Vacinação baixa entre gestantes eleva risco de doenças graves em bebês
Profissionais de saúde recomendam que imunização desse público ocorra antes mesmo do início da gravidez
Os vírus da coqueluche, influenza e Covid-19 já levaram quase 500 bebês à internação em 2024 e mataram mais de 20 gestantes ou puérperas em 2023. A situação pode ser explicada pela taxa de vacinação do país em patamar aquém do desejado pelas autoridades de saúde, já que existem vacinas gratuitas e com eficácia comprovada contra as formas graves dessas doenças.
A cobertura da Dtpa, ou tríplice bacteriana acelular, por exemplo, foi de apenas 75% em 2023. Essa é uma vacina aplicada quase exclusivamente em grávidas e deve ser tomada em todas as gestações, justamente para proteger os recém-nascidos da coqueluche. Mas ela também protege a gestante e o bebê contra o tétano e a difteria.
Essas vacinas são recomendadas para grávidas, para protegê-las nessa fase mais vulnerável e garantir que os bebês já nasçam com anticorpos.
O diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações, Juarez Cunha, explica que a chamada hesitação vacinal é causada por muitos fatores. O mais consolidado deles é a falta de percepção de risco. Ele também chama a atenção para o desafio da comunicação, em tempos de “infodemia”, a “pandemia de desinformação”.
A última vez que o Brasil teve um surto de coqueluche foi em 2014, mas o Ministério da Saúde alertou na semana passada, que vários países do mundo têm tido aumento de casos, e essa onda pode chegar aqui. Até o começo de abril, foram 31 infecções comprovadas, e mais de 80% delas em bebês de até seis meses.
O SUS (Sistema Único de Saúde) também vacina os bebês contra a coqueluche, mas apenas a partir dos 2 meses de idade, completando o esquema aos 6 meses. Ou seja, as maiores vítimas da coqueluche dependem totalmente da vacinação na gravidez para não adoecerem.
A ginecologista Nilma Neves diz que os profissionais que acompanham o pré-natal devem não somente prescrever as vacinas, mas também conferir se elas foram tomadas e questionar as grávidas sobre suas dúvidas e medos, já que muitas têm medo de tomar qualquer substância ou remédio e acabar afetando o bebê.
No caso da vacina contra a gripe, nem os chamados Dias D, com aplicação aos sábados, conseguiram fazer com que a meta de cobertura fosse alcançada. Atualmente, as regiões Nordeste, Centro-Oeste, Sul e Sudeste, estão em campanha. Mais de 1,7 milhão de grávidas faz parte do público alvo e nem um quarto delas se vacinou.
O imunizante protege contra três cepas do vírus Influenza, um dos principais causadores da Síndrome Respiratória Aguda Grave, que pode levar à morte, especialmente de pessoas vulneráveis, como bebês pequenos e grávidas.
Outro grande causador da síndrome é a Covid-19, que também pode provocar inflamação em diversas partes do corpo. Há evidências de relação entre a Covid-19 e efeitos como aborto espontâneo, restrição de crescimento no útero e parto prematuro.
A Fiocruz já identificou que a quantidade de mortes entre grávidas ou pessoas que acabaram de dar à luz nos dois primeiros anos da pandemia foi quase 70% a mais do que o habitual. Ainda assim, a vacina contra a Covid-19 encontra grande resistência.
Gestantes e puérperas devem tomar a nova vacina monovalente xbb da Moderna, que está sendo aplicada pelo SUS.
De acordo com o Ministério da Saúde, desde o início da vacinação contra a doença em 2021, quase 2,2 milhões de mulheres se vacinaram. Mas essa quantidade é inferior à previsão de gestantes e puérperas que devem se vacinar somente este ano, cerca de 2,24 milhões.
O calendário básico de vacinação do SUS também recomenda que a gestantes recebam a vacina contra a hepatite B, caso não tenham sido vacinadas anteriormente, ou completem o esquema de três doses se ele estiver incompleto. Também é preciso iniciar ou completar a imunização com a DT, que protege contra tétano e difteria em três doses, com reforço a cada dez anos.
Nilma Neves reforça que o ideal é que, antes mesmo de engravidar, as famílias confiram o cartão de vacinas da gestante para que ela receba a tríplice viral, que protege contra sarampo, caxumba e rubéola, e não pode ser tomada durante a gestação.
Tâmara Freire da Agência Brasil