Quem manda no dólar?
Em plena sexta-feira 13 o dólar resolveu assustar mais que o lobisomem. Logo na abertura do mercado ele ultrapassou a casa dos R$ 3,20, desafiando investidores e a opinião pública. Será que é tudo culpa da crise nacional? A resposta é não, mas isso não isenta o Brasil de uma boa parcela de responsabilidade pela desvalorização mais acentuada do real frente ao dólar.
A moeda americana está se valorizando contra a maioria das moedas no mundo numa velocidade que surpreende até analistas estrangeiros. Mesmo surpresos com a intensidade, ninguém pode dizer que não esperava este movimento. Enquanto os EUA inundavam o mundo com dólares (tsunami monetário), ninguém reclamou. Ficou mais barato se endividar na moeda estrangeira e importar, e a distribuição de investimentos pelo planeta cresceu.
No caminho de volta à normalidade, a economia americana vira um ímã que chama de volta todos os seus dólares espalhados e escondidos por aí. Além de serem sugados pela força da recuperação dos EUA, os investidores estão correndo de ativos arriscados, países com baixa credibilidade, ambientes desequilibrados e, principalmente, sem horizonte. Qualquer semelhança com o Brasil não é mera coincidência.
“O real é a moeda com o pior desempenho de todas. Essa desvalorização de agora era necessária e devia ter começado antes. A política de intervenção do Banco Central atrasou essa volta e, quanto mais demorou, mais desequilíbrios causou. Agora, que precisaria intervir com mais agressividade, ele ficou preso numa briga de gato e rato com o mercado”, disse ao G1 um economista brasileiro de um grande fundo internacional.
Para o economista, por enquanto, o BC está de “rato” nesta briga com o mercado. A forte procura por proteção contra novas altas do dólar tem provocado uma dinâmica “desestabilizadora” no mercado de câmbio, o que não deveria ser aceito pela autoridade monetária.
“O BC precisa comprar tempo usando as armas que ele tem: intervenção no câmbio e juros. Mas não no ritmo que ele fez até agora. É como aquele camarada que só toma homeopatia por princípio e quando o bicho pega, ele vai direto para a cortisona. Não é um processo suave e quanto mais eles se recusarem a fazer, menos eficiente fica a “cortisona” da emergência”, pondera a fonte.
O dólar mais caro favorece a indústria, a exportação, a competitividade, além de equilibrar as contas externas. Mas o preço desse benefício chega numa hora que o Brasil não tem como pagar: a inflação. A taxa de juros mais alta (maior do planeta) tem ajudado a segurar investidor aqui, mas deixou de atrair gente nova porque os riscos subiram muito.
Ainda estamos longe de prever o balanço final desse confronto entre o Brasil, seus ativos e o mercado. Quem manda no dólar quer que ele fique mais caro. Quem manda no real quer muitas coisas, mas ainda não se decidiu por onde começar. Até porque está difícil mesmo apontar um caminho que atraia seguidores.