Imóveis tombados da Capital estão abandonados ou deteriorados
São 19 imóveis tombados e quatro em processo de tombamento no perímetro urbano de Campo Grande
NATÁLIA OLLIVER
Campo Grande tem um patrimônio cultural material composto de 19 imóveis tombados em perímetro urbano e mais quatro em processo de tombamento.
Alguns estão abandonados e outros estão se deteriorando. O município, no entanto, ainda estuda a restauração dos prédios, porém, sem projetos específicos, tampouco verba.
Ao todo, são sete estruturas de caráter público municipal já tombadas, mais os canteiros centrais da Avenida Mato Grosso; canteiro central da Avenida Afonso Pena e a uma árvore localizada na Rua da Paz com a Rua Rio Grande do Sul. Na conta também entram os seis bens particulares registrados.
O Correio do Estado percorreu alguns imóveis e constatou que seis estão abandonados ou deteriorados, entre públicos e privados, tombados e em processo de tombamento. As estruturas correspondem à Morada dos Baís, ao Museu José Antônio Pereira, ao Colégio Oswaldo Cruz, ao Sítio Histórico da Ferrovia, à Residência dos Pedra e ao Horto Florestal.
No Sítio Histórico da Ferrovia, apesar das paredes pintadas, os bancos já não têm assento e a cobertura do telhado da estação foi retirada.
Em processo de tombamento estão, talvez, os dois locais mais deteriorados, que correspondem à Residência dos Pedra e ao Horto Florestal. No primeiro, no mês passado, reportagem do Correio do Estado chegou a ver usuários de drogas ocupando o local.
Já no caso do Horto, o espaço hoje é muito diferente do que já foi, e o abandono é notório.
Na casa histórica dos Baís, apesar de toda a parte externa ter sido restaurada pelo Sesc Cultura quando este cuidava do local, a revitalização completa ainda está em processo de análise pelo município e, embora não esteja degradada, se enquadra no âmbito de desamparo.
O imóvel foi desocupado em junho de 2021, quando a empresa deixou a antiga residência de Lídia Baís, após seis anos de uso, em decorrência do cenário pandêmico causado pela Covid-19.
Hoje, ao lado do local funciona a Casa do Artesão, outro imóvel tombado que está sendo restaurado, desta vez pelo Estado. A presença dos funcionários, no entanto, não inibe os furtos. Em janeiro, a edificação teve tampas de bueiros, fios e grades de proteção dos refletores levados. Até o momento não foram restituídos.
Um funcionário da Casa do Artesão, que não quis ter seu nome divulgado, relatou que o roubo ocorreu há meses e que a prefeitura está ciente.
“Além das tampas de bueiro, teve até furto de fios e do cabo do hidrômetro. O local fica muito próximo da antiga rodoviária”, relatou, referindo-se aos usuários de drogas presentes nos arredores. Segundo relatos, o local também está sendo usado como mictório pelos moradores de rua.
Fernando Batiston, chefe da Divisão de Patrimônio Cultural e Natural da Secretaria Municipal de Cultura e Turismo (Sectur), afirmou que a pasta não está inerte e há estudos sobre a revitalização completa do local.
“Desde que o Sesc saiu, estamos vendo a questão da Morada, de realmente readequar. Temos que ver a questão do acervo. Tudo isso está sendo estudado, a gente também não pode deixar aquilo parado, por isso a Casa do Artesão foi pra lá. Não paramos de fazer as coisas lá dentro”, explicou.
De acordo com Batiston, o local deve ser o próximo a ser recuperado. Entretanto, ainda não há prioridade entre os imóveis, tampouco uma data prevista.
“As revitalizações que podemos fazer são as de carácter público. A prioridade é quando temos um projeto feito, um recurso captado. Não tem nenhum projeto, nenhuma verba, então não vamos criar expectativas”, pontuou.
O funcionário de patrimônio acrescenta que existe um grupo técnico formado pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Planejamento Urbano (Planurb), Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano (Semadur) e Secretaria Municipal de Cultura e Turismo (Sectur), sob a direção da Planurb, para tratar do assunto.
“Ela vem construindo diretrizes para a regulamentação do Plano Diretor de Campo Grande, no que tange às limitações protetivas fornecidas aos bem tombados, aos protegidos e aos entornos. Inclusive para regulamentar descontos no IPTU dos bens protegidos, conforme sua condição de preservação”, finalizou.
MUSEU JOSÉ ANTÔNIO
A casa do fundador de Campo Grande, que se tornou o Museu José Antônio Pereira, não recebe uma revitalização completa há muito tempo. Em frente ao imóvel consta uma placa com os dizeres “restauração inaugurada em 26 de agosto de 1999”.
Administradora do local, Nayara Campos ressaltou que os reparos são feitos de maneira pontual pelo caseiro.
“O que fazemos é um ‘tapa-buraco’, vamos dizer assim. Tem uma parede caindo, mas que já vai ser arrumada. O estábulo foi pintado tem pouco tempo. Tudo é feito pelo caseiro,” pontuou.
Além disso, o local não possui segurança. A funcionária revelou que se preocupa com a situação do museu em virtude da presença de muitos visitantes e das pessoas que utilizam o espaço para o lazer.
“Isso não é só um patrimônio, virou um parque. O que é ruim, porque não tem guarda para cuidar do acervo. Esses dias flagrei uma criança pegando um dos itens para brincar lá fora. Falamos para a prefeitura liberar o espaço da grama e deixar a parte da casa fechada, porque as pessoas ficam ali com a família”, disse.
Segundo Campos, a fiscalização do local é feita pelos próprios funcionários, que se dividem em plantões aos fins de semana, mas, por conta do fluxo de pessoas, não é suficiente para guardar o bem material.
COLÉGIO OSWALDO CRUZ
Outro imóvel tombado e que ainda não foi revitalizado completamente é o antigo Colégio Oswaldo Cruz, localizado na Avenida Noroeste. A estrutura está sendo revigorada por iniciativa privada. O local será utilizado pela Santa Casa de Campo Grande como Escola da Saúde.
As aulas e os cursos de capacitação voltados à área da saúde deveriam ter sido iniciados em junho deste ano. Mas até o momento a estrutura não está finalizada.
A arquiteta restauradora responsável pelo projeto, Perla Larsen, afirmou ao Correio do Estado que a parte interna do imóvel está quase pronta.
“O imóvel estava bem deteriorado. A obra não está parada, está entapumada na frente, mas não está parada. O que foi feito é que dividiram a obra em três partes. Na primeira, foi feita toda parte de cobertura, porque tinha muito vazamento dentro. Nós conseguimos um Alvará emergencial, foi substituído todo o teto por um igual ao original, com telhas francesas novas”, pontuou.
O gerente de Infraestrutura da Santa Casa de Campo Grande e fiscal da obra, Diogo Alves Ribeiro, contou que a segunda etapa foi iniciada em agosto e que a construtora teria até maio de 2022 para conclusão.
Ele reafirma que a obra está aguardando a liberação de recursos para dar início à terceira e última etapa.
“Se tudo der certo, a previsão é ainda este ano inciar a terceira etapa, que tem estimativa de oito meses de obra até a entrega total. Ainda não temos uma data certa de início, pois dependemos da liberação de recurso para darmos andamento”, completou.
CORREIO DO ESTADO