Apesar de obra milionária, comércio no Centro tem até 52 espaços abandonados

27/12/2022 09h59 - Atualizado há 1 ano

Aluguel alto, obras na região central do Reviva Centro e o baixo fluxo de clientes são os motivos da debandada

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Na Rua 13 de Maio, onde antes grandes lojas ocupavam espaços, diversos imóveis estão desocupados e disponíveis para aluguel - Gerson Oliveira

Quem passa com atenção pelas principais ruas de comércio do centro de Campo Grande se depara com, pelo menos, 52 estabelecimentos indicando o fechamento com placas de aluga-se.

O vívido Centro de uma tarde ensolarada de anos atrás está com baixo fluxo de consumidores em dias normais, com quadras com dois a três comércios fechados.

A realidade é que o Projeto Reviva Centro, que tinha por intenção melhorar a estética das lojas e assim tornar o local mais atrativo, ainda não cumpriu com seu objetivo.

Conforme publicado na edição de ontem do Correio do Estado, um dos principais motivos para este cenário de debandada dos comerciantes, segundo lojistas que trabalham a anos no local, é por conta dos preços a pagar pelos alugueis dos estabelecimentos.

“O motivo das lojas fecharem vem sendo o valor alto que o aluguel está, as reformas do Centro e a pandemia. Eu percebi que, logo depois que terminaram as obras do Centro, muitos logistas fecharam”, declarou a gerente da loja Color Zoom Photo e Óptica, Renata Isabelle dos Reis Belga.

Renata trabalha no Centro há quatro anos e é gerente de uma loja que está a mais de 30 anos no mercado, ela esclarece que é difícil estabelecimentos novos se manterem em funcionamento por muito tempo no Centro.

“Para se manter tem de ter uma cartela de cliente muito boa e, como temos uma loja consolidada, conseguimos enfrentar estas crises, mas as lojas menores você percebe que fecham mesmo”, afirmou.

Gerente de uma loja de roupas, Wesley Araujo, 29 anos, também acredita que a pandemia e as reformas no Centro causaram o fechamento de lojas.

“Estas reformas e a pandemia atrapalharam o movimento no Centro e desmotivaram as pessoas a virem para cá”, diz.

Para a loja se manter durante a pandemia foi necessário investir nas redes sociais, vendendo os produtos on-line no WhatsApp e no Facebook.

“O nosso público é maior nas redes sociais que na rua, 70% das vendas são on-line. Se fossemos depender só dos clientes presenciais, já não estávamos mais aqui”, declarou Wesley.

Outro motivo citado pelos lojistas que contribui para a ausência dos comerciantes no Centro está ligado ao aumento no número de lojas abertas nos bairros de Campo Grande.

Com a variedade de produtos disponíveis próximos às residências dos consumidores, a vontade de transitar do bairro ao Centro já não é a mesma de antes para a população.

“A maioria dos comerciantes está indo para os bairros. O custo para manter-se no Centro ninguém está aguentando mais. Um aluguel aqui pode ser de R$ 5 mil, mais em lojas grandes pode chegar a R$ 45 mil”, declarou Victor Kochi.

Há oito anos com a loja Casa das Flores na ativa, Victor também coloca a pandemia e as reformas no centro da cidade como as causadoras das saídas de comerciantes do Centro.

“Essas reformas nas ruas e nas calçadas, além da pandemia, quebrou os comerciantes, os que não fecharam ainda estão sufocados e se mantendo no dia a dia”, contou.

O levantamento de aproximadamente 52 estabelecimentos fechados foi feito pela reportagem do Correio do Estado, que percorreu o quadrilátero do centro da cidade, entre as ruas 14 de julho, 13 de maio e as avenidas Calógeras e Mato Grosso.

COMÉRCIO

Em contato com a Associação Comercial e Industrial de Campo Grande (ACICG) sobre quais devem ser os motivos dos fechamentos de comércios no Centro, Sérgio Seiko Yonamine, arquiteto da ACICG, representante do órgão no Conselho Municipal de Desenvolvimento e Urbanização (CMDU), afirmou: “A existência de imóveis comerciais para alugar na área central pode ter como justificativa uma série de fatores, como a crise sanitária da pandemia da Covid-19, com impacto muito forte na economia nacional, regional e local; o fortalecimento da atividade comercial e de serviços nos bairros, provocando a descentralização dos negócios; o valor dos aluguéis no Centro, reajustados após as obras de revitalização, dificultando ainda mais para o empresário manter-se na localidade, que já possui um valor mais alto de IPTU”, declara Seiko.

A Associação Comercial também reitera que neste momento não há um levantamento com números precisos de diminuição de estabelecimentos no Centro, a última pesquisa realizada nesse sentido é de 2017, a qual apontou 200 estabelecimentos fechados no quadrilátero que compreende as ruas Rui Barbosa e Calógeras, e as avenidas Fernando Corrêa da Costa e Mato Grosso.

“Para avaliar precisamente se há diminuição de comerciantes no Centro, seria preciso ter mais informações da Junta Comercial sobre o fechamento de empresas na região, o que não temos disponível. Sinalizamos que em 2017, um levantamento realizado pela ACICG, entre os meses de fevereiro e março, apontou que, somente no quadrilátero que compreende as ruas Rui Barbosa e Calógeras, e as avenidas Fernando Correa da Costa e Mato Grosso, no centro da Capital, existiam 200 estabelecimentos fechados”, diz nota.

REVIVA CAMPO GRANDE

O projeto de revitalização do centro da cidade está em andamento desde 2012, quando o ex-prefeito Nelsinho Trad (na época no MDB) iniciou mudanças nas fachadas dos estabelecimentos comerciais da região central da Capital, conforme reivindicado pela Associação Comercial.

Intitulado na época como Reviva Centro, a proposta inicialmente era a despoluição visual da área comercial. Seis anos depois a Prefeitura de Campo Grande lançou, oficialmente, o início das obras do Programa Reviva Campo Grande. A intervenção começou no cruzamento da Avenida Fernando Corrêa da Costa com a Rua 14 de Julho e seguiu até a Avenida Mato Grosso.

Prefeito da época, Marquinhos Trad (PSD) pontuou que o projeto é fruto de quase uma década de trabalhos.

Além da 14 de Julho, o Programa Reviva Campo Grande realizará intervenções em várias vias do centro da cidade adjacentes à Rua 14 de Julho, inseridas no quadrilátero que compreende as ruas Calógeras, Padre João Crippa, Fernando Corrêa da Costa e Mato Grosso.

O projeto prevê que todas receberão melhoria na infraestrutura, acessibilidade dos passeios públicos, arborização, iluminação e sinalização.

O projeto da requalificação, que até então a maior mudança no Centro foi na Rua 14 de Julho, promoveu uma intervenção urbana com extensão de 1.400 metros lineares em área central, que ampliou as calçadas, converteu os fios das redes elétricas aéreas para subterrâneas e a implementou paisagismo no passeio público. A obra na via durou dois anos ao todo.

Saiba: As obras do Reviva Campo Grande estão com a segunda etapa em andamento. Estão sendo finalizadas as obras do microcentro, recapeamento e calçadas, com previsão de entrega para este mês. O investimento é financiado com empréstimos junto ao Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), de US$ 56 milhões.

JUDSON MARINHO

CORREIO DO ESTADO