TJ-RJ concede liberdade provisória à mulher presa por injúria racial
Maria Francisca Alves de Souza, de 58 anos, foi presa no sábado (28).
Juíza determinou soltura um dia depois; Volta para senzala, teria dito ela.
Presa em flagrante por injúria racial no sábado (28), Maria Francisca Alves de Souza deve deixar o Complexo Penitenciário de Gericinó nesta segunda-feira (30). Ela é acusada de ofender o gerente de um supermercado no Leblon, Zona Sul do Rio. No domingo (29), o Tribunal de Justiça do Rio (TJ-RJ) concedeu liberdade provisória à mulher de 58 anos.
Até 8h30 desta segunda (30), no entanto, ela seguia detida, de acordo com a Secretaria de Administração Penitenciária (Seap). A decisão da juíza Ana Luiza Coimbra Mayon Nogueira acolheu pedido do Ministério Público e impõe o comparecimento mensal da ré em juízo.
Não estando presentes os motivos autorizadores da custódia preventiva, concedo a Maria Francisca Alves de Souza a liberdade provisória, mediante termo de comparecimento mesal em Juizo. Expeça-se alvará de soltura, diz o texto.
Entenda o caso
O caso ocorreu por volta das 20h, em um dos endereços mais nobres do bairro: a Rua Dias Ferreira, conhecida pela grande movimentação de bares e restaurantes, sobretudo à noite (veja o vídeo).
Testemunhas contaram ao G1 que a suspeita insultou o funcionário com frases como Volta para sua senzala e quilombo. De acordo com um dos funcionários, a mulher fez as ofensas depois que o colega que teria sido vítima de racismo se negou a lhe prestar um favor — buscar um produto enquanto ela aguardava na fila do caixa — o que motivou a discussão. Ela também teria achado que foi tratada com deboche por uma caixa.
O funcionário que denuncia ter sido ofendido é um gerente, identificado como Paulo Roberto Gonçalves Navaro, 45 anos. Ele se disse indignado com as ofensas e chamou a polícia. Infelizmente é muito triste que hoje em dia aconteça isso, afirmou Paulo.
No local, a mulher se defendeu dizendo que senzala e quilombo são, na visão dela, exaltações à raça negra. Olhem as senzalas das telas de Debret, em referência ao pintor francês Jean-Baptiste Debret, conhecido por suas pinturas sobre o período escravocrata brasileiro no século 19. Sobre o quilombo, a mulher diz se referir a Zumbi dos Palmares, líder negro e, segundo ela, ícone da resistência negra.
Houve um princípio de confusão e gritos de racista até policiais do Batalhão do Leblon chegarem ao local. A mulher, o funcionário e outras testemunhas prestaram depoimento na delegacia do bairro.
A Polícia Civil classificou o crime como injúria racial e prendeu a agressora. Maria Francisca foi indiciada pelo crime de injúria racial, que é afiancável. Mas, como ela não pagou, foi levada para o Complexo Penitenciário de Bangu, na Zona Oeste do Rio, na manhã deste domingo (29).
Em depoimento, ela afirmou ter falado as injúrias contra o funcionário do mercado, sem a intenção de ofendê-lo. Ela já tem um antecedente criminal por injúria.
Infelizmente esse tipo de crime é comum, mas muita gente não vem à delegacia para relatar. É importante o relato de testemunhas para que as medidas sejam tomadas. Estamos voltando ao discurso do ódio. E racismo é crime, disse a delegada Monique Vidal.
A Secretaria de Estado de Assistência Social e Direitos Humanos (SEASDH) divulgou nota na tarde deste domingo, repudiando a ocorrido. A SEASDH se alia aos brasileiros que condenaram essa atitude de discriminação racial, esperando que os fatos sejam rigorosamente apurados e as providências legais cabíveis sejam tomadas, diz a nota.
Quem quiser denunciar quaisquer ações ou comportamentos de que evidenciem preconceito ou discriminação racial pode ligar para a Ouvidoria da secretaria – ( 21) 2334-5587/ 2334-5577/ 2334-5553/ 2334-5591 – ou mandar e-mail: [email protected].