foi bem claro em sua posição sobre a permanência do camisa 10 na delegação. Para o treinador, a opinião do jogador será levada em conta para o atleta seguir no Chile ou deixar o grupo e iniciar o período de férias no Brasil.

- Depende do líder, do jogador, cada pessoa tem uma reação. Essa decisão tem que ser tomada pelo jogador. Quando chegamos aqui, dissemos que tratamos os jogadores como homens que devem ter responsabilidade, não como meninos. É preciso analisar se será benéfico para a Seleção ele ficar, se será produtivo. Ele tem que sentir de que forma pode colaborar, mesmo estando acostumado a jogar, aos holofotes, ou se é melhor sair para não transmitir a tristeza, a amargura, o que está dentro dele. Não queremos meninos, queremos homens e acreditamos nesses homens, são profissionais que representam o Brasil no mundo.

O treinador foi além e afirmou que a comissão técnica da Seleção dá total liberdade para os jogadores emitirem suas opiniões.

- As pessoas falam que não deixamos os jogadores se expressarem, muito pelo contrário. Queremos que eles tomem decisões. Algumas serão corretas, outras não, e estamos aqui para ajudá-los a crescer como jogadores e como homens.

Dunga preferiu não entrar no mérito do julgamento e criticar a punição imposta pela Conmebol. Para o treinador é preciso conter também as faltas seguidas que os principais atletas do torneio costumam sofrer na competição.

- Temos as pessoas no jurídico da CBF que vão fazer o contraponto das decisões tomadas. Nós não queremos nada a nosso favor, não queremos nada contra nós. Tudo parelho. Julgamentos iguais para todos na competição. Neymar é um personagem do futebol, muito grande. Não digo que os grandes jogadores devam ser protegidos, mas sabemos que existe um rodízio de jogadores para fazer faltas em atletas que fazem a diferença.

O treinador da Seleção afirmou que não terá uma conversa específica com Neymar sobre a punição. Porém, Dunga admitiu que não julgará o camisa 10 pela atitude no fim da partida contra a Colômbia. Naquela ocasião, o jogador acertou uma bolada em Armero após o apito final, deu uma leve cabeçada em Murillo e ainda discutiu com o árbitro na saída do campo.

- Lógico que ninguém gosta de ser suspenso. Não é pelo que aconteceu que vamos conversar especificamente com o jogador. Temos conversado, falado o que cada um representa, coisas que acontecem. Esse tipo de situação acontece para podermos corrigir. Se cada um de nós que cometesse um erro fosse cortado, nenhum de nós estaria aqui agora.

Confira abaixo os principais trechos da coletiva:

CONFIANÇA NO ELENCO: Nós acreditamos nos jogadores que trouxemos para a Seleção. Tentamos tirar o melhor de cada jogador. A questão da faixa de capitão, alternância, tirar pressão de um jogador, encontrar mais lideranças. Vocês ouviram o Miranda falar. Não importa faixa, uma equipe não é formada por apenas um capitão, mas por várias lideranças.

O QUE FAZER PARA NÃO FRACASSAR? Não se esquece o 7 a 1. A Copa de 50 não se esquece. Temos que trabalhar com isso e fazer diferente. Essa cicatriz vai ficar como 50. É uma competição importante a Copa América. Ela é tão importante e tão difícil que ficamos 40 anos sem vencer, tendo jogadores excepcionais. Dentro dela temos que achar soluções.

ELIMINATÓRIAS MAIS DIFÍCEIS: Sem dúvida. Por aquilo que temos visto nas seleções, nos jogadores. Dez anos atrás, quantos jogadores dos outros países jogavam na Europa e quantos jogam hoje? Esse intercambio já demonstra a dificuldade que vamos ter nas eliminatórias. É mais fácil jogar uma copa do que uma competição sul-americana, pelo campo, pela rivalidade. A Copa tem 30, 40 câmeras, a pressão é sobre todos e aqui é um pouco mais diferente.

ADVERSÁRIO NAS QUARTAS: Quando estamos numa competição como essa, nós não podemos escolher o adversário. Sabemos que é muito forte o Chile, um time agressivo, a dinâmica do futebol. Tem grandes jogadores, com valor excepcional. Sanchez está fazendo uma Copa América muito boa.

LIDERANÇA: Temos vários líderes, cada um com uma forma diferente. Muitas vezes achamos que o líder deve jogar. Muitas vezes temos líderes que não jogam. Muitas vezes temos líderes que são líderes quando só jogam. Outros, não. Temos o Thiago Silva, o Miranda, o David Luiz, o Neymar... Temos jogadores que participam do grupo jogando e não jogando.

CLASSIFICAÇÃO ANTECIPADA: É uma competição que são três jogos e você joga a classificação. Todas as equipes gostariam de estar classificadas na segunda partida. Temos que ter maturidade de quando as coisas não estarem dando certo, você mudar. Temos que ter humildade de pensar que com as 11 vitórias nós não éramos os melhores do mundo. Perdemos uma partida e não está tudo acabado, tudo errado. Temos que buscar o equilíbrio. Uma equipe no Brasil leva de seis a oito meses para criar uma identidade. Nós treinamos quatro, cinco horas antes de uma partida, com atletas vindos de outros países, nós temos que montar um grupo.

COUTINHO CUMPRIR FUNÇÃO DE NEYMAR: Nenhum jogador entra para substituir o outro. Ele entra na vaga do outro. Se eu pensar que eu tenho como jogar como o outro, eu perco a essência. Nenhum jogador tem responsabilidade de comandar a Seleção. O mais importante é encaixar a característica de um com o outro. Quando tivermos o coletivo forte vão surgir as individualidades naturais.

IMPORTÂNCIA DE NEYMAR: É natural. O Flamengo do Zico, nós falávamos dele. O Corinthians do Sócrates. Em 70, o Brasil do Pelé. Temos a Argentina do Maradona, do Messi. Quem olha um pouco diferente o futebol, nós temos jogadores de alto nível jogando com esses atletas. Sem outros jogadores, o Flamengo, o Corinthians, o Inter do Falcão, não venceriam tanto. É do futebol cercar um nome para falar. O que mais vende, nós vamos falar. Não adianta enrolar muito.

FUTEBOL ARTE: Eu escuto tanta coisa do futebol. Um dia questionam que não tem mais drible, não tem mais arte, não tem mais plástica, você diz que o cara é arrogante. O que nós queremos? Temos que definir o que queremos. Eles precisam bater no que temos de melhor. Todos batem no Pelé. Todos batiam no Maradona. Mas é o Maradona.

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