Prefeitura retira moradores de favela à beira de rio

11/05/2022 09h42 - Atualizado há 1 ano

A ação da Sisep na Ernesto Geisel aconteceu em parceria com a Guarda Civil

Cb image default
Equipes da Sisep durante remoção de estruturas de madeira dos barracos às margens do córrego - Gerson Oliveira

NATÁLIA OLLIVER

Ontem, a Prefeitura de Campo Grande efetuou o desmanche de moradias improvisadas feitas por pessoas em situação de rua. Os imóveis estavam localizados na Avenida Ernesto Geisel, às margens do Córrego Anhanduí.

A ação aconteceu quase em frente ao Ginásio Poliesportivo Avelino dos Reis (Guanandizão), sentido centro/bairro. Foi neste local onde a equipe de reportagem do Correio do Estado encontrou o morador em situação de rua Gilmar dos Santos Gonçalves, 50 anos.

Santos, que trabalha com reciclagem de materiais que encontra nas ruas da Capital, reside há anos no local. Ele revela que os agentes da Secretaria Municipal De Infraestrutura e Serviços Públicos (Sisep), encarregados de realizar a desocupação, pediram ao morador para que ele deixasse a área improvisada.

“Eu trabalho 24 horas e moro aqui na área verde do córrego. Eles falaram que tinham que desmanchar os barracos ao lado do rio. Mas aqui é uma área verde, não tinha necessidade. Eu não roubo, não apronto, só trabalho”, pontuou.

A operação foi realizada ainda em parceria com a Guarda Civil Metropolitana (GCM). A equipe relatou que não houve problemas durante a operação e que os moradores agiram pacificamente.

De acordo com o titular da Sisep, Rudi Fiorese, o departamento participou da ação apenas com a mão de obra e oferta do transporte do material coletado. “Recebemos o pedido para remover esses restos de barroco, mas é sempre uma ação coordenada pela Secretaria Municipal de Assistência Social (SAS) e a Guarda Civil Metropolitana”, disse.

A Secretaria Municipal de Assistência Social alegou que não ter recebido informações sobre a ação e ressaltou que não participa de “operações” do gênero.

“A SAS não faz ações nesse sentido. A única coisa que fizemos hoje na Ernesto Geisel foi oferecer acolhimento a uma família indígena. No caso, ela recusou o acolhimento. Foi o único serviço que fizemos. Esse desmanche ou limpeza não chegou para nós”, afirmou a pasta.

A SAS informou ainda, que realiza abordagens diárias em vários pontos da cidade, por meio de apurações ou denúncias de moradores. “A gente vai nesses locais e oferece nossos serviços. Ela pode aceitar ou não”, ressaltou.

DESTINO

De acordo com os registros da Secretaria Municipal de Assistência Social, de 2017 ao início de abril deste ano, foram realizados 14.913 atendimentos no Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua (Centro Pop) e 16.092 por meio do Serviço Especializado em Abordagem Social (Seas).

A Capital sul-mato-grossense oferece alguns destinos à população em situação de rua, entre elas, às unidades de acolhimento institucional para adultos e famílias, as chamadas Uaifas.

Além dessas, o município conta com uma rede socioassistencial parceira, responsáveis por acolher pessoas em vulnerabilidade social, na modalidade: casas de passagem.

VIZINHOS

Os moradores do bairro ao entorno do córrego, que preferiram não se identificar, relataram que à noite o local é barulhento e perigoso.

“Sinceramente, é muita gritaria de madrugada. É gente pedindo socorro, e não sabemos se são as próprias pessoas que moravam nos barracos. Já roubaram a minha casa, e, para nós, a saída deles será melhor”, frisou.

De acordo com o grupo de pequenos empresários, à noite chegam a passar inúmeros usuários de drogas próximo às margens do córrego. “Passa muito usuário de drogas desde que tiraram eles da antiga rodoviária. Infelizmente, não dá para diferenciar eles de pessoas que estão aí e não usam nada”, ressaltou. 

CORREIO DO ESTADO