Protesto ganhou força, levou caos e depois rachou; relembre a greve dos caminhoneiros em Dourados

31/05/2018 00h00 - Atualizado há 4 anos
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Divulgação

Um dia após as manifestações terem começado em vários estados do país e em Mato Grosso do Sul, Dourados contou com o início de bloqueios, no dia 22 de maio. Centenas de caminhoneiros que exigiam redução no valor cobrado no diesel. Eles se concentraram por nove dias, em especial em três pontos da cidade, sendo dois destes na BR-163, km (256) Trevo da Bandeira, km (266) Posto da Base e o terceiro na rua Coronel Ponciano, próximo ao trevo de acesso ao jardim Guaicurus e outros, sendo “fortalecidos” com apoio de empresários e da população em certos momentos, no entanto, após o anúncio do governo quanto a algumas medidas de melhorias para classe, bem como de autorização de uso das forças federais, caso o movimento seguisse, o ato foi “rachando” no município e os pontos foram totalmente liberados nesta quarta-feira (30). Ocorreu o desabastecimento de vários produtos na região. 

O Dourados News acompanhou as ações desde o primeiro dia no município. Inicialmente o número de adeptos ao ato já era considerável, bem como o de caminhões que ficavam estacionados às margens da rodovia, ambos ‘cresceram’ nos primeiros dias e centenas levantavam a bandeira da categoria.

No quarto dia de manifesto no município, por exemplo, algumas categorias de trabalhadores se uniram ao aos manifestantes, como por exemplo produtores rurais e trabalhadores com transporte de vans.

Estes estacionaram veículos como maquinários agrícolas nos pontos de bloqueio como forma de também sinalizar a luta. Nesta data (25/05), em todo Mato Grosso do Sul, já eram 37 pontos de bloqueio.

O posicionamento do presidente Michel Temer também no dia 25, foi de autorização do uso de forças federais de segurança para liberar a rodovia. A medida gerou polêmica em todo o país. A categoria seguiu com o movimento mesmo diante de tal discurso. 

No dia 26, manifestantes e PRF (Polícia Rodoviária Federal) negociaram retirada dos veículos da BR-163. 

Com isso, motoristas estacionavam nas quadras próximas às rodovias e de estabelecimentos do entorno, e, mesmo assim se mantiveram nos pontos de bloqueio, inclusive com tendas, utensílios para cozinhar e doações de populares de alimentos e água como apoio para prosseguirem. 

Poucos dias após as atividades da categoria, Dourados já contava com o desabastecimento de produtos em mercados, postos de combustível e distribuidoras de gás.  

A gasolina começou a faltar em alguns postos e na sexta-feira (25/5) já não se encontrava o produto na cidade. Quando alguns caminhões com o combustível adentraram à cidade, o alvoroço foi grande.

Filas extensas, preço no alto e inclusive comercialização ilegal do produto foram parte do cenário local. 

Nos mercados, o setor de frutas, verduras e legumes foi o principal a sofrer impactos. Os produtos ficaram em falta e quando encontrados notava-se aumento nos valores. 

As distribuidoras de gás de cozinha logo foram atingidas com o desabastecimento. Conforme mostrado pelo Dourados News, o produto virou “raridade”. Filas nos estabelecimentos quando o mesmo era reposto e até mesmo distribuição de senha ocorreram em estabelecimentos de vários bairros. 

Transporte coletivo

O transporte coletivo em Dourados foi afetado nesses dias. A empresa responsável afirmou que foi necessária a  redução de cerca de 25% da frota de atendimento à população. 

Propostas e resistência 

O “caos” em todo o país fez com que o Governo Federal sinalizasse algumas ações para a classe, as quais foram de imediato consideradas insuficientes por parte dos trabalhadores. A sinalização foi de zerar a alíquota do Pis/Cofins e da Cide (Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico) durante 60 dias, o que provocaria um desconto de R$0,46. 

Produtos escoltados

Para amenizar a situação do desabastecimento, Dourados recebia caminhões de produtos escoltados pela PRF (Polícia Rodoviária Federal). 

Adesão

Os manifestantes fizeram intenso uso de redes sociais para chamar a população e diversos setores em apoio a causa.  Com o discurso de uma medida “temporária” pelo Governo Federal, muitos se uniram a causa. 

Em Dourados, o comércio uniu entidades e pediu aos lojistas que fechassem as portas por uma ou duas horas durante a tarde de segunda-feira (28). Grande parte dos lojistas da área central, atenderam o chamado. Após “lacrar” os estabelecimentos, eles foram as ruas em caminhada com faixas e cartazes pela pauta dos caminhoneiros, melhor política, melhores preços, etc. Populares somaram na caminhada, conforme foi acompanhado pelo Dourados News. 

“RACHA”

Na terça-feira (29), informações colhidas com manifestantes nos pontos de bloqueio em Dourados apontavam para o término da ação. A afirmação foi feita também pelo inspetor Waldir Brasil, responsável pela Delegacia da Polícia Rodoviária Federal em Dourados. 

Posteriormente, outra parte de manifestantes começou a rebater tal informação e dizia que ficaria nos pontos. 

Conforme mostrado pelo Dourados News, a falta de “um porta voz oficial” da categoria, gerava confronto de informações. Sobre o fato, a PRF apontava que a categoria estava dividida, já que se tinha motoristas a favor e contrários ao término.  Com isso o volume de pessoas nas ações começou a diminuir. 

Liberações 

Nesta quarta-feira (30), caminhoneiros começaram desbloquear trechos em Mato Grosso do Sul. Campo Grande registrou fim dos atos e apenas no Posto Caravágio, na BR-163, o ato seguiu por mais tempo. 

Desfecho

Em Dourados, as liberações bloqueios ocorriam no final da tarde desta quarta-feira (30). 

O Dourados News foi até dois pontos que concentravam centenas de manifestantes e constatou o fato. No trevo da bandeira, tendas eram desmontadas e a retirada entrava em fase final. 

No Posto da Base, já não se tinha vestígios do manifesto nas proximidades. 

Definições

Os “acertos” com a classe ficaram da seguinte forma: O Governo Federal concedeu isenção de tributação que impactaria em R$ 0,46 no valor do produto por 60 dias, o que equivale ao tributo zerado de Cide, Pis/Cofins. Hoje pela manhã, o governador Reinaldo Azambuja (PSDB) anunciou que o imposto sobre o combustível teria alíquota diminuída, passando dos atuais 17% para 12%.

Por Gizele Almeida - Dourados News