Campo Grande tem 33 obras paradas
Maioria das construções foi entregue pelas empresas responsáveis e deverá passar por relicitação para ser retomada
DAIANY ALBUQUERQUE, KETLEN GOMES, NATÁLIA OLLIVER
Campo Grande tem ao menos 33 obras paralisadas. O levantamento foi feito pelo Correio do Estado, que percorreu todas as construções. São edificações para atender os mais diversos setores, entre os principais, as reformas de Centros de Referência da Assistência Social (Cras) e a construção de escolas da Rede Municipal de Ensino (Reme).
De acordo com o titular da Secretaria Municipal de Infraestrutura e Serviços Públicos (Sisep), Rudi Fiorese, esse é um problema que tem sido enfrentado em todo o Brasil e causado pela alta exorbitante nos preços da construção civil.
“É uma situação generalizada no País: o diesel aumentou quase 40%, o cimento mais de 50% e o reajuste anual dos preços das obras, que é o que a legislação permite, não consegue cobrir esses custos, por isso, há essas desistências”, explicou o secretário.
Só no setor da saúde, por exemplo, são sete obras de Cras que começaram e estão abandonadas neste momento: Jardim Botafogo; Canguru; Zé Pereira; Guanandi; Vila Popular; Vida Nova; e Vila Gaúcha.
A maioria das obras paralisadas, entretanto, é para atender ao setor de educação de Campo Grande.
Com uma fila de 8,7 mil crianças à espera de vaga em Escolas Municipais de Ensino Infantil (Emeis), a Capital tem nove construções deste tipo paradas nos bairros: Vila Popular, Talismã, Jardim Inápolis, Anache, Oliveira 3, Jardim Radialista, Moreninhas, Jardim Colorado e Jardim Serraville.
Outras duas são construções de escolas municipais, nos bairros Vila Nathalia e Parati. Além disso, há a reforma da Escola Municipal Danda Nunes, que ocorre na escadaria e no setor elétrico e ainda não terminou. Segundo fontes do Correio do Estado, o prosseguimento da reforma estaria parado no setor financeiro da prefeitura.
TRANSPORTE
Iniciada há seis anos, a obra do corredor de ônibus da Avenida Bandeirantes é outra que está parada, assim como os corredores da Avenida Marechal Deodoro e da Rua Bahia.
Conforme Fiorese, no caso das construções na Avenida Bandeirantes e na Rua Bahia, a implantação dos terminais de embarque/desembarque deve ser relicitada, mas ainda não há data para que isso aconteça.
Na Marechal Deodoro, a empresa que iniciou a obra concordou em retomar os trabalhos, o que, segundo o titular da Sisep, deve ocorrer ainda este mês.
Ainda há as reformas dos terminais de ônibus General Osório, Nova Bahia e Hércules Maymone, que também estão paradas porque serão relicitadas pela prefeitura. No caso da reforma do Terminal Morenão, como ainda não foi licitada, não é considerada como obra parada.
INFRAESTRUTURA
As obras de infraestrutura na cidade também padecem do mesmo problema: a maior delas, a obra de revitalização e controle de enchente iniciada na Avenida Ernesto Geisel, às margens do Rio Anhanduí. A obra está parada desde o ano passado e deve ser relicitada ainda este ano, segundo Rudi Fiorese.
Outro local que também está com obras paradas é o controle de erosão em frente ao Presídio da Gameleira.
LAZER
Distribuídas em várias regiões de Campo Grande, cinco obras para atender o setor de lazer estão paralisadas.
No Parque Sóter, região norte da Capital, a empresa responsável pela reforma das entradas do local abandonou a obra. A prefeitura, no entanto, terminou uma das entradas com equipe própria, mas no caso do segundo portão não houve mudanças.
Já a reforma das piscinas e do complexo do Parque Jacques da Luz, nas Moreninhas, região sul de Campo Grande, o secretário afirmou que ela deve ser relicitada em julho.
“Valor ficou muito alto, e a conta, inviável”, disse. Na mesma região há a reforma da Praça Guanandi, que também está parada.
Neste segmento ainda há a conclusão do estádio de beisebol, que deverá ser relicitado, e a revitalização do Horto Florestal, que, de acordo com Fiorese, a empresa vencedora da licitação aceitou retomar a obra, o que deve acontecer ainda neste mês.
O secretário ressaltou ainda que ter de relicitar uma obra faz com que ela fique ainda mais tempo parada, já que há todo o processo de levantamento de preços novamente e a licitação, que tem ritos a serem cumpridos.
“Atrapalha muito ter que relicitar, porque o processo de licitação é lento. Quando a gente precisa fazer ele novamente, já sabemos que essa obra deve ficar parada por mais um ano”, contou.
PROBLEMAS
As obras paradas trazem inúmeros problemas para seus vizinhos. Durante a visita feita pela reportagem, não foram poucos os relatos de moradores insatisfeitos com a situação das construções.
De mato alto, acúmulo de água da chuva e, consequentemente, criadouro de mosquitos a insegurança foram algumas das reclamações.
No Anache, a Emei que foi construída na Rua Nazira Anache está abandonada. De acordo com moradores locais, que não quiseram se identificar, a população está roubando e depredando o imóvel. “Isso é do tempo do Nelsinho [Trad], prefeitura veio só limpar e mais nada”.
No Jardim Talismã, na obra da Emei, que está sem muros e sem pintura, já houve roubos de materiais de construção. De acordo com o morador Francisco Meredita Lopes, que reside em frente ao imóvel, as obras começaram em 2013, mas depois pararam.
“Roubaram as madeiras da obra. Faz tempo isso aí, foi o Nelsinho que fez. Aí parou e não mexeram mais. A obra acumula mosquito. Quando chove, você precisa ver, vira uma lagoa ali dentro”, contou o morador.
Na Vila Popular, a edificação da Emei também está depredada. Segundo o morador Paulo Roberto Souza, de 64 anos, a promessa era de que a obra seria entregue em 26 de agosto deste ano, o que não deve acontecer.
“Vem um aí, faz uma coisinha e depois some. Mas isso faz uns cinco anos que existe. Roubaram o material, eles colocaram um guarda, mas só fica à noite”, contou Paulo.
Outro ponto de reclamação fica no Jardim Radialista. A Emei em construção está localizada na Rua Escaramuça, e uma comerciante, que se identificou apenas como Angélica, relatou que faz tempo que a obra está parada e que a prefeitura só faz capinar o mato.
“Só vem aí para carpir o mato quando está alto. É de antes da pandemia a construção. Os moradores de rua ficam aí à noite. O mato cresce, prejudica a segurança e diminui a nossa clientela”, reclamou.
32,5 milhões de reais
Em 2021, a Sisep estimou que o trecho que ainda falta ser concluído da Avenida Ernesto Geisel, às margens do Rio Anhanduí, correspondia a cerca de R$ 25 milhões do valor da licitação feita em 2018.
Com o aumento nos preços dos materiais de construção, a previsão era de que o montante deveria sofrer um acréscimo de 30%, o que representaria R$ 7,5 milhões. Assim, a finalização da avenida passaria a custar R$ 32,5 milhões.
Obras paradas
Reforma do Parque Sóter
Reforma na Praça Guanandi
Reforma das piscinas e do complexo do Parque Jacques da Luz
Reforma do Centro de Referência da Assistência Social (Cras) do Jardim Botafogo
Reforma do Cras do Canguru
Reforma do Cras do Zé Pereira
Reforma do Cras do Guanandi
Reforma do Cras da Vila Popular
Reforma da Escola de Governo
Conclusão do estádio de beisebol
Reforma do Terminal de Ônibus General Osório
Reforma do Terminal de Ônibus Nova Bahia
Reforma do Terminal de Ônibus Hércules Maymone
Conclusão da estação de embarque/desembarque da Avenida Bandeirantes
Conclusão da estação de embarque/desembarque da Rua Bahia
Corredor de transporte coletivo na Avenida Marechal Deodoro
Reforma da Escola Municipal Danda Nunes
Reforma do Cras do Vida Nova
Reforma do Cras da Vila Gaucha
Revitalização do Horto Florestal
Construção de escola na Vila Nathalia
Construção de escola no Parati
Construção de Escola Municipal de Educação Infantil (Emei) na Vila Popular
Construção de Emei no Talismã
Construção de Emei no Jardim Inápolis
Construção de Emei no Anache
Construção de Emei no Oliveira 3
Construção de Emei no Jardim Radialista
Construção de Emei nas Moreninhas
Construção de Emei no Jardim Colorado
Construção de Emei no Jardim Serraville
Controle de erosão em frente ao Presídio da Gameleira
Controle de enchente e revitalização do Rio Anhanduí
CORREIO DO ESTADO