Capital tem 2.205 animais em abrigos independentes e ONGs

29/08/2022 08h50 - Atualizado há 2 anos

Levantamento foi realizado pela Comissão de Defesa dos Direitos dos Animais da OAB-MS

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MARCELO VICTOR

Campo Grande tem 2.205 animais em abrigos independestes e ONGs, o que significa que são cuidados por protetores autônomos que não têm cadastro nos órgão responsáveis pela causa animal, como o Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) e a Subsecretaria do Bem-Estar Animal (Subea).

O problema acarretado pela ausência no sistema é a invisibilidade dessa população que resgata e ampara animais de rua. Uma vez que o poder público não tem ciência desses protetores, tampouco tem do auxílio prestado e suas necessidades para continuar ajudando os bichinhos.

O cenário preocupa tanto os cuidadores, que não conseguem manter os animais, quanto a Comissão de Defesa dos Direitos dos Animais (CDDA) da OAB-MS, que divulgou o número acima.

A CDDA esteve in loco em 50 abrigos independentes para listar e visibilizar os protetores de animais, assim como saber as dificuldades enfrentadas por eles no resgate de cães e gatos.

De acordo com a comissão, não é possível enumerar quantos abrigos do gênero ainda não foram listados, justamente, por não existirem em nenhum cadastro e a sua apresentação ser feita no “boca a boca” pelos próprios cuidadores.

A advogada e presidente da CDDA, Adriana Carvalho dos Santos, ressaltou que o trabalho da comissão visa colocar essas pessoas que prestam o trabalho social de assistência aos animais em pauta.

“Esse trabalho foi feito por mim e os advogados Gustavo Scuarcialupi, Gisele Ottoni, Charlita Benítez e Matheus Menezes. Eles concordaram em assumir o assunto dentro da comissão, que é uma pauta muito pesada”, evidenciou.

A responsável relatou que a maioria dos animais não consegue um lar, principalmente, cachorros de médio e grande porte. Por isso, eles acabam envelhecendo nos abrigos e nas ONGs, o que torna os locais sobrecarregados e impossibilita novos resgates.

“Tem uma protetora que, por exemplo, tem 100 animais na casa dela. Na ONG Fiel Amigo, que é maior, são quase 300 animais. Como sustentar eles sem uma ajuda do poder público? Eles precisam desse auxílio”, frisou.

INDEPENDENTES

Adriana Carvalho dos Santos afirmou que, dos 50 abrigos visitados, apenas um – uma ONG – é cadastrado, ou seja, 49 são independentes.

“São pessoas que não existem para a sociedade. Porque animais nas ruas são uma questão de saúde pública. Quando a gente fala de protetores de animais que estão resgatando há décadas, as pessoas precisam saber que existem essas pessoas trabalhando por nós. Os protetores de animais estão utilizando, hoje, recursos de aposentadoria para sustentar os animais, um salário mínimo,” afirmou.

PEDIDOS DE RESGATE

Adriana recebe inúmeros pedidos de resgate por dia, apesar de não realizá-los, e os protetores já não sabem o que fazer para ajudar outros animais de rua.

“O que assusta é que já temos contabilizados 50 abrigos e centenas de milhares de animais nas ruas. Diariamente, todos os protetores falam: ‘Hoje eu recebi 10 pedidos de resgate’”, contou.

Laura Cristina Garcia Brito, de 51 anos, é dona da ONG Fiel Amigo, que existe há mais de 15 anos em Campo Grande. Ela administra a instituição sem fins lucrativos com uma ajudante. Ao todo, são 300 animais, entre cães e gatos. Além deles, a protetora dá assistência a mais inúmeros em lares temporários.

A separação destes animais se dá pelo fato de a ONG não comportar mais os bichinhos. E, embora os resgates estejam suspensos, a protetora acentuou que as pessoas não deixaram de abandonar animais no local.

“Nunca imaginávamos que a situação de abandono e maus tratos fosse tomar a proporção que tomou hoje, são milhares de animais abandonados na nossa Capital. Enquanto estamos resgatando um, tem 100 sendo abandonados”, assegurou a protetora. “Não temos um hospital público veterinário, não temos castração massiva para cães e gatos, não temos UPA, não temos nada que venha do poder público”, reclamou.

O CCZ oferece agenda para castração de cães e gatos, mas as vagas são poucas e costumam acabar rapidamente.

PROTETORES

Maristela Vasquez, de 57 anos, tem em casa 49 animais, entre cachorros e gatos. A maioria está doente. Ela contou ao Correio do Estado que 18 dos bichinhos têm leishmaniose, um tem câncer, outro é hepático crônico e uma é paralítica.

“São animais abandonados, maltratados, descartados para morrer”, comentou.

A cuidadora mantém os animais por meio de doações. Ela ressaltou que, para alimentá-los mensalmente, é preciso de nove pacotes de ração de 25 kg.

“Acontece muito de ficar sem ração e ter que dar comida. Aí faço arroz sem óleo, sem sal, ovos cozidos misturados com umas cascas de legumes”, disse. Além dos animais em casa, Vasquez ajuda mais 10 gatos na rua e 15 cachorros.

De acordo com ela, a pandemia de Covid-19 diminuiu drasticamente a contribuição por meio de doações.

“O abandono em si cresceu muito. A pandemia já melhorou, e o povo coloca a culpa nela até hoje. É falta de responsabilidade, falta de leis para punir os tutores. Eu penso que até hoje ninguém faz nada por esses animais, se não somos nós, pelas nossas vozes, para proteger”, reclamou.

A cuidadora ressaltou que tem dívidas em clínicas veterinárias por conta dos problemas de saúde dos animais e que faz rifas duas vezes ao mês para custear os tratamentos.

“Tenho dívidas de clínicas, porque eu tenho que levar, aí estou endividada. Estava esperando a UPA Vet, esse é um sonho não só meu, mas de todos os protetores. Mas nunca chegou”, concluiu.

Saiba

A Subea tem catalogados no sistema 107 protetores de animais, que possuem benefício da castração gratuita. A subsecretaria disse que realizou uma convocação para o cadastro de protetores independentes, mas eles não compareceram. 

NATÁLIA OLLIVER

CORREIO DO ESTADO