Após ter contrato 'turbinado' em R$ 9 milhões, Santa Casa atrasa cirurgias de pacientes
Pacientes relatam casos de idosos com fratura aguardando mais de 15 dias pela cirurgia
A Santa Casa de Campo Grande enfrenta diversos problemas que refletem na fila de pacientes, principalmente no setor de ortopedia. A unidade registrou no último mês atrasos em pagamentos das equipes e pacientes reclamam do atraso em procedimentos cirúrgicos.
A mãe de Elizangela da Silva Santana, 41, uma idosa de 60 anos, caiu no banheiro e faturou a mão, no dia 17 de agosto. Foi encaminhada para o hospital, desde então, é uma das pacientes que espera pela cirurgia.
"Ela entra em dieta zero [processo que antecede a cirurgia], passa a maior parte do dia sem comer. Mas como tantas vezes na dieta, agora não está conseguindo comer. Sabemos que a demanda do hospital é muito grande, mas acúmulo de cirurgias não é o resultado desse motivo", disse.
Outro, que preferiu não se identificar, não está internado, entretanto, retorna com frequência na unidade para verificar a disponibilidade. Estando desde o dia 23 com uma fratura no braço. "Estive na Santa Casa para atendimento no ambulatório de trauma, e fui informado que os médicos estão em greve, solicitaram para que eu voltasse no dia 26; voltei, mas fui informado novamente que os médicos ainda estão em greve, e que o motivo seria por atraso salarial de seis meses".
Também reclamando de deixar o pai em jejum, um eletricista diz que o idoso de 65 anos sofre. "Deixa ele sem comer e não opera. É uma luta para liberar a dieta. Fica em um vai e volta na expectativa de cirurgia. Disseram que estão operando só casos de urgência e emergência, mas tem idoso que está há mais de 15 dias com fratura".
Em nota, o hospital informou que por ser unidade referência em atendimento de média e alta complexidade, como nas cirurgias de trauma, houve aumento no número de pacientes politraumatizados, o que tem sobrecarregado ainda mais o serviço. Cerca de 30 pacientes aguardando diariamente por algum tipo de cirurgia ortopédica. E todos os procedimentos são realizados de acordo com sua complexidade, "mas estão sendo feitos dentro do que é possível pelas equipes".
"Em relação aos pagamentos de médicos do hospital, estes valores foram quitados na última sexta-feira (26), data em que a Prefeitura pagou à Santa Casa parte do montante que estava em atraso desde março de 2022. Valores estes que são verbas federais, mas que estavam travados desde então no município e corresponde a cerca de 9,6 milhões de reais, que foram usados também para o pagamento da folha dos profissionais autônomos e pessoas jurídicas", pontuou.
Leitos vazios e pacientes nos corredores
Enquanto pacientes reclamam da demora na cirurgia e lotação dos corredores, salas com macas vazias foram flagradas. Entretanto, a unidade informou que os leitos estariam reservados para casos como pacientes transplantados e de cirurgias eletivas, apesar de não informar a quantidade de leitos que já estariam destinados a esses pacientes.
Desde o início do mês, a unidade relata problemas causados pela instabilidade financeira, que segundo o hospital foi elevada pelo período da pandemia, onde arcou com o custo de materiais e serviços, além de ter aumento nos valores dos produtos usados diariamente.
Na última quinta-feira (25), valores foram oficializados no Diário Oficial de Campo Grande, referentes aos termos aditivos ao contrato entre o hospital e Sesau (Secretaria de Municipal de Saúde), de junho de 2021, sendo o valor turbinado R$ 9 milhões a mais no contrato, por meio de emendas parlamentares federais, indicativo de acréscimos pontuais para o mês, sendo uma parcela única de R$ 375.000,00 e R$ 7.650.000,00.
Karina Campos
MIDIAMAX