Primeira deflação em um ano reduz pressão sobre BC para subir juro, dizem analistas
Inflação oficial, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), desacelerou em agosto e apresentou primeira queda desde junho de 2023
A primeira deflação registrada pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em mais de um ano abre caminho para uma política monetária menos agressiva por parte do Banco Central (BC), na avaliação de economistas ouvidos pela CNN.
Na avaliação de Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos, a surpresa positiva com o dado se soma ao direcionamento dos diretores da autarquia sobre a dependência de indicadores para a tomada de decisão. Dessa maneira, o economista entende que ainda não está cravada a necessidade de elevar os juros.
“Todas as declarações de diretores do BC reafirmaram a dependência dos dados para a tomada de decisão, o que faz com que a surpresa baixista e estruturalmente benigna do IPCA deixe a possibilidade de manutenção da Selic bem viva, conforme projetamos”, escreveu Sanchez.
A autoridade monetária se reúne na próxima semana para decidir sobre o futuro da taxa básica de jutos da economia (Selic). A taxa vem sendo mantida em 10,50% ao ano desde maio, quando o BC anunciou a última queda do atual ciclo.
A inflação oficial desacelerou em agosto, com leve queda de 0,02%. No mês anterior, o índice havia registrado alta de 0,38%, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A última vez que o IPCA havia registrado queda foi em junho de 2023, quando caiu 0,08%.
Com o resultado do mês, o índice se distancia um pouco do teto da meta para a inflação, de 4,5%.
Para o economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Nicolas Borsoi, ainda não é possível estabelecer se Comitê de Política Monetária (Copom) irá optar pela manutenção dos juros na reunião da próxima semana. No entanto, o especialista sinaliza: “vai ser bem estranho o Copom subir juros com essa melhora no IPCA. Provavelmente o IPCA vai fechar abaixo do teto da meta este ano”.
O Inter, em seu comunicado, considera o resultado “bastante positivo”, tanto do ponto de vista qualitativo, quanto do qualitativo.
A instituição financeira entende que uma alta dos juros não é necessária tendo em vista o cenário atual, mas reconhece que a desancoragem das expectativas inflacionárias nos últimos meses terá maior peso sobre o processo decisório do Copom.
Apesar disso, o Inter pontua que o resultado desta terça-feira contribui para uma inflação mais comportada que, somada alívio externo com um provável corte de juros nos Estados Unidos, deve fortalecer argumentos para uma postura menos enérgica do BC.
“Com uma inflação bem-comportada, além do esperado alívio externo à medida que o Fed cortar juros, antecipamos que o ciclo de alta será curto, tanto em quantidade de altas, quanto na magnitude dessas altas”, diz o Inter.
Mercado aquecido
O número negativo visto em agosto ainda não consolida as leituras de que a inflação deverá seguir a tendência de queda. Para o economista da Fundação Getúlio Vargas, André Bráz, os preços subirão em setembro, impactados principalmente pela mudança na bandeira tarifária de energia elétrica.
“O cenário entre agosto e setembro mudou bastante e o IPCA passa a indicar uma grande aceleração, uma vez que a energia se tornou mais cara devido à bandeira vermelha patamar 1 e forte desaceleração na queda dos preços dos alimentos. Ambos ainda são afetados pela seca que afeta a geração de energia e a produção de alimentos”.
A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) adotou a bandeira vermelha 1 para setembro, mais cara que a de agosto.
Bráz também diverge na leitura sobre os impactos do resultado na política monetária. O pesquisador ressalta que o aquecimento do mercado de trabalho, aumento da demanda e câmbio desvalorizado são outros fatores que irão contribuir para o aumento do IPCA de setembro.
Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research também cita o crescimento robusto da economia como fator importante de pressão sobre os preços. “Embora esse crescimento seja positivo para a atividade doméstica, pode gerar pressões inflacionárias ou retardar o ritmo de desaceleração”.
Para o especialista, soma-se a isso as expectativas de inflação desancoradas e uma taxa de câmbio acima de R$ 5,50. “O BC deverá iniciar um ciclo de ajuste gradual da taxa de juros na próxima reunião, de 0,25 p.p., levando a Selic para 11,25% a.a. até o final do ano”, diz em nota.
Da CNN, São Paulo