Zimbabué vai sacrificar 200 elefantes para alimentar população

18/09/2024 04h20 - Atualizado há 2 mêses

Risco de fome aguda atinge quase metade da população do país que enfrenta a pior seca em décadas

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O elefante macho Doma e o elefante macho Mainos adotam um comportamento de saudação na Reserva de Jafuta, no Zimbábue, em foto sem data • Vesta Eleuteri/Divulgação via REUTERS

O Zimbábue autorizou um massacre de elefantes para alimentar cidadãos famintos na pior seca no país em décadas.

Com quase metade da população do país enfrentando o risco de fome aguda, “estamos mirando em abater 200 elefantes”, disse Tinashe Farawo, porta-voz da Autoridade de Parques e Vida Selvagem do Zimbábue, à CNN nesta segunda-feira (16).

A medida segue uma decisão na Namíbia de abater elefantes e outros animais selvagens para aliviar a insegurança alimentar alimentada por uma seca prolongada. Os abates atraíram críticas de ativistas dos direitos dos animais e conservacionistas.

O Zimbábue abriga mais de 84 mil elefantes, disse Farawo, cerca do dobro de sua “capacidade de 45 mil”, acrescentou.

A população de elefantes do Zimbábue é a segunda maior do mundo, superada apenas pela de Botsuana.

A ministra do Meio Ambiente Sithembiso Nyoni disse aos parlamentares na semana passada que “o Zimbábue tem mais elefantes do que precisamos e mais elefantes do que nossas florestas podem acomodar”.

Ela acrescentou que a superpopulação de elefantes “causa falta de recursos” para seu sustento, o que alimenta o conflito entre humanos e animais selvagens no país.

“Estamos discutindo com a Zim Parks (Autoridade de Parques e Vida Selvagem do Zimbábue) e algumas comunidades para fazer como a Namíbia fez para que possamos contar os elefantes, mobilizar as mulheres para talvez secar a carne e embalá-la para garantir que chegue a algumas comunidades que precisam da proteína”, disse Nyoni.

“Quando há uma superpopulação de animais selvagens em um parque específico, eles então procuram sair do parque para procurar outros recursos, como água ou vegetação. Quando isso acontece, eles entram em contato com os humanos e os conflitos começam”, acrescentou.

Na Namíbia, 700 animais selvagens, incluindo elefantes, foram aprovados para abate no mês passado e para que sua carne fosse distribuída a pessoas que enfrentam insegurança alimentar.

Mais de 150 animais já foram mortos, disse o Ministério do Meio Ambiente, Silvicultura e Turismo da Namíbia, com mais de 125 mil libras de carne divididas.

Zimbábue e Namíbia são apenas dois dos muitos países no sul da África sofrendo uma seca severa causada pelo El Niño — um padrão climático natural que resultou em pouca chuva na região desde o início do ano. Os países também são vulneráveis ​​a secas agravadas pelas mudanças climáticas.

Farawo, o porta-voz dos parques, disse à CNN que o abate começará assim que a autoridade concluir a papelada necessária.

“Estamos fazendo a papelada… para que possamos começar o mais rápido possível”, ele disse, acrescentando que o abate planejado teria como alvo áreas com uma grande população de elefantes.

Os abates de elefantes propostos no Zimbábue e na Namíbia foram fortemente criticados.

“O abate de elefantes deve ser interrompido”, Farai Maguwu, que lidera o grupo de advocacia sediado no Zimbábue, o Center for Natural Resource Governance, disse em um post no X.

“Os elefantes têm o direito de existir”, ele escreveu, acrescentando que “as gerações futuras têm o direito de ver os elefantes em seu habitat natural”.

O biólogo conservacionista e consultor de recursos naturais Keith Lindsay também expressou seu desconforto em usar a vida selvagem para aliviar a insegurança alimentar, dizendo à CNN que é “muito provável que isso leve a uma demanda mais regular e contínua por carne de caça, o que seria insustentável”.

Farawo, no entanto, disse que a decisão do Zimbábue de abater elefantes — seu primeiro abate desde 1988 — foi parte de medidas mais amplas para reduzir o conflito entre elefantes e humanos, após uma série de ataques de elefantes a humanos.

“Os animais estão causando muita devastação nas comunidades, matando pessoas. Na semana passada, perdemos uma mulher na parte norte do país que foi morta por um elefante. Na semana anterior, a mesma coisa aconteceu. Então (o abate) também é uma forma de controle”, disse ele.

Pelo menos 31 pessoas morreram no Zimbábue este ano como resultado do conflito entre humanos e animais selvagens, informou a mídia local.

Laura Paddison, da CNN, contribuiu para esta reportagem.

Nimi Princewill, da CNN