Qualidade de vida e preço do aluguel atraem comércios para os bairros

26/12/2022 09h20 - Atualizado há 1 ano

A migração resulta em esvaziamento de salões comerciais; diante das mudanças, todo o padrão de consumo das famílias passa por alterações que vão de economia no deslocamento a ganho de tempo

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Marcelo Victor

Buscando melhores condições nos preços de aluguéis, bem como mais qualidade de vida, com trabalho próximo ao lar, os comerciantes têm se interessado cada vez mais pela migração do centro de Campo Grande para os bairros.

Tal realidade resulta em um centro com mais portas fechadas e bairros cada vez mais movimentados, algo que muda toda a dinâmica de circulação de dinheiro na Capital.

O deslocamento dos estabelecimentos é uma realidade cada vez mais frequente, tendo ganhado mais força principalmente durante a pandemia, período em que as pessoas se adaptaram mais aos recursos de compras por meios digitais, conforme o presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Campo Grande (CDL), Adelaido Vila.

Para ele, acontecem transformações no varejo que são influenciadas principalmente pelo encurtamento do tempo das pessoas.

“Não faz sentido levar uma hora para fazer algo no centro quando é possível fazer o mesmo a uma quadra de casa ou até mesmo pela internet, em cerca de 20 minutos ou menos”, pontua.

Além disso, ele destaca a questão dos aluguéis mais em conta, bem como mão de obra mais acessível, tendo em vista que o trabalhador não precisa mais gastar tanto tempo no deslocamento para o serviço, o que pode resultar não só em qualidade de vida, mas também em economia financeira com combustível ou transporte público.

A Associação Comercial e Industrial de Campo Grande (ACIGG) reforça a confirmação dos motivos que levam os empreendedores a abrir comércios em bairros, entre os quais estão o custo mais alto de se ter um comércio no centro e a mudança no perfil dos consumidores.

“Para eles, é muito mais cômodo consumir na comunidade sem precisar percorrer longas distâncias e, muitas vezes, há também a questão do relacionamento, tendo em vista que muita gente se conhece”, frisou a ACICG em nota ao Correio do Estado.

Diante de tal cenário, têm sido realizados estudos para confirmar se há mais fatores resultando em tal mudança, bem como ações para fomentar a migração.

A exemplo, atualmente, a Associação possui um projeto que leva algumas capacitações aos bairros, algo que tem sido cada vez mais recorrente e realizado não somente pela ACICG, mas também por entidades como o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), bem como pelas próprias associações de moradores dos bairros.

COMERCIANTES

Um desses exemplos é a existência de uma unidade do Sebrae no Bairro Nova Lima, localizado a cerca de 12 km do centro. Pedro Domingos, presidente da Associação de Moradores do local, explica que a região foi a primeira no País a receber uma unidade como essa, algo realizado com base em estudos e entrevistas com os moradores.

Hoje, a região que compreende o Grande Nova Lima possui cerca de dez mil comerciantes, área que inclui bairros como Iguatemi, Jardim Anache, Colúmbia, Vida Nova, José Tavares do Couto, Oscar Salazar, entre outros.

“Alguns desses comerciantes daqui já trabalharam no centro, muitos dos quais estão localizados na principal rua de comércios do bairro, a Jerônimo de Albuquerque”, disse.

Um desses comércios que deixou o centro rumo ao bairro é o Mix Lanches. O proprietário, Erlon Bordon Lopes, 47 anos, está com o ponto no Nova Lima há quatro anos.

“No bairro, é muito melhor, a gente vê um lucro um pouco melhor, sabe. Ainda mais alimentação, o ramo que normalmente sempre tem. Mesmo tendo vários restaurantes nessa rua, tem cliente para todo mundo”, relata o empreendedor.

Ao andar pelo bairro, é possível ver muitas construções, bem como um comércio pujante e crescente. Há mercados, feiras, farmácias, bancos, restaurantes e comércios dos mais diversos gêneros.

“Hoje, quem está aqui na região do Nova Lima não sai mais para fazer coisas do cotidiano. Além disso, vemos que as lojas daqui têm mais de dez anos, fora essas pequenas, que estão entrando no comércio agora”, acrescentou o presidente do bairro, Pedro Domingos.

QUALIDADE

Para uma das moradoras do Nova Lima, a força do comércio gerou muito mais qualidade de vida. Patrícia Bonfim, 29 anos, trabalha no comércio mais próximo de casa há quatro anos, após já ter atuado em lojas do centro da cidade.

“Facilita muito a gente não precisar se deslocar longe, tendo as coisas mais próximas. A gente tem lotérica, mercados, lojas de roupas, eu trabalho em uma loja de perfumaria e decoração, então fica bem melhor para todo mundo”, disse.

Em outra região da cidade, na Vila Nasser, o comércio de bairro também tem mudado a vida de mais pessoas. Uma delas é Juliana Batista, 36 anos, sócia e proprietária do salão de beleza Luxo de Mulher, Pele e Unhas, localizado na Avenida Tamandaré.

Ela e mais duas colegas dividem custos e funções no empreendimento, que existe há dois meses.

O bairro, que cresce tanto em habitação quanto no ramo comercial, recebeu recentemente, na respectiva avenida, a construção de muitas salas e prédios novos, os quais já estão todos ocupados por comerciantes.

“Abrimos aqui considerando que até pouco tempo atrás muitas dessas salas estavam fechadas. A gente ficou analisando bastante e vimos que tem muito fluxo dos moradores da região. O movimento é bem grande, graças a Deus, acredito que para todo mundo aqui está ficando bom, o pessoal do bairro vem muito, as meninas todas vêm aqui, dos condomínios e das casas”, relata a empresária.

Ela ainda destaca o quanto o preço do aluguel foi um diferencial, muito abaixo do que ela teria de custo em uma região mais central. Sobretudo após declarar falência de um outro empreendimento durante a pandemia, Juliana demonstra estar bastante otimista com o novo cenário.

DIGITALIZAÇÃO

Com relação à diminuição do movimento de pessoas no centro da cidade. O presidente da CDL, Adelaido Vila, explicita, ainda, o quanto a bancarização digital afetou tal questão.

“Antes, a necessidade de ir presencialmente aos bancos obrigava as pessoas a se dirigirem ao centro pelo menos uma vez ao mês”, destaca.

Entretanto, os bancos têm se aproximado dos bairros e, sobretudo, a maior parte dos serviços é realizada de forma totalmente digital.

Somado a esse fator, o especialista conta que o perfil do consumidor também mudou, e a população em geral realiza muito mais compras pela internet, dirigindo-se ao comércio presencial, muitas vezes, apenas após decidir o que quer já pelo site.

Desse modo, ele frisa a importância de haver uma revitalização do centro, levando em consideração os novos estilos de vida e hábitos de consumo, pois a tendência, conforme a realidade atual se encaminha, é de que cada vez mais o comércio migre do centro para os bairros. 

VALESCA CONSOLARO

CORREIO DO ESTADO