Campo Grande registra caos na Saúde em função da alta de casos de crise respiratória

04/04/2023 11h30 - Atualizado há 1 ano

Rede pública está sem leitos pediátricos e adultos vagos; hospitais particulares também apresentam aumento de internações

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Com superlotação e falta de leitos em hospitais, espera por atendimento nas unidades de saúde em Campo Grande pode durar horas - GERSON OLIVEIRA

Campo Grande registra caos no sistema de Saúde em razão do aumento de internações na rede pública. Os hospitais que atendem pelo Sistema Único de Saúde (SUS) na Capital relatam que estão com 100% de ocupação de unidades de terapia intensiva (UTIs) pediátricas. A principal causa desse aumento é a síndrome respiratória aguda grave (SRAG).

A Secretaria Municipal de Saúde (Sesau) informou, por meio de nota, que está finalizando a elaboração de documento para a contratualização de leitos na rede particular de Campo Grande.

A Sesau estima ampliação de até 30 leitos clínicos e 10 leitos de UTI. Alguns hospitais particulares já demonstraram interesse em participar do processo, como é o caso do El Kadri, que, de acordo com a assessoria da Sesau, sinalizou a possibilidade de abrir 30 leitos.

Ocupação

A realidade de outras redes particulares da Capital não é tão boa. A assessoria de comunicação do Hospital Cassems relata que a unidade de Campo Grande registrou um aumento significativo de internações.

“Antes [a ocupação] era em torno de 70% a 75%. Atualmente, gira em torno de 90% a 95%. A unidade hospitalar informa também que está atendendo à demanda e que, no momento, não existem pacientes aguardando vagas para leitos”, explicou a Cassems.

O Hospital Unimed também relatou um forte aumento no número de pacientes no pronto atendimento adulto e pediátrico nas últimas semanas. De acordo com a assessoria da instituição, a maioria dos casos é de doenças respiratórias.

O número de internações também subiu consideravelmente, mas o número exato não foi especificado, por conta da dinâmica de atendimentos, relatou a rede hospitalar.

Na rede pública, o Hospital Regional de Mato Grosso do Sul (HRMS) informou que opera com 100% de ocupação na UTI pediátrica e tem uma vaga disponível na UTI adulto. Já o Hospital Universitário (HU) relatou que os 232 leitos, entre adultos e pediátricos, estão ocupados.

Ainda segundo o HU, a maior crise enfrentada atualmente ocorre no atendimento pediátrico, por causa das crises respiratórias. “Nosso PAM [pronto atendimento médico] Área Verde tem 30 pacientes e temos 4 leitos disponíveis”, relatou a assessoria.

A Santa Casa atualizou sua situação de ocupação na tarde de ontem. De acordo com o hospital, a área vermelha do pronto-socorro tem 21 pacientes e aguarda a chegada de outros 5 – a área tem capacidade para apenas 6 leitos.

A área verde do pronto-socorro, que também tem 6 leitos de capacidade, está com 32 pacientes. Desses, 26 estão internados, e os demais em observação, aguardando leitos de enfermaria e centro cirúrgico. Além disso, a área aguarda a chegada de 8 novos pacientes.

Na ala vermelha pediátrica, sete crianças estão internadas, e cinco, intubadas. A capacidade técnica para a área é de três leitos, e dois novos pacientes são aguardados. Na ala verde pediátrica há 10 crianças, sendo 7 internadas e 3 em observação.

A Santa Casa informou, por meio de nota, que, no momento, em decorrência da superlotação em setores importantes do hospital, não tem condições de receber nenhum paciente até que a situação de falta de leitos seja resolvida.

A Sesau afirmou em nota que Campo Grande está passando por um surto de doenças respiratórias e de dengue, e isso fez com que a demanda por unidades de urgência e emergência aumentasse mais de 30%.

Houve reclamações de pacientes a respeito do tempo de atendimento em algumas unidades de saúde, entre elas a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Leblon. Segundo a Sesau, a UPA está com escala completa de seis médicos clínicos e todos os pacientes estão sendo atendidos dentro do tempo protocolar.

“É importante ressaltar que nestas unidades existem pacientes nas enfermarias em atendimento ou aguardando vaga em um hospital, que precisam ser periodicamente assistidos pelas equipes. Desta forma, os médicos e demais profissionais se revezam no atendimento destes pacientes e dos que se encontram na recepção, e, quando há um número maior de pacientes nestas condições, isso se reflete também em um maior tempo de espera”, ressaltou a Sesau.

A secretaria relatou que busca reforçar o quadro clínico das unidades por meio da convocação de novos profissionais e também do envio de equipes de apoio para assegurar que a população seja atendida.

Crianças

Enquanto os adultos ocupam os leitos em função de doenças respiratórias e outras causas, as crianças são os principais pacientes de com SRAG em Campo Grande.

Em razão desse fator, o secretário municipal de Saúde, Sandro Benites, fez um apelo para que os pais evitem levar as crianças a locais com grande circulação de pessoas, como shoppings, parques e feiras, em razão dos vírus respiratórios em circulação.

Além disso, Benites enfatizou que os responsáveis devem evitar levar as crianças para a escola caso estejam doentes ou com sintomas gripais.

O médico pediatra Alberto Costa informa que as crianças de até 3 anos de idade ainda não têm o sistema imunológico completo e estão mais suscetíveis a doenças, principalmente as relacionadas a infecções das vias aéreas, tanto inferiores quanto superiores, como resfriados, bronquiolites e pneumonias.

“Esses quadros virais respiratórios são bem contagiosos. Passam pela proximidade, por gotículas de orofaringe, que é a parte da garganta logo atrás da boca, pelo brinquedo que é trocado. As crianças estão bem mais vulneráveis, especialmente as mais jovens”, relatou o pediatra.

KETLEN GOMES

CORREIO DO ESTADO