Coluna - Fim da PlayStation Store no PSP, Vita e PS3 é preocupante

25/03/2021 11h07 - Atualizado há 3 anos

Término dificulta a preservação da história dos jogos eletrônicos

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Divulgação/ PlayStation

 Por Guilherme Neto - Apresentador do quadro Fliperama, no programa Stadium, da TV Brasil. A coluna é publicada às quintas-feiras - Rio de Janeiro

Esta semana, uma notícia pegou de surpresa (ou não) muita gente: o fim do acesso à PlayStation Store no PSP, PlayStation Vita e PlayStation 3 a partir de julho de 2021. Segundo fontes ouvidas pelo portal The Gamer, um comunicado oficial está previsto para os próximos dias, anunciando que as lojas virtuais do PSP e PS3 terão suas atividades encerradas no dia 2 de julho. Já a loja do PS Vita ficará aberta até o dia 27 de agosto. Depois dessas datas, não será mais possível comprar cópias digitais de jogos ou conteúdo adicional via download em qualquer um desses aparelhos.

Essa medida dificultaria bastante a obtenção de diversos títulos. Mesmo as obras disponíveis em lojas digitais podem custar uma fortuna na versão mídia física. Persona 3 Portable (PSP), por exemplo, custa apenas R$ 83,50 na loja digital. Já em mídia física o preço pode chegar a centenas de reais e, com o fim da loja digital, o valor deve subir ainda mais.

Jogos disponíveis apenas na loja digital se tornarão inacessíveis, ao menos de forma legal. É o que acontece principalmente com produções independentes, muitas delas sucessos de crítica e uma fonte de renda para estúdios pequenos e desenvolvedores amadores. Uma história que já aconteceu com o WiiWare e DSiWare, lojas virtuais das plataformas Nintendo DSi e Wii, que deixaram para trás até mesmo títulos de grandes produtoras como Final Fantasy Crystal Chronicles: My Life as a King, da Square Enix.

Hoje, a única forma de obter este e outros sucessos do WiiWare é apelar para o port em outras plataformas, se existirem, como é o caso de Final Fantasy IV: The After Years e LostWinds. No caso dos digitais exclusivos, tal qual WarioWare D.I.Y Showcase ou Pokémon Rumble, o jeito é encontrar e comprar um console com esses jogos pré-instalados a um preço altíssimo. Outra alternativa é fazer o que a maioria dos preservacionistas fazem: buscar cópias piratas ou emuladores.

Entre os jogos digitais exclusivos que devem "sumir" com o fim da PlayStation Store no PSP, PS3 e PS Vita, estão Echochrome (PS3), MotorStorm:RC (PS3), TxK (Vita), Locoroco: Midnight Carneval (PSP) e PixelJunk Racers (PS3), entre outras pérolas.

Há quem possa alegar que jogos antigos em plataformas ultrapassadas não despertem um grande interesse da maioria dos consumidores e que, por isso, não são justificáveis as despesas na manutenção desses serviços. Embora isso possa ser verdade, nunca se deve ignorar a história, mesmo a história dos videogames.

Quem é fã de retrogames sabe o prazer que é "voltar ao passado" ao usufruir dos jogos da infância. Ou mesmo o quão informativo e interessante pode ser conhecer como eram os videogames e sua biblioteca em outras gerações. É uma forma de estudar e descobrir como algumas mecânicas, personagens ou franquias surgiram e evoluíram para o patamar que se encontram hoje.

Mas, a cada geração, esta tarefa vai ficando mais difícil. Videogames mais potentes exigem máquinas robustas que possam suportar os seus títulos em emuladores. Hospedar, distribuir e baixar na internet cópias não autorizadas desses jogos, que ocupam cada vez mais espaço em discos rígidos, além de ser algo controverso no âmbito legal, pode se tornar uma prática onerosa ou, no mínimo, complicada para usuários mais leigos. O mesmo pode ser dito sobre a possibilidade de rodar games pirateados. Embora seja viável desbloquear algumas versões desses aparelhos e instalar cópias não autorizadas, o número de obstáculos e impedimentos para o usuário comum pode ser um fator inibidor para muitos possíveis entusiastas, que muitas vezes não têm a opção de pagar pelos jogos, mesmo se quiserem apoiar os desenvolvedores originais.

No caso de games multiplayer online, algo inexistente ou raro em outras gerações, é certamente impossível replicar a experiência original no auge dessas plataformas. Felizmente, ainda existem muitas pessoas interessadas em criar e/ou manter servidores amadores de forma gratuita, o que permite sentir um gostinho das partidas competitivas de outrora.

Com o tempo, foram surgindo organizações dedicadas à preservação de jogos antigos. Aqui no país, temos a Sociedade Histórica de Videogame do Brasil e a Video Game Data Base. São entidades dedicadas a buscar e conservar jogos eletrônicos antigos, além de promover eventos como exposições e outras atividades educativas. No exterior, destaca-se a Video Game History Foundation, procurada até mesmo por empresas como Capcom e SNK quando se trata de levantar informações sobre seus próprios jogos. Um trabalho que enriqueceu as coletâneas SNK 40th Anniversary Collection e Street Fighter 30th Anniversary Collection com diversos materiais de arquivo que ajudaram a contar a história dentro e fora dessas franquias.

Em uma mídia tão dependente de hardware como os games, é uma pena que não se perceba um esforço das grandes empresas em preservar os jogos antigos. Ainda não há um posicionamento oficial da Sony sobre o possível fim do acesso à PlayStation Store no PSP, PlayStation Vita e PlayStation 3, mas não é difícil supor que estas serão as últimas semanas que os consumidores terão para adquirir títulos fadados ao esquecimento. Seja lá o que acontecer, felizmente sempre existirão organizações, historiadores, fãs, hackers, e "piratas" dedicados a manter viva a história dos jogos eletrônicos.

Edição: Cláudia Soares Rodrigues

Agência Brasil