Quem são os acusados de criar um Estado paralelo na Turquia

21/07/2016 00h00 - Atualizado há 4 anos
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Divulgação

A partir de seu exílio nos Estados Unidos, o pregador muçulmano Fethullah Gülen nega ter fomentado o golpe de Estado frustrado na Turquia. Seus seguidores formam um Estado paralelo, como insiste o presidente Recep Erdogan, ou são simplesmente bodes expiatórios?

O que é o gulenismo?

É uma tendência, mais que uma organização centralizada. Exilado nos Estados Unidos desde 1999, quando foi alvo de uma investigação na Turquia, seu chefe, Fethullah Gülen, nunca deu um nome oficial ao movimento.

A favor de um Islã aberto e tolerante, seus membros falam de Hizmet, o serviço, a serviço do bem comum. Seu objetivo é transformar a sociedade graças à educação, à ação cívica e aos meios de comunicação.

Seus adversários, começando por Recep Tayyip Erdogan, os chamam de FETÖ/PDY, acrônimo que significa Organização terrorista/Estrutura estatal paralela, cujas letras lembram o nome do líder do movimento.

Quando surgiu a oposição entre Gülen e Erdogan?

Um analista turco, que pediu o anonimato, afirma que os dois homens não são politicamente incompatíveis, adversários do kemalismo, partidários de um islamismo moderado e de um programa conservador. Durante muito tempo foram aliados e, quando Erdogan era primeiro-ministro, se apoiou na comunidade gulenista para reforçar seu poder, diante da influência kemalista e laica na administração.

Após meses de tensão, a ruptura ocorreu no fim de 2014 após uma série de investigações judiciais em torno da cúpula de poder. Erdogan as encarou como uma operação dos juízes gulenistas. Também pensou que Gülen estava por trás da publicação das escutas telefônicas contra o governo.

Qual é a influência real dos gulenistas?

Na quarta-feira, os meios de comunicação turcos divulgaram a confissão de um dos golpistas, ex-ajudante de Hulusi Akar, chefe do Estado-Maior do exército. O tenente-coronel Levent Türkkan explicou que entrou no exército em 1989 graças aos partidários de Gülen. Para colaborar com os gulenistas, teria colocado sob escutas Akar, assim como seu antecessor, Necdet Özel.

Os empresários e industriais gulenistas têm sua própria organização, Tuskon.

Por sua vez, segundo as estimativas, a rede gulenista administra no país ao menos 300 centros de educação, do ensino primário à universidade.

Vários meios de comunicação, como o jornal Zeman, um dos de maior tiragem do país, pertencem a este movimento. Em março, as autoridades se apoderaram do jornal.

Como explicar a magnitude do expurgo?

Desde a tentativa de golpe, 10.000 pessoas foram detidas e outras 55.000 suspensas, em todos os setores: a magistratura, o exército, a educação, o ministério dos Esportes...

Este número impressionante pode ser explicado porque se misturaram simpatizantes não ativos ou usuários de escolas, por exemplo, com gente que está no centro do movimento, estima Jean-François Pérouse, pesquisador do Instituto Francês de Estudos Anatolianos de Istambul.

As listas estavam preparadas, segundo um analista turco sob anonimato. Depois da limpeza nos meios de comunicação e na polícia, o expurgo do exército estava previsto para o início de agosto, segundo Pérouse. A tentativa frustrada de golpe permitiu acelerar o processo, segundo ele.

Contra quem são os expurgos?

É difícil saber qual método é utilizado para determinar os objetivos dos expurgos. Segundo o cientista político Ahmet Insel, o poder sabe onde atinge. Mas, na justiça, há uma vontade de limpar para além dos círculos gulenistas, com pessoas que poderiam tomar decisões incômodas para o poder.

Embora continuem existindo muitas dúvidas, no blog Ovipot (Observatório da vida política turca), Jean-François Pérouse aborda a tipologia dos golpistas: aos oficiais simpatizantes de Fethullah Gülen se somam os sub-oficiais de tendência extrema laica e ferozmente opostos ao governo ou outros que seguiram a tentativa por cálculo, para sua carreira militar pessoal.

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