Sem dipirona e bromoprida, rede pública não tem remédios básicos

24/01/2023 09h12 - Atualizado há 1 ano

A Secretaria Municipal de Saúde de Campo Grande informou que pelo menos 15% dos medicamentos ofertados na rede de atendimento da Capital estão em falta nos postos de saúde

Cb image default

Pacientes relataram que a Unidade de Saúde da Família no Nova Bahia também tinha falta de medicamentos básicos - Gerson Oliveira

Não é de hoje que moradores de Campo Grande convivem com a falta de remédios básicos na rede pública de saúde. Conforme apurado pelo Correio do Estado, várias Unidades Básicas de Saúde (UBSs) enfrentam desabastecimento de dipirona, bromoprida e alguns analgésicos.

A dipirona é aplicada como analgésico, para tratar dores moderadas ou intensas, e como antitérmico, para baixar febres a partir de 38ºC.

Na Unidade Básica de Saúde da Família (UBSF) Aero Rancho, um morador, que preferiu não se identificar, relatou que, ao tentar pegar os medicamentos que constavam na receita médica de sua mãe, foi informado que os remédios estavam em falta e que ele teria de arcar com a compra em uma rede particular.

“Realmente faltam muitos medicamentos, inclusive o mais básico, que é a dipirona. Eu estava com a receita para dipirona, paco [analgésico] e bromoprida, receitados para a minha mãe que está com câncer, e eles não tinham nenhum dos remédios na unidade”, salientou.

Ao questionar se em outras UBSFs encontraria os fármacos, ele foi informado que há meses existe a falta de dipirona, que, segundo a funcionária da unidade de saúde do Aero Rancho, é um problema por falta de compras da Secretaria Municipal de Saúde (Sesau).

“É um gasto que pesa no nosso orçamento, porque, além de arcar com os medicamentos, um paciente com câncer ainda demanda uma dieta e uma alimentação específicas, que também são caras”, disse o morador.

Na UBSF Dr. Ademar Guedes de Souza – Mata do Jacinto, enquanto aguardava por exames na sexta-feira (20), a estudante A. B., de 22 anos, relatou que por diversas vezes presenciou pessoas em busca dos medicamentos saírem da unidade de saúde sem os fármacos.

“Enquanto estava na fila para ser atendida, percebi que todo mundo que chegava com a receita em mãos era informado que a farmácia estava fechada naquele dia e que precisaria ir até a Unidade de Pronto

Atendimento [UPA] do Nova Bahia atrás do medicamento”, salientou a estudante, que preferiu ter a identidade preservada.

Na UPA Leblon, um paciente que preferiu ter a identidade preservada disse à reportagem que diversos medicamentos estão em falta na unidade de saúde, principalmente a dipirona.

Fontes ouvidas pela reportagem na UBS Coronel Antonino confirmaram a falta de dipirona em gotas.

Pacientes que tentaram pegar o medicamento relataram que voltaram para casa de mãos vazias.

Ao lado da UBS, na UPA Coronel Antonino, a equipe do Correio do Estado conversou com uma idosa que estava acompanhando sua neta no atendimento médico. Ela relatou que no local não conseguiu receber dipirona em gotas, paracetamol e bromoprida.

“Além desta segunda-feira, eu já tinha tentado conseguir os remédios no fim de semana. E mais uma vez fui informada que eles estão em falta”, destacou a idosa.

Uma funcionária da UPA Nova Bahia, que terá a identidade preservada, afirmou que “em todos os postos de saúde há falta geral de medicamentos. Temos poucos remédios para entregar”.

Entre os remédios básicos que ela tinha à disposição, a profissional destacou que contava apenas com o paracetamol.

15% EM FALTA

Em nota, a Sesau informou que, atualmente, a rede municipal de saúde tem 85% do estoque de medicamentos abastecido.

Conforme a secretaria, existem algumas faltas pontuais, “por conta da indisponibilidade do produto ou da matéria-prima no mercado e da estagnação no processo de compra, em razão de pedidos de realinhamento de preço”.

A Sesau alega ainda que, nos casos em que não houve o cumprimento do prazo de entrega por parte do fornecedor, a secretaria chegou a entrar com ações judiciais contra as empresas, no intuito de garantir o abastecimento dos medicamentos.

Segundo a Sesau, “o abastecimento de medicamentos no município tem sido regular desde 2017, a partir da reorganização dos processos de compras e empenho da gestão.

No ano anterior, 2016, o estoque de medicamentos estava abaixo da chamada reserva técnica, com menos de 20% dos itens disponíveis”, finalizou a nota.

Ao Correio do Estado, a secretária-adjunta de Saúde, Rosana Leite de Melo, destacou que vai apurar junto à Sesau a falta de medicamentos relatada pelos pacientes.

“Tivemos uma reunião técnica na sexta-feira [20] e, até então, não haviam apontado essa situação para nós. No entanto, eu e minha equipe vamos verificar a falta desses medicamentos”, disse Rosana.

Saiba: De acordo com a Associação Brasileira da Indústria de Insumos Farmacêuticos (Abiquifi), o Brasil produz, atualmente, apenas 5% dos ingredientes necessários para a produção de medicamentos.

MARIANA MOREIRA E JUDSON MARINHO

CORREIO DO ESTADO