Coluna: A desordem das organizadas

13/11/2019 00h00 - Atualizado há 4 anos
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Por Sergio du Bocage - apresentador do programa No Mundo da Bola da TV Brasil. A coluna do apresentador será publicada pela Agência Brasil semanalmente às terças-feiras.  Rio de Janeiro

São muitas as versões para a origem das “torcidas organizadas” no Brasil. A primeira delas teria sido feminina, com as mulheres dos jogadores do Atlético Mineiro indo para os estádios com bandeirinhas para apoiarem os maridos. Isso em 1929. Dez anos depois, grupos de torcedores do São Paulo se reuniam para irem juntos aos estádios, prática que se estendeu a grupos do Internacional e do Fluminense.

Em 1942 surge a Charanga Rubro-Negra fundada por Jayme de Carvalho. Unia os torcedores e ainda organizava a festa, com os instrumentos musicais. O termo “organizada” aparece pela primeira vez em 1944, quando é fundada a Torcida Organizada do Vasco (TOV).

Os tempos são outros, assim como as “organizadas”. Muitas delas, inclusive, são até proibidas de irem aos estádios por conta da violência. E apesar de parecer que elas são maioria nos jogos, as pesquisas apontam que, muito pelo contrário, esses grupos formam uma parcela bem reduzida dentro do que chamamos de torcida.

O sociólogo Mauricio Murad é um especialista em estudar torcidas de futebol no Brasil. E os dados são dele. Atualmente, as torcidas organizadas totalizam em seus quadros cerca de 2,5 milhões de torcedores – se considerarmos que só Flamengo e Corinthians, juntos, têm 60 milhões de torcedores, vemos que o número realmente é pequeno. Nessas organizadas, 85% são homens e das cerca de 700 torcidas no país, 130 respondem pela maioria dos episódios de confronto.

E por que fazem tanto barulho então? Porque faltam prevenção e repressão, em especial nos jogos onde há rivalidade estadual. Basta ver os últimos episódios no Brasileirão – três brigas em Botafogo x Flamengo, Cruzeiro x Atlético-MG e Fortaleza x Ceará. Gerados pelo histórico, pelo momento dos clubes no campeonato e, acreditem, por provocações feitas antes dos jogos por dirigentes e profissionais do futebol. A mesma pesquisa diz que essa atitude acirra os ânimos – foi o que disseram 72% dos chefes dessas organizadas.

A única “boa” notícia do ano, se é que podemos falar assim, é que dos 151 episódios de violência grave registrados nas primeiras 32 rodadas do Brasileirão – isso mesmo, cinco por rodada, muitos nem noticiados pela imprensa – tivemos um caso de morte de torcedor – em 2013 foram 30.

É difícil o combate, mas é possível. Inteligência no acompanhamento das redes sociais, policiamento preventivo em locais reconhecidamente usados para a marcação de confrontos, repressão ao comércio ambulante e à venda de bebidas perto dos estádios, cadastro das torcidas e identificação no acesso aos estádios, de forma a impedir que os já punidos pela justiça possam voltar aos jogos. É caro, mas é mais barato que a repressão e os custos dos danos causados pela violência.

Edição: Verônica Dalcanal

Foto AGÊNCIA BRASIL

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