Coluna - Após ouro, Brasil mira 1º título mundial de clubes no goalbal
Campeão nacional em 2019, Sesi-SP representará país nos dois gêneros
Por Lincoln Chaves - Repórter da TV Brasil e Rádio Nacional - São Paulo
Quase três meses após a inédita medalha de ouro paralímpica obtida em Tóquio (Japão), o goalball brasileiro quer novamente conquistar o mundo. A diferença é que o tradicional verde e amarelo, desta vez, dá lugar ao vermelho e preto, as cores do Sesi-SP. A partir desta quarta-feira (24), o clube paulista representa o Brasil - tanto no masculino, como no feminino - na primeira edição do Campeonato Mundial de Clubes da modalidade, que será disputado em Lisboa e Odivelas (Portugal) até sábado (27). O evento terá transmissão ao vivo pelo site oficial (confira os horários no fim do texto).m.
O torneio estava inicialmente marcado para 2020, mas foi adiado devido à pandemia do novo coronavírus (covid-19). Os times do Sesi se credenciaram ao Mundial pela conquista do Campeonato Brasileiro de 2019, mas chegam mordidos por não terem conseguido defender os respectivos títulos na edição deste ano. Entre os homens, os paulistas foram superados nas quartas de final pela Associação Paraibana de Cegos (Apace-PB). A equipe feminina foi finalista, mas perdeu da Associação de Centro de Treinamento de Educação Física Especial (Cetefe-DF) na decisão.
"Em cada jogo, a gente tenta solucionar os problemas de forma imediata. Infelizmente, nestes dois jogos, a gente não conseguiu. No masculino, concedemos muita penalidades e eles [Apace] foram muito felizes nas cobranças. Depois do jogo, tivemos uma conversa bem legal e madura, mesmo na dor. No feminino, a Cetefe começou em um nível de intensidade maior, tomamos dois gols precocemente e isso teve uma influência grande, até acertarmos o posicionamento em quadra. Derrota nunca é bom, mas elas nos trouxeram perspectivas diferentes. Fizemos as correções e faremos diferente no Mundial", comentou o técnico Diego Collates, à Agência Brasil.
Tanto no masculino, como no feminino, a disputa reunirá seis clubes, que se enfrentam na primeira fase. Os quatro melhores vão às semifinais. Entre os homens, o Sesi terá como adversários os canadenses Asa Québec e Vancouver, o belga Ha.Vi. 2 Bruxelles, o paquistanês Punjab e o português Sporting. As duas últimas agremiações também estão representadas na competição das mulheres, que, além da equipe paulista, ainda reúne a francesa Association Valentin Haüy (AVH) Lyon, o dinamarquês BSI Copenhague e o holandês Hercules.
A delegação do Sesi viajou nesta segunda-feira (22) e a expectativa é conseguir treinar em Odivelas já na terça-feira (23). A equipe masculina tem dois dos seis jogadores que defenderam a seleção masculina campeã em Tóquio: Alex Labrador e Parazinho. Este último foi o artilheiro da campanha dourada, com 26 gols. Segundo principal goleador brasileiro no Japão, com 25 bolas na rede, Leomon também estará no Mundial de Portugal, mas como rival. Ele é um dos reforços do Sporting, considerado um dos principais candidatos ao título.
"O Sporting também se reforçou com dois atletas titulares da Lituânia [bronze em Tóquio], então é uma equipe a ser batida. Mas a gente não vai medir esforços. Daremos o melhor e queremos que eles deem também, pois assim saberemos que o trabalho está sendo bem feito", projetou Parazinho, à Agência Brasil.
O elenco masculino ainda tem jogadores com passagens recentes pela seleção, como Denis. Ele, inclusive, participava da última fase de treinos da equipe nacional em 2019 quando descobriu o linfoma de Hodgkin, um tipo de câncer que tem origem no sistema linfático. Após dez meses de luta, chegando a contrair a covid-19 no período, o atleta se curou e voltou às quadras em outubro do ano passado. A convocação para Tóquio não veio, mas a possibilidade de um título mundial pode coroar de vez a recuperação.
"Eu sempre disse ao Denis que ele é muito bom, só precisava confiar mais em si. Tem uma bola pesada e arremessa sem fazer muita força. É algo natural. Graças a Deus, ele superou essa batalha [do câncer] e vejo que retornou mais maduro. Estaremos juntos, cada um na sua ala, encarando os caras de igual para igual", descreveu Parazinho, que chegou a raspar a cabeça, junto de outros jogadores da seleção, em solidariedade ao amigo e companheiro de time.
A equipe feminina do Sesi também teve duas representantes na Paralimpíada. Ana Gabrielly e Moniza fizeram parte do grupo que ficou em quarto lugar nos Jogos. Em Portugal, elas terão pela frente uma companheira de seleção: Ana Carolina, que também defenderá o Sporting. Assim como Leomon, Carol atuou pelo clube português na Superliga Europeia, em setembro. A norte-americana Amanda Dennis, principal algoz das brasileiras no Japão, é outro destaque do rival lusitano.
"[Além do Sporting] Observei duas atletas da equipe da Dinamarca que atuaram no Campeonato Europeu, uma delas é uma grande atacante. São equipes com potencial ofensivo grande, mas acho que, neste cenário, muitas vezes, a questão do dia a dia de treinamento, do entrosamento, faz muito a diferença. É bacana ter grandes atletas, mas eles não tiveram muito tempo de treino para a competição. Nossa equipe tem um entrosamento diferenciado, então acho que é um ponto positivo" analisou Collates, que será responsável tanto pelo time masculino como pelo feminino.
Apesar da camisa a ser defendida em Lisboa e Odivelas ser a do Sesi, atletas e comissão técnica sabem que representam, também, uma das escolas mais fortes do goalball. Entre os homens, o Brasil é o atual campeão paralímpico e do mundo, além de líder do ranking da Federação Internacional de Esportes para Cegos (IBSA, sigla em inglês). No feminino, a seleção ficou em terceiro no último Mundial, em 2018, batendo na trave na disputa por medalha em Tóquio. Na semifinal, contra os Estados Unidos, as brasileiras sofreram o empate a segundos do fim, perdendo nos pênaltis.
"As seleções foram muito bem na Paralimpíada, mas não é de agora. O Brasil já tem esse histórico no goalball, até pelos Mundiais. A competição será mais uma chance que teremos para mostrar como é feito o trabalho no dia a dia dos clubes, que têm outras peças, muitas delas jovens, com características similares às dos atletas que competem internacionalmente. Colocamos como meta chegarmos às duas finais", disse o técnico.
"É muito louco, as outras equipes usam o Brasil como espelho para treinarem e fazem da nossa seleção aquela a ser batida. Os times de fora sabem que eu e o Labrador somos da seleção, então sabem também que o Sesi é forte", completou Parazinho.
Jogos do Sesi no Mundial
24/11 - Quarta-feira
8h - Sesi x Ha.Vi. 2 Bruxelles (masculino)
11h - Sesi x AVH Lyon (feminino)
13h - Sesi x Vancouver (masculino)
25/11 - Quinta-feira
7h - Sesi x BSI Copenhague (feminino)
10h - Sesi x Asa Québec (masculino)
12h - Sesi x Hercules (feminino)
15h - Sesi x Sporting (masculino)
26/11 - Sexta-feira
9h - Sesi x Punjab (feminino)
12h - Sesi x Punjab (masculino)
13h - Sesi x Sporting (feminino)
27/11 - Sábado
6h e 7h10 - semifinais feminino
8h20 e 9h30 - semifinais masculino
10h40 - disputa do bronze (feminino)
11h50 - disputa do bronze (masculino)
13h - final feminina
14h10 - final masculina
Edição: Cláudia Soares Rodrigues
AGÊNCIA BRASIL - EBC