Comerciantes é que ficam 'atrás das grades' por insegurança de minicracolândia em Campo Grande

22/05/2023 09h59 - Atualizado há 1 ano

Quase todos os comércios da região estão equipados com grades, câmera de segurança e cerca elétrica como medida para inibir furtos de usuários de droga

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Grade para evitar furtos no local (Foto: Nathalia Alcântara, Midiamax)

O movimento intenso no trânsito, uma avenida principal de Campo Grande e comércios de alto padrão podem ser encontrados no cruzamento da Avenida Afonso Pena com Rua Taunay e Alexandre Farah, no bairro Amambaí. A descrição poderia caracterizar um trecho da cidade onde o empresário estaria muito bem instalado comercialmente, senão pelo fato do espaço estar tomado por usuários de droga da ‘minicracolândia’. A insegurança e o medo reinam, deixando comerciantes em uma verdadeira prisão.

Sócias e funcionárias de uma clínica de estética e saúde, a poucos metros de onde a criança foi atropelada após tentar fugir de uma briga de usuários de droga, vivem com a porta principal trancada. A fisioterapeuta Adriane Câmara conta que chega às 7h e precisa pedir para usuários e pessoas em situação de rua deixarem a porta do estabelecimento para conseguir entrar.

“Já flagrei pessoas peladas aqui, fazendo sexo bem na frente da clínica. Eu já fui ameaçada por um usuário de drogas porque pedi para sair da porta. Eu já chamei a polícia umas 10 vezes, mas nesse dia da ameaça pensei em fechar e desistir. Gastei cerca de R$ 5 mil só em segurança, coloquei laje para não invadirem pelo telhado, tem as cercas elétricas, as câmeras de segurança, mas nada inibe. Usuários veem o portão aberto e invadem pedindo para limpar em troco de R$ 2 ou R$ 5”, disse.

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Barracos ao lado do estabelecimento (Foto: Nathalia Alcântara, Midiamax)

A colega, Vitória Maria, desabafa que a porta principal precisa ficar trancada para evitar situações de medo durante o funcionamento. Ao lado da clínica há barracas e lonas, onde pessoas em situação de rua vivem. Ela relata que há um grupo entre os comerciantes do trecho para que cada um cuide do comércio do outro.

“No fim do ano, colocamos nossa cachorra de guarda para somar na segurança, porque já tentaram invadir várias vezes e estamos abertos há um ano. Tem uma praça aqui no bairro, perto, e o movimento de usuários é frequente de lá para casa e para a antiga rodoviária. Eu já vi crianças usando droga, mulher e pessoas velhas, aqui não tem idade. Para se ter uma ideia, temos grade na porta também. Se parece com uma prisão, uma verdadeira prisão para ficar seguro”.

Rotina muda durante o dia

Giovanna Luges, secretária de um hotel de luxo da avenida, precisa mudar a rotina de funcionamento ao longo do dia. Nas primeiras horas da manhã até à tarde, as portas da recepção ficam abertas conforme o sensor de movimento. Mas durante a noite e madrugada, a mesma é travada para impedir a invasão.

“São raros os episódios de situação de extremos, mas acontecem algumas vezes coisas inusitadas. Por exemplo, teve um dia que um usuário entrou e roubou o álcool em gel. Teve outra vez que chegou e foi direto no buffet e fugiu levando uma melancia. Na madrugada eu fecho a porta, tem vezes que batem no vidro, mas eu não abro”, relata.

A colega Andressa Falcão também concorda que é necessário atenção durante a rotina, mas diz que não vivenciou extremidades. “Eles respeitam, pedem dinheiro, mas a gente fala que não tem. Cliente não chega a reclamar, mas a gente sabe que é uma situação que incomoda. Agora de manhã o movimento deles é mais tranquilo, só quando começa a anoitecer que precisa mais de atenção na segurança”.

Bruna Lacerda trabalha em um salão de beleza e mora ao lado do trecho. Durante a conversa com o Jornal Midiamax, aponta quais locais já foram invadidos e o que levaram, com frequência da fiação elétrica. O ar-condicionado do espaço está com uma grade de proteção para evitar que o motor seja levado.

“Todo dia precisa limpar a frente, varrer, jogar água. Aqui está aberto há quatro anos e já foi furtado e roubado umas cinco vezes, duas só quando abriu, só amenizou um pouco quando a vizinha [uma floricultura] abriu, porque eles subiram pelo telhado. O outro vizinho tem a estrutura mais alta, mesmo assim subiram e levaram o motor do ar-condicionado. Nós já perdemos a conta de quantas vezes ligamos para a polícia. No final, você não sabe o que fazer”.

O Jornal Midiamax publica série de reportagens sobre 'minicracolândias' em Campo Grande e a disseminação de bocas de fumo pelos bairros da cidade, assim como as implicações sociais que esse tipo de atividade criminosa causa. Leia as outras reportagens da série:

"Narcotráfico doméstico avança e 'minicracolândias' se espalham por bairros de Campo Grande".

'Tem uma boca no meu bairro': polícia dá dicas para quem desconfia de tráfico na vizinhança

Vidas entregues à droga: Mesmo com ajuda em Campo Grande, por que é tão difícil abandonar o vício?

Karina Campos

MIDIAMAX