Coluna - Brasil disputa Libertadores de futebol em cadeira de rodas

16/11/2022 09h01 - Atualizado há 2 anos

Torneio começa hoje com Fortaleza x Deportivo Montevidéu às 10h30

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© Katarine Almeida/RJPS/Direitos Reservados

Por Lincoln Chaves - Repórter da EBC - São Paulo

Começa nesta quarta-feira (16), em Buenos Aires (Argentina), a quinta edição da Libertadores de power soccer, como é chamado o futebol em cadeira de rodas. A modalidade é praticada por atletas com deficiências motores severas, como lesões medulares, sendo que homens e mulheres jogam juntos. O torneio reunirá equipes de Brasil, Uruguai e do pais anfitrião. Os brasileiros serão representados por Fortaleza e Rio de Janeiro Power Soccer (RJPS).

O Leão do Pici está no Grupo A, com Deportivo Montevidéu (Uruguai) e Tigres (Argentina). Os cearenses estreiam contra o time uruguaio, às 10h30 (horário de Brasília) desta quarta. Em seguida, às 13h25, encaram os argentinos. O RJPS, por sua vez, aparece no Grupo B, junto de Huracán de Carrasco (Uruguai) e Los Titanes (Argentina). Também nesta quarta-feira, às 11h40, os cariocas medem forças com o Huracán. Mais tarde, às 16h40, encerram a participação na primeira fase contra o Los Titanes.

Os dois primeiros de cada chave avançam às semifinais, que estão marcadas para quinta-feira (17), com jogos às 12h10 e 13h15. A disputa pelo terceiro lugar será às 15h, enquanto a grande final está marcada para 16h10.

O único time brasileiro a vencer a Libertadores foi o Novo Ser, do Rio de Janeiro, em 2015, na primeira edição. Em 2016, o título ficou com o Huracán de Carrasco. No ano seguinte, o Tigres levantou a taça. O último ganhador foi o Deportivo Montevidéu, em 2018. A competição não ocorreu em 2019, ano em que foi realizada a Champions Cup, no Velódromo do Parque Olímpico, na zona sul da capital carioca, reunindo campeões de Brasil, Estados Unidos, Argentina e Uruguai - o RJPS venceu. Nas duas últimas temporadas, devido à pandemia da covid-19, não teve disputa.

Os representantes do país na Libertadores foram definidos no último campeonato nacional, realizado em 2019. Tetracampeão do Brasil, o RJPS disputará o torneio continental pela quinta vez. Na última edição, o time carioca ficou na sétima colocação.

"A expectativa é a melhor possível. Estou bastante confiante que faremos um ótimo campeonato. Eu e meus colegas de time treinamos muito para esse momento, para conquistarmos o título. É a minha quarta vez na Libertadores. A cada ano que participo, ganho mais experiência e amadurecimento", comentou Pedro Henrique, goleiro do RJPS, à Agência Brasil.

Vice-campeão brasileiro, o Fortaleza estreará na competição sul-americana. O Tricolor é um dos únicos clubes de futebol do país a contar, também, com uma equipe de power soccer - o Botafogo é outro.

"Nosso último jogo foi em 2019, então focamos nos aspectos táticos, visto que teremos um grupo reduzido, sem reservas, por logística financeira. Por ser a primeira competição internacional, a ansiedade está enorme. Temos o Darci [Júnior], que já disputou o torneio. Nossa parceria com o Fortaleza utiliza a marca do clube, buscando uma visibilidade maior da modalidade, mas ainda é um projeto embrionário. Precisamos divulgar, fortalecer, colocar os atletas em evidência", projetou o técnico do Leão do Pici, David Xavier.

"Sendo a primeira [participação], precisamos nos entregar ao máximo, com muito foco. Jogar uma competição equivalente à do futebol convencional é uma grande motivação. Sendo jogador e torcedor, a motivação é bem maior, de representar meu estado, o Nordeste e meu time do coração", completou Igor Gomes, atleta do Fortaleza.

Mira paralímpica

Os jogadores do power soccer são divididos em duas classes funcionais: PF1 (maior comprometimento físico-motor) e PF2 (maior mobilidade, grau de deficiência moderado). São quatro atletas de cada lado, sendo três de linha e um goleiro. Somente dois PF2 podem estar em quadra simultaneamente em cada equipe. As cadeiras, motorizadas, não podem superar 10 quilômetros por hora. A velocidade máxima é aferida antes de cada partida, disputada em dois tempos de 20 minutos.

A Federação Internacional de Power Soccer (Fipfa, na sigla em inglês) é responsável pela modalidade e organizadora da Copa do Mundo, realizada pela primeira vez em 2007, em Tóquio (Japão). Os EUA ficaram com o título, repetindo a dose quatro anos depois, em Paris (França). A terceira edição ocorreu em 2017, na cidade norte-americana de Kissimmee, com vitória francesa.

O próximo Mundial será em 2023, em Sydney (Austrália). Inicialmente marcado para 2021, o torneio sofreu duas alterações de data, em razão da pandemia. O Brasil não estará presente, já que terminou a Copa América de 2019, realizada no Rio de Janeiro, na quarta posição. Os três primeiros (EUA, Uruguai e Argentina) ficaram com as vagas do continente.

O power soccer é uma das 33 modalidades que se candidataram para integrar o programa da Paralimpíada de Los Angeles (Estados Unidos), em 2028. A previsão é que os esportes selecionados para os Jogos sejam anunciados pelo Comitê Paralímpico Internacional (IPC, sigla em inglês) até janeiro do ano que vem.

"A gente espera que, além de cumprir os requisitos, o power soccer tenha uma chance maior [de estar em 2028] pela Paralimpíada ser nos EUA, que é referência na modalidade, para estarmos participando com a seleção brasileira. Esperamos muito que dê certo e isso motive a ter mais equipes no Brasil, onde ainda não temos um número muito grande, além de fortalecer o continente sul-americano e dar aos atletas a chance de respirar o espírito paralímpico, que é muito legal", disse Jaime Torres, diretor de Esportes e técnico do RJPS.

Fim de ano cheio

O power soccer segue em Buenos Aires na sexta-feira (18), com o Campeonato Sul-Americano de seleções. O Brasil estreia às 10h15, diante da Argentina. Na sequência, às 11h50, enfrenta o Uruguai. Às 13h30, o jogo entre uruguaios e argentinos encerra a competição. Dos oito atletas convocados para a equipe brasileira, seis estarão na Libertadores, sendo três pelo RJPS (Pedro Henrique, Bernardo Borges e Lucas Dutra) e três pelo Fortaleza (Igor Gomes, Saymon Calista e Darci Júnior), que também cederá o técnico David Xavier.

Já em dezembro, a Associação Niteroiense dos Deficientes Físicos (Andef), em Niterói (RJ), recebe, entre os dias 16 e 17, o Campeonato Brasileiro da modalidade, que voltará a ser realizado após dois anos. Como as inscrições estão abertas até o próximo dia 30, o número de participantes ainda não está definido, mas a expectativa é que a competição reúna de três a seis equipes.

Edição: Cláudia Soares Rodrigues