Grávida perde bebê em meio a despejo da prefeitura
Gestante estava com quase quatro meses; marido alega que morte do filho foi devido ao estresse sofrido no processo
ANA CLARA SANTOS, NATÁLIA OLLIVER
Após desocupação forçada de moradores que ocupavam uma área pública no bairro Los Angeles, nesta segunda-feira (13), ex-residentes alegam terem perdido filho, ainda na barriga, devido a estresse sofrido pela mãe durante o processo de desocupação dos barracos. Ao todo 70 famílias foram despejadas.
Josenei de Araújo da Silva, de 26 anos, relatou que a esposa Welica Peres Vitória Martins, de 18 anos, grávida de tês meses, perdeu o bebê entre os dias 7 e 13, período entre a primeira e segunda ação da Prefeitura de Campo Grande no local.
O marido relatou que Welica estava com 12 semanas, entrando no quarto mês de gestação. “Meu filho morreu por toda situação, pelo estresse todo. Só descobrimos o aborto nesta quarta, às 11h no hospital ”, ressaltou.
O jovem contou que a esposa precisou ir ao hospital às pressas devido a um sangramento intenso. A dor teria começado durante a noite desta segunda-feira (13).
O casal foi morar na ocupação recentemente, após Josinei ficar desempregado. Ele trabalhava na área de construção civil como pedreiro.
Welica gravou um vídeo onde descreve momentos da operação realizada nesta segunda 813) no bairro Los Angeles. No vídeo ela narra como foi a ação dos agentes e cobra um posicionamento da prefeitura de Campo Grande.
"Eles chegaram aqui soltando bomba, dando tiros em todo mundo, levaram minhas coisas, minhas comidas as roupas do meu filho. Agora não tenho onde ficar..."
Primeira desocupação
Na manhã da terça-feira (7), fiscais da Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano (Semadur) e da Agência de Habitação foram ao local para, após receberem denúncias, tentar solucionar o impasse com as lideranças que estavam à frente da ocupação.
De acordo com a Guarda Civil Metropolitana, durante a abordagem das famílias, os fiscais esclareceram que o local se trata de uma área pública e de preservação, sendo que não é permitida a construção de casas ou barracos.
Além disso, as famílias ainda foram informadas que caso insistissem em montar quaisquer estruturas, poderiam perder todo o material. Dessa forma, tudo o que já havia sido montado foi desfeito e a retirada foi feita de forma pacífica.
Segunda desocupação
Após desocupação do dia 7 de junho, famílias voltaram ao local. Dessa vez, moradores relataram agressividade dos agentes da Guarda Civil Municipal. Em nota a Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano (Semadur) relatou que tomou as medidas necessárias de maneira pacífica.
"A Semadur esclarece que o local citado trata-se de uma área pública, portanto, conforme o Código de Polícia Administrativa – Lei n. 2909, a invasão de área pública se configura em ato infracional, conforme o Artigo 5º, § 2º que diz:
"Verificada a invasão de logradouro público, o Executivo Municipal promoverá as medidas Judiciais cabíveis para pôr fim a mesma", desta forma, constatada a ocupação indevida da área pública, por meio de invasão, são tomadas as providências cabíveis ao caso."
A assessoria de imprensa da Agência de Habitações (Amhafs), esclareceu que o órgão cuida apenas da parte de providenciar habitação para as famílias vulneráveis de Campo Grande, mas que até o momento, não há projeto previsto para a região do Bairro Los Angeles.
A pasta ainda informou que já há 45 mil pessoas cadastradas e à espera de uma moradia social. Para ser contemplada é preciso que a pessoa aguarde o sorteio público.
A Semadur não retornou o contato da reportagem e não foi possível saber para onde as famílias foram encaminhadas.
O Correio do Estado tentou contatar a Prefeitura de Campo Grande, mas até o fim dessa reportagem não obteve resposta.
CORREIO DO ESTADO