Em bairros com Emeis paradas, mães estão à espera de vagas
Se escolas de Educação Infantil estivessem prontas, pelo menos, mais 1.008 crianças teriam um local seguro para estudar em Campo Grande
DAIANY ALBUQUERQUE, NATÁLIA OLLIVER
O Correio do Estado mostrou em levantamento que Campo Grande tem hoje 33 obras paradas, dessas, a maioria está relacionada à educação, com 12 construções não finalizadas, das quais nove são de Escolas Municipais de Educação Infantil (Emeis).
Se essas unidades estivessem em funcionamento, seriam menos 2.016 crianças na fila – considerando aulas em dois turno –, ou 1.008 estudantes a menos – se o regime for de período integral.
Enquanto essas obras não são concluídas, famílias esperam pela vaga em Campo Grande. Este é o caso de Maira Fernandes Martinez, de 24 anos, que está esperando desde o fim de 2021 por vaga para os dois filhos, de dois e três anos.
“Eu já fiz a pré-matricula, mas não consegui vaga, eles falam que é para esperar a ligação e o e-mail. Aí eles não mandam nada nem ligam”, contou a mãe, que mora no Jardim Inápolis, um dos bairros onde há obra de uma Emei parada.
Ela conta como cuida das crianças. “Eu revezo com o meu marido, eu faço diária, ele trabalha fora”. A diarista diz que já tentou por diversas vezes vaga em Emeis para as crianças. Ela ressalta que a última vez que procurou um local para deixar as crianças foi neste mês de junho. “Este mês, fui na Emei do Indubrasil, e eles falaram que era para esperar”.
Se a Emei Inápolis estivesse funcionando, Maira acredita que já teria uma vaga para os filhos. “Já teria conseguido, seria bom colocar eles na creche. O de três anos precisa estudar”, lamentou.
Morando em frente à construção da Emei no Jardim Inápolis, há seis meses Maria aparecida de Carvalho, 67 anos, procura vaga para o neto de dois anos. Além disso, ela afirma que para as crianças maiores de 10, nove e sete anos também tem encontrado dificuldade.
“Não consigo vaga para os meus netos nas escolas, tem uma creche abandonada aqui que nunca sai e a gente está esperando a boa vontade do prefeito, governador. Isso aí está acabando, só jogaram o dinheiro da gente fora, está só estragando”, afirmou, indignada com o abandono do local.
Ela revela conhecer muitas pessoas que aguardam vagas em creches para os filhos. “Aqui não tem vaga, o pessoal está reclamando muito. A creche aqui está superlotada. Estamos esperando, nunca tem vaga para eles, desde que eu cheguei só consegui vaga para um [na escola]”.
Com três filhos, de cinco, três e um ano, Mariele Pereira Mendes, 36 anos, está há seis meses aguardando vaga para as crianças.
“Está sendo muito difícil, eu tenho três filhos, o lugar é pertinho, mas não tem vaga, é muita criança para uma escola só. Não tem como, aí tem de ficar na espera”, contou a mãe, que mora no Bairro Vila Popular e conta estar aposentada neste momento.
Depois de ficar três anos na fila por uma vaga para os quatro filhos, Andressa Cristina Matos, 30 anos, conta que só conseguiu no ano passado, depois de levar o caso à Justiça.
Hoje, ela quer mudar as crianças para outro local, mais próximo de casa. Residindo na Vila Popular, ela conta que se a Emei do bairro estivesse pronta, tentaria vaga no local
“É um caos para conseguir [vaga], estou esperado uma no Centro de Educação Infantil Cristo é Vida, mas tem 39 crianças na frente. [Se a Emei estivesse pronta] facilitaria a minha vida para o mercado de trabalho”, relata.
Em abril deste ano, a chefe da Central de Matrículas da Rede Municipal de Ensino (Reme), Adriana Cedrão, afirmou ao Correio do Estado que por volta de 8,7 mil crianças continuam na fila de espera, apesar de a Secretaria Municipal de Educação (Semed) ter aberto quase 6 mil vagas para alunos de quatro meses a cinco anos para o ano letivo de 2022.
Em nota, no entanto, a Pasta afirmou que “não há deficit de vagas para os alunos das etapas obrigatórias do Ensino Fundamental da Rede Municipal de Ensino – alunos de quatro e cinco anos”.
“A Secretaria Municipal de Educação disponibilizou, para o ano letivo de 2022, um total de 5.678 novas vagas para as Escolas Municipais de Educação Infantil. Porém, deste total, apenas 1.731 efetivaram a matrícula nas unidades. O prazo para efetivação foi do dia 1º ao dia 15 de dezembro de 2021. Em torno de 70% das vagas [3.947 alunos] disponibilizadas não tiveram a matrícula efetuada. A segunda listagem das vagas – remanescentes – para as Emeis foi divulgada em janeiro de 2022, e também houve a mesma situação, de não efetivação da matrícula”, diz trecho na nota.
A Semed completa: “Com isso, estas vagas foram disponibilizadas para as demais crianças que aguardavam a designação. Esclarecemos que não há deficit de vagas para os alunos das etapas obrigatórias do Ensino Fundamental da Rede Municipal de Ensino – alunos de quatro e cinco anos –, todos os que solicitam vagas, são prontamente designados para uma unidade escolar, onde a matrícula pode ser efetivada. Este público é atendido nas Escolas Municipais de Educação Infantil [Emeis] e também nas escolas de Ensino Fundamental”.
SAIBA
Segundo a Semed, desde 2017, a atual gestão já finalizou e entregou oito unidades escolares, sete Emeis e uma escola. A Pasta também afirma que a quantidade de alunos matriculados na Reme cresceu por conta do aumento da oferta de vagas.
CORREIO DO ESTADO