Ex-presidente da Santa Casa que deixou dívida milionária quer voltar ao poder
Esacheu Nascimento deixou uma dívida estimada em R$ 540 milhões para o hospital; eleição ocorrerá nesta quinta-feira
A Santa Casa de Campo Grande elege na quinta-feira nove novos membros do Conselho de Administração da Associação Beneficente de Campo Grande (ABCG), responsável pela gestão do hospital, o número representa metade das cadeiras do Conselho (18).
O resultado dessa eleição será decisivo para saber quem vai ser o novo presidente do centro médico. Isso porque uma das chapas é apoiada pelo ex-presidente Esacheu Nascimento, que deixou uma dívida estimada em R$ 540 milhões no local e que pretende voltar ao cargo, caso seus aliados sejam eleitos.
A eleição funciona da seguinte forma: nesta quinta-feira 92 associados da ABCG, dos 112 totais, estão aptos a votar. Eles devem escolher entre duas chapas: a Por Amor à Santa Casa e a Nova Santa Casa, que é apoiada por Esacheu. A eleição será as 18h30min, no auditório do hospital.
Finalizada esta etapa e já com os nove novos membros do Conselho, será feita a eleição para presidente da instituição, com indicação dos diretores. Nesta segunda etapa, porém, só os 18 conselheiros é que têm direito ao voto.
De um lado, a chapa Por Amor à Santa Casa é composta pelos seguintes nomes para o Conselho de Administração: Aleixo Paraguassu Neto; Carlos Ricartes de Oliveira; Eduardo Youssef Ibrahim; Ivan Araújo Brandão; Jary de Carvalho e Castro; João Nelson Lyrio; Marcos Alceu da Silva Villalba; Mário Antônio Cavinatto de Melo; e Onésio Bueno Freitas.
O grupo também conta com Antônio Urban Filho, Edson Alceu Lazarotto e Valdir José Dall’Angol Zanin para o Conselho Fiscal, e Renato Antônio Pereira de Souza e Renato Paganini como suplentes.
Do outro lado está o grupo Nova Santa Casa, que tem para o Conselho de Administração os seguintes nomes: Alcides dos Santos; Antônio Morais Ribeiro Neto; Carlos Roberto Taveira; Marco Antônio Carstens Mendonça; Maria (Eunice) de Souza Sá Silva; Maria Amélia Cunha Figueiredo; Renato Katayama Sinval Martins Araújo; e Tiago Souza de Campos e Martins.
No caso do Conselho Fiscal, eles serão representados por Alessandro Oliva Coelho, Heber Xavier e Wellington Luiz Cenze. Além de José de Oliveira Souza e Paulo Roberto dos Santos Pereira como suplentes.
Apoiada por Nascimento, a chapa Nova Santa Casa tem entre os nomes, inclusive, o ex-presidente Heber Xavier, que ficou na presidente do hospital após Esacheu deixar o cargo para concorrer à Prefeitura de Campo Grande, em 2020.
Durante a gestão de Esacheu na presidência da Santa Casa, de 2016 a 2020, diversos empréstimos foram feitos pelo hospital. Fontes do Correio do Estado de dentro do hospital informaram que hoje essa dívida com bancos está em R$ 540 milhões.
Por causa dos empréstimos que são pagos em parcelas mensais, segundo fontes da reportagem, ficou mais difícil manter o salário dos funcionários em dia, por isso que manifestações por causa desses atrasos eram recorrentes durante a gestão de Esacheu.
Além disso, contratos feitos na gestão do ex-presidente são investigados pelo Ministério Público de Mato Grosso do Sul. Em 2019, foi aberto procedimento preparatório, que no ano seguinte foi transformado em inquérito civil, para apurar possível irregularidade em contratos firmados pelo ex-presidente com diversos prestadores de serviço.
CANDIDATURA
Segundo associados ouvidos pela reportagem, mas que não quiseram se identificar, um dos temores da volta do ex-presidente ao cargo é que ele use o cargo como trampolim político, para novamente se candidatar à Prefeitura de Campo Grande, como fez em 2020.
“Evidentemente que ele é candidato [a presidente] para poder usar novamente a Santa Casa para uma eleição para prefeito. Quando retornou para o Conselho, disse que ele não seria candidato a presidente, isso está em ata. Mas agora voltou atrás. Nós sabemos que desde sempre foi candidato, e isso é uma estratégia de tentar se viabilizar a uma candidatura”, declarou um dos associados.
Outro medo dos associados é que esta gestão, além de poder ser curta – já que ele teria de renunciar ao cargo em 2024, um ano depois de tomar posse –, “contamine a relação da Santa Casa com outras instituições públicas”.
“Compromete relação entre Santa Casa e prefeitura, qualquer gestor público não olha para ele como gestor, olha como um candidato. Sem contar que ele promove uma série de ações com foco eleitoreiro e depois deixa o hospital com prejuízo para se virar”, reclamou integrante do hospital que não quis se identificar.
Com o novo contrato assinado entre prefeitura e Santa Casa, o presidente que assumir vai gerir R$ 31,5 milhões por mês vindo apenas do Sistema Único de Saúde (SUS).
Saiba
Entre as ações que os associados chamam de eleitoreiras está instalar uma academia ao ar livre, terceirizar serviços, criar o programa Santa Casa nos bairros, e outras medidas tomadas pelo gestor.
DAIANY ALBUQUERQUE
CORREIO DO ESTADO