Em 4 anos, número de famílias que moram em favelas dispara na Capital

10/03/2023 09h53 - Atualizado há 1 ano

Ainda na gestão do ex-prefeito Marquinhos Trad, o crescimento foi de 697%, um salto de 4,5 mil para 36 mil moradores nas comunidades

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Gerson Oliveira/Arquivo/Correio do Estado

De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e da Central Única das Favelas (Cufa), o número de famílias que moram nas favelas de Campo Grande disparou nos últimos quatro anos, um salto de 697% no número de pessoas que passaram a residir nas comunidades.

É importante destacar que o aumento exponencial no montante de famílias que moram em favelas foi registrado durante a gestão do ex-prefeito de Campo Grande Marquinhos Trad (PSD). Em 2021, Trad chegou a afirmar ao Correio do Estado que Campo Grande não tinha favelas.

Segundo o ex-gestor municipal, a Capital contava apenas com áreas ocupadas que aguardavam a regularização. “Não existe um amontoado de pessoas, pessoas que vivem embaixo de lonas. Existem áreas ocupadas de maneira irregular que estamos buscando regularizar”, disse Marquinhos à época.

No entanto, na capital sul-mato-grossense, segundo a Cufa, atualmente há pelo menos 36 mil famílias que moram nas 39 favelas do município.

As comunidades com maior densidade habitacional em Campo Grande são a ocupação da Homex, com 7 mil pessoas divididas em aproximadamente 1.500 famílias, seguida por Favela do Mandela (175 famílias) e Comunidade Vitória (140 famílias).

Pesquisa publicada pelo IBGE em 2020, que trazia dados coletados em 2019, mostrava o número de domicílios levantados em aglomerados subnormais (ocupações irregulares) de todo o País. À época, os dados regionalizados de Mato Grosso do Sul mostravam que só em Campo Grande, em 2019, havia 4.516 famílias morando nas 38 favelas da cidade.

No mesmo ano, a ocupação da Homex apresentava apenas 901 domicílios, enquanto a ocupação Samambaia tinha 434 e a Favela do Mandela contava com 300. O levantamento do IBGE ainda apontava que, em 2019, havia na cidade 12 favelas com 30 domicílios cada.

COMPARATIVO NACIONAL

De acordo com a estimativa do IBGE, em 2019, havia 5,1 milhões de domicílios ocupados em 13,1 mil aglomerados subnormais no País.

Essas comunidades estavam localizadas em 734 municípios, nos 26 estados do Brasil e no Distrito Federal.

Entre os estados brasileiros, o Amazonas (34,59%) detinha em 2019 a maior proporção de favelas. Em seguida vinham Espírito Santo (26,10%), Amapá (21,58%), Pará (19,68%) e Rio de Janeiro (12,63%).

São Paulo, o estado mais populoso do País, aparece na pesquisa com 7,09% dos domicílios em favelas. Contudo, o estado tinha mais de um milhão de casas em locais irregulares, ou seja, que pertenciam a outras pessoas.

De acordo com a pesquisa, o estado que apresentava a menor proporção de aglomerados subnormais em 2019 era Mato Grosso do Sul (0,74%), com 6.766 domicílios.

Campo Grande também aparece no levantamento de 2019 como a cidade que tinha a menor estimativa, entre os municípios com mais de 750 mil habitantes, de domicílios em favelas, com porcentual de 1,45%. No interior do estado de Mato Grosso do Sul, segundo o levantamento do IBGE, existiam em 2019 16 favelas, sendo 6 delas só na cidade de Corumbá.

Dourados aparecia com cinco comunidades registradas, e o município de Aquidauana tinha duas favelas, que totalizam 573 domicílios.

Belém (PA) e Manaus (AM) tinham mais da metade dos domicílios ocupados em favelas, 55,5% e 53,3%, respectivamente. Logo em seguida aparecia Salvador, na Bahia, com 41,8% das habitações em comunidades carentes.

DATA FAVELA

Em pesquisa mais recente, realizada no ano passado pela instituição Data Favela, em parceria com a Cufa e o Instituto Locomotiva, foi levantado que 13.151 favelas estão mapeadas em todas as regiões do País.

Segundo a Data Favela, o quantitativo de aglomerados subnormais dobrou quando comparado à última década, de 6.329 para 13.151.

São cinco milhões de domicílios levantados em favelas no Brasil, e estima-se que haja 17,1 milhões de pessoas vivendo em comunidades irregulares no País.

Se o número de habitantes em favelas brasileiras formasse um novo estado, este seria a quarta unidade da Federação mais populosa, abaixo apenas dos estados de São Paulo (46,6 milhões), Minas Gerais (21,4 milhões) e Rio de Janeiro (17,4 milhões).

De acordo com a pesquisa, os estados do Rio de Janeiro, Amazonas, Bahia, Maranhão e São Paulo e o Distrito Federal concentram as maiores favelas brasileiras.

Um dos fatores sociais levantados na pesquisa Um País Chamado Favela foi a importância do papel central da mulher nessas comunidades.

A pesquisa aponta que moram cerca de 8,7 milhões de mulheres nas favelas brasileiras e 21% dos lares são formados por mães solteiras.

FOME

De acordo levantamento da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Penssan) realizado no ano passado, 65% das famílias de Mato Grosso do Sul vivem em estado de insegurança alimentar.

A fome é sentida por mais de 33 milhões de brasileiros e por, pelo menos, 266 mil sul-mato-grossenses.

No Estado, 9,4% da população vive em situação de insegurança alimentar grave, sem acesso a alimentos suficientes. Na classificação de insegurança alimentar, 35% dos habitantes de Mato Grosso do Sul vivem com o constante temor da falta de alimentos.

Saiba: Nesta terça-feira, foi aprovada em votação na Câmara Municipal de Campo Grande a regularização da área onde está localizada a ocupação da massa falida da Homex.

Dezenas de famílias que moram no local estiveram presentes na Casa de Leis. Os beneficiados terão acesso a crédito especial e vão arcar com prestação mensal de R$ 130 para pagar o empréstimo pelo terreno. 

JUDSON MARINHO

CORREIO DO ESTADO