Bruna Benites busca vaga para Mundial na França

07/03/2019 00h00 - Atualizado há 4 anos
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Divulgação

O cronômetro marcava 36 minutos do primeiro tempo quando Bruna Benites desabou no gramado depois de interceptar um lançamento no meio-campo. A seleção brasileira feminina enfrentava a inglesa em amistoso, num sábado de outubro do ano passado, no Estádio Meadow Lane, em Nottingham, na Inglaterra.

Revelada no extinto Águia Dourada e projetada pelo Comercial, a zagueira e capitã do time verde-amarelo tentou voltar. Não conseguiu. O técnico Vadão colocou Daiane em seu lugar.

O diagnóstico veio depois e, com ele, a lembrança. Ruptura do ligamento cruzado anterior, desta vez no joelho direito. A lesão só trocou de lado, mas era a mesma que tirou Bruna da Copa do Mundo de 2015. A defensora do chinês Meizhou Huijun confidenciou à mãe que pensava em parar de jogar.

Passados quase cinco meses, a atleta de 33 anos faz planos para espantar o fantasma de quatro anos atrás e poder disputar a Copa do Mundo. O Mundial deste ano será na França, em junho. A seleção disputou o torneio preparatório She Believes, nos Estados Unidos, que acabou no fim de semana. Foram três derrotas em três jogos.

Em entrevista exclusiva ao Correio do Estado, Bruna Benites fala sobre os extremos da recuperação, da corrida contra o tempo para ficar à disposição da seleção brasileira e da possibilidade de título inédito do Mundial.

CORREIO PERGUNTA: Gostaria que você falasse da lesão sofrida em outubro do ano passado. O que exatamente aconteceu? Qual foi o tratamento adotado?

BRUNA BENITES: Essa lesão que eu tive agora foi no meu joelho direito, mas foi exatamente a mesma que eu tive no esquerdo. Ruptura do ligamento cruzado anterior. Para esse tipo de lesão tem que ser feito procedimento cirúrgico para fazer a reconstrução do ligamento. A diferença é que hoje o tratamento é um pouco mais longo. Em 2015, a previsão de recuperação era de seis meses. Agora aumentou um pouquinho o tempo de tratamento. Uma pesquisa recente fala que nove meses de tratamento seriam o ideal, porque se diminui em 80% o índice de relesão. Não sei qual o prazo que a gente vai trabalhar, até porque tem a questão da Copa do Mundo.

Onde você escolheu se recuperar? Está na China ou voltou para o Brasil?

Meu tratamento está sendo feito no Brasil. Estou em São Paulo (SP), tratando na clínica do Flávio [Bryk], que é o coordenador de fisioterapia da seleção brasileira. Estou nas mãos dos melhores fisioterapeutas que a gente tem no País. A gente optou por ficar aqui em vez de ir para a China. Foi uma escolha minha, até porque tenho total confiança no trabalho que está sendo feito.

Em que estágio da recuperação você se encontra agora? Que atividades está liberada a fazer e qual a previsão para voltar a treinar e jogar?

Agora estou com quatro meses e meio [de tratamento]. Estou bem, fazendo de tudo. Ainda é cedo para falar. A gente ainda não tocou nesse assunto. Eu não quero também apressar as coisas. Nós optamos por fazer o tratamento da maneira que tem que ser feito, tudo bonitinho. E vamos esperar mais um pouquinho para ver como é que eu vou estar, como que o meu corpo vai responder, e se eu estiver bem vai ser uma decisão do departamento médico da seleção de me levar ou não para a Copa.

Acredito que no quinto mês de cirurgia tudo que eu estiver fazendo vai ser voltado ao retorno. Campo, bola. Agora estou fazendo bastante trabalho de força. Neste momento é muito importante estar com a musculatura boa, forte. Estou fazendo bastante trabalho de coordenação, já com a bola. Faço alguns trabalhinhos com passe, cabeceio, mas, por enquanto, não é nada muito intenso.

Em relação à volta, no sexto mês já é teoricamente quando eu posso fazer tudo. Treinar, fazer todo o trabalho com o grupo. Jogar já é um pouquinho mais para frente. Acredito que, sei lá, com oito meses já devo estar nessa transição, pensando em ir para a parte de jogo. Como tem a Copa do Mundo, é necessário ter uma conversa de todo o departamento médico para ver o que vai ser feito. Já que é uma competição bastante importante, talvez até um retorno um pouco antes do previsto. Em vez de nove meses, sete meses ou sete para oito meses.

Não há como não associar a lesão do ano passado com a de 2015. Aquela contusão inclusive te tirou da Copa do Mundo daquele ano. Você também fez essa associação? Como tem sido superar outra vez um problema grave?

Nunca é fácil para um atleta ficar de fora de atividade. Da outra vez, acho que foi um pouquinho pior, porque faltava um mês só para o Mundial. Minha cabeça estava totalmente focada já na competição, já vinha trabalhando bastante para isso, estava em uma reta final. Foi um pouquinho mais difícil para mim mentalmente superar esse tipo de situação tão próximo a algo que eu queria tanto.

Dessa vez, como eu já tinha a experiência da primeira lesão, é lógico que passa um filme na cabeça. Saber que eu teria que passar por aquilo tudo de novo. O tempo longe. A dor. A superação não só física, mas principalmente mental, que é o mais difícil. Você passa por uma cirurgia, perde tudo o que você tinha em relação à parte física, questão muscular, mas isso a gente recupera. O problema maior é a cabeça. Todo dia você tem que brigar contra a sua mente. Essa é a parte mais difícil. Estar sempre olhando para frente, sempre pensando que o dia seguinte vai ser melhor que o atual.

Quando você está em uma situação difícil, às vezes, passa pela cabeça desistir, parar de jogar. Eu estou agora com 33 anos. Lembro que o meu primeiro pensamento, quando machuquei dessa vez, inclusive eu falei para a minha mãe: “Se eu tiver que operar de novo, eu vou parar de jogar”. Foi a primeira coisa em que eu pensei. Mas é lógico que naquela situação está tudo muito recente, é difícil ser racional. Depois que a gente vai assimilando as coisas, as ideias vão entrando no lugar, eu pensei melhor e agora, sim, meu único intuito é recuperar, estar bem e voltar a fazer o que eu gosto.

A Copa do Mundo deste ano começa em junho. Parece que há tempo para você voltar aos gramados e ficar à disposição do técnico Vadão para o Mundial. Você tem esse objetivo em mente?

É lógico que qualquer atleta sonha em estar numa Copa do Mundo, representando o País. Para mim, isso não é diferente. Mas estou com meus pés no chão. Eu tenho consciência da situação em que me encontro. Estou “correndo contra o tempo”, mas procurando manter os meus pés no chão. Lógico que eu ficaria muito feliz, estou trabalhando muito para fazer tudo dar certo, para dar tempo. Mas caso não aconteça eu não encararia como uma frustração. Eu estou procurando fazer o meu melhor para que dê certo. Mas, se não der certo, eu prefiro acreditar que Deus quis assim. Da outra vez foi dessa forma.

Como você vê o momento da seleção brasileira e como acredita que a equipe chegará para a Copa do Mundo? O título inédito é uma meta possível?

Copa do Mundo é uma competição que todo mundo entra para ganhar. É uma competição muito difícil, mas o Brasil é o Brasil. Se a gente entra numa competição não acreditando no título, não tem por que a disputar. A gente tem jogadoras de qualidade, temos trabalhado bastante. E quem trabalha sonha em alcançar objetivos. Acredito sim que um título é possível, porque eu conheço a qualidade da nossa equipe. Estou ali há um bom tempo e sei do potencial de todas. Um passo de cada vez. Entrar na competição focadas e ir pensando de adversário por adversário. Ganhar o primeiro jogo, o segundo jogo e assim sucessivamente até chegar à grande final e conseguir levantar o troféu.

Por JONES MÁRIO

Foto: Divulgação / CBF

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