Campo Grande é uma das capitais do Brasil que não tem casa de acolhimento à população LGBTI+

28/05/2022 10h31 - Atualizado há 2 anos

A capital conta com instituições de apoio à população LBGTI+, que atuam por meio de doações e voluntariado

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Divulgação

KETLEN GOMES

Em algumas capitais do Brasil há casas de acolhimento para a população lgbtqia+. Esses locais são direcionados para pessoas que não estão mais em suas residências por terem sido expulsos ou fugido de uma situação de violência. No entanto, Campo Grande ainda não é uma delas.

Na capital sul-mato-grossense existem apenas projetos que auxiliam a população lgbtqia+, dois deles são a Casa Satine e a House da Vogue Dance, ambas trabalham com o voluntariado.

Karla Melo, uma das coordenadoras da Casa Satine, informou que o projeto iniciou em 2017 com o intuito de acolher a população lgbt que se encontra em situação de rua, mas até o momento não tem um local físico para abrigas as pessoas.

Segundo Karla, quando há demanda de abrigo, eles encaminham para locais do estado e do município, que são direcionados para acolher pessoas que estão em situação de rua. A Casa Satine trabalha com atendimento psicológico, psiquiátrico, jurídico e cultural.

“Temos também uma parte cultural, que é a parte que eu coordeno dentro da casa, levando shows e a cultura lgbt para a população em geral e pra nós mesmos, dialogando com o nosso público”, informa Melo.

Todos os profissionais que atuam na Casa Satine são voluntários e os recursos são todos de forma voluntária, como arrecadação de alimentos e roupas. Há também recursos do poder municipal, em prol da realização dos eventos.

A House da Vogue Dance é de origem norte-americana. Segundo a mother da House Hands Up em Mato Grosso do Sul, Roger Pacheco, a casa é muito forte nos Estados Unidos, lá, a casa acolhe lgbts que fogem ou são expulsos de casa, e ajudam com despesas, aluguel, água, luz, entre outras coisas.

“Em Campo Grande há uma idealização ainda. A gente não tem uma casa onde essas pessoas moram, a gente funciona como uma house de vogue dance, e além de dança, a gente ajuda com dinheiro, nem sempre, só quando algum das nossas precisam, a gente ajuda com dinheiro, alimentação, cesta básica, passe de ônibus, produtos de higiene pessoal, essas coisas”, informa Pacheco. 

Os integrantes da House Hands Up também levantam recursos através de doações de parceiros. “Por exemplo, a gente tem uma mulher trans, que dançava com a gente, e ela foi demitida por conta da orientação sexual dela, e ela foi demitida por estar em transição e ela começou a passar fome. Eu pedi no meu próprio facebook e a gente conseguiu doações de alimentos. A gente conseguiu em torno de três cestas básicas”, relembra.

Pacheco informou que devido à falta de recursos, a house ainda não tem um projeto para o espaço físico. “Tudo é muito caro, aluguel, luz, água e alimentação”, diz a mother.

O grupo também realiza aulas de dança aos sábados. A entrada das aulas é um produto de higiene pessoal, que é doado para pessoas lgbtqia+ que precisam. Acontecem todo sábado, das 15h às 17h, no Ballet Isadora Duncan, na rua Brasil, nº 17.

No Brasil, apenas oito capitais, além do Distrito Federal, contam com casas de acolhimento à população lgbtqia+. São elas Salvador, Recife, Aracaju, Fortaleza, São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Manaus.

Violência

De acordo com dados do Dossiê de Mortes e Violência contra LGBTI+ no Brasil, em 2021 Mato Grosso do Sul foi o terceiro estado do país com o maior índice de mortes violentas de lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e pessoas intersexo.

O estado tem, em termos proporcionais à sua população, 3,17 mortes por milhão de habitantes, ficando atrás apenas de Alagoas, com 4,75 mortes por milhão, e Mato Grosso, com 3,36 mortes por milhão.

O índice estadual também está acima da média nacional, que foi de 1,48 em 2021. Em números absolutos, o estado teve nove mortes violentas registradas de pessoas lgbtqia+.

O motivo principal é relacionado ao agronegócio. “Áreas ligadas ao agronegócio são frequentemente identificadas como locais violentos, especialmente em função dos conflitos pela terra estabelecidos entre os exploradores e as populações tradicionalmente ocupantes desses locais”, informa o dossiê.

A nível nacional, houve pelo menos 316 mortes violentas de lgbts no Brasil. Um número que representa um aumento de 33,3% em relação à 2020, que foram de 237 mortes.

O dossiê foi produzido pelo Observatório de Mortes Violentas contra LGBTI+, e realizado por meio de uma base de dados compartilhada entre a Acontece Arte e Política LGBTI+, a Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra) e a Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Intersexos (ABGLT). 

CORREIO DO ESTADO