Coluna - Da escolinha à Paralimpíada Escolar, sonhos a despertar
Projeto para jovens de 8 a 17 anos terá 38 alunos na edição deste ano
Por Lincoln Chaves - Repórter da TV Brasil e Rádio Nacional - São Paulo
As Paralimpíadas Escolares costumam ser a primeira experiência competitiva dos jovens atletas com deficiência. A edição deste ano, que teve a cerimônia de abertura realizada na noite da última terça-feira (22), reúne 1.350 crianças e adolescentes de 25 estados e do Distrito Federal (um recorde no evento, que existe desde 2009 e é considerado o maior do mundo do gênero). As disputas em 14 modalidades iniciam nesta quarta-feira (23) e vão até sexta-feira (25), no Centro de Treinamento Paralímpico, em São Paulo.
Segundo o Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB), 22,6% dos atletas que representaram o Brasil nos Jogos de Tóquio (Japão), no ano passado, já competiram nas Paralimpíadas Escolares. Seguir esta trajetória é a meta de Arthur Dias. O paulista de 16 anos, que sofreu uma lesão medular jogando bola (ele já tinha escoliose), é favorito no parabadminton, modalidade que pratica há um ano e dois meses e na qual é o terceiro melhor jogador do país no ranking mundial da classe WH1 (cadeirantes).
“Estou focado, treinando todo dia e buscando a douradinha [risos]. Dá para sonhar com [a Paralimpíada de] Paris [França]. Se tivesse dinheiro, teria ido ao Mundial [de Tóquio, no Japão, realizado em novembro]. Quero ser o melhor e vou ser o melhor”, projetou o atleta de Diadema (SP) à Agência Brasil.
Se realmente chegar aos Jogos em 2024, Arthur será um dos primeiros (quiçá o pioneiro) a fazê-lo como revelação da Escola Paralímpica, projeto criado em 2018 pelo Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB) para iniciação de jovens de 8 a 17 anos em 13 modalidades adaptadas às deficiências visual, físico-motora e intelectual. A “escolinha”, como é conhecida a iniciativa, tem aulas gratuitas, duas vezes por semana à tarde, no próprio CT Paralímpico.
Segundo o Comitê, são quase 400 alunos atendidos em São Paulo, atualmente. O projeto chegou a ter 537 participantes em março de 2020, antes da pandemia do novo coronavírus (covid-19). Fora da capital paulista, as atividades são replicadas em 43 centros de referência, em 15 estados e no Distrito Federal.
“O aluno, conforme a deficiência, faz uma vivência na modalidade para a qual é elegível. A um jovem com deficiência visual, por exemplo, são oferecidas cinco modalidades: judô, goalball, futebol de cegos, atletismo e natação. O aluno faz uma vivência de dois a três meses em cada atividade. Ao final desse processo, que dura mais ou menos um ano e meio, nós o provocamos a ficar na modalidade em que teve melhor desempenho. Isso também é importante para nós, que buscamos atletas para representar o Brasil”, explicou o diretor de Desenvolvimento Esportivo do CPB, Ramon Pereira.
A Paralimpíada Escolar deste ano terá participação de 38 alunos da Escola Paralímpica, sendo 26 estreantes. É o caso de Williany Vitória, judoca da classe J1 (cego total), no peso até 48 quilos. Natural de Sobral (CE), a jovem de 15 anos entrou na escolinha em outubro do ano passado. Em março e setembro, ela foi medalhista de ouro na categoria sub-15 da Copa Loterias Caixa de judô, realizada no CT Paralímpico.
A modalidade não demorou a conquistar Williany, embora, por enquanto, a cearense ainda não se veja como uma atleta profissional no futuro. Os benefícios da prática esportiva, porém, motivaram diferentes sonhos à mente da judoca.
“[O judô trouxe] respeito, disciplina, trabalho em equipe e muito mais confiança para me expressar. Ele me ajuda no senso de direção e no emocional. Trabalha o espírito competitivo, aprendendo a ganhar e perder. Eu nunca pensei, assim, em seguir carreira no judô. Meus objetivos são outros. Gostaria de trabalhar com a voz, cantando, ou ser escritora. Ainda tenho muitas dúvidas e muito tempo para pensar. Pretendo, sim, ter o judô como esporte, mas também explorar outros mundos, né?”, comentou a jovem.
Segundo Pereira, do CPB, a expectativa é que mais de 50% dos representantes do Brasil nos Jogos de Los Angeles (Estados Unidos), em 2028, tenham passado por alguma das iniciativas de formação (escolinha, centros de referência e Paralimpíada Escolar). Arthur, do parabadminton, é nome forte para integrar a estatística. Mesmo que Williany, do judô, siga uma carreira artística, ao invés da esportiva, a meta com ela também terá sido atingida.
“Trabalhamos com resultados [esportivos], mas a parte social de muitos deles [jovens] que estão aqui mudou muito. Essa mudança de rotina dos alunos, a confiança que passaram a ter, dar voz a essa população. Aqui, nos deparamos todos os dias com atletas que, certamente, disputam a sua profissão e seu espaço na sociedade”, concluiu o diretor do CPB.
Serviço
A inscrição na Escola Paralímpica pode ser feita no próprio CT, que fica no quilômetro 11,5 da Rodovia dos Imigrantes, zona sul da capital paulista, com o departamento de Coordenação de Esporte Escolar do CPB. As atividades ocorrem às segundas e quartas-feiras e às terças e quintas-feiras em dois horários (14h às 15h30 e 16h às 17h30). As modalidades são atletismo, parabadminton, bocha, esgrima em cadeira de rodas, futebol de cegos, goalball, halterofilismo, judô, natação, tênis de mesa, tiro com arco, triatlo e vôlei sentado. Informações pelo e-mail [email protected] ou no telefone (11) 4710-4217.
Edição: Fábio Lisboa