PM's relatam embate com Exército e cenário de 'caos total' durante invasões extremistas

21/07/2023 04h10 - Atualizado há 1 ano

Depoimentos obtidos pelo R7 falam sobre número reduzido de militares e agressão por parte dos manifestantes no 8 de Janeiro

Cb image default
MARCELO CAMARGO/AGÊNCIA BRASIL

Policiais militares do Distrito Federal que atuaram no 8 de Janeiro afirmaram à Justiça que o Exército dificultou a ação para deter os manifestantes extremistas, tendo, inclusive, dado liberação para algumas pessoas pela porta dos fundos do Palácio do Planalto. Os PM's também relataram agressão por parte dos invasores e uma situação de "caos total" por estarem com efetivo reduzido.

As declarações fazem parte de uma investigação que caminha no Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT) contra o segundo-tenente Marco Aurélio Teixeira Feitosa por uma suposta agressão contra uma das manifestantes. A ação penal militar foi apresentada pelo Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT).

O R7 teve acesso a parte dos depoimentos feitos durante o processo, que ainda não possui decisão. As informações também fazem parte do material obtido pela Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do 8 de Janeiro.

No depoimento, o segundo-tenente Marco Teixeira revelou ter sido uma decisão dele deslocar o grupo para atuar nas proximidades do Congresso Nacional, já que a ordem inicial era manter-se posicionado em um hotel na Região Central de Brasília. O grupo, com 20 homens e 16 voluntários foi dividido em duas frentes, parte atuando no Congresso e a outra indo para o Planalto. 

Ouvido no processo, o subtenente Beroaldo José de Freitas Júnior revelou que, no Planaltou, houve um "embate entre a PM e o Exército". A divergência se deu em razão das prisões dos manifestantes. "O Exército queria liberar todos eles. Inclusive vários foram soltos pela porta dos fundos do Palácio. Por decisão nossa, da nossa tropa de choque, nós não íamos participar disso. Que quem estava ali, estava preso", afirmou no depoimento.

O subtenente também revelou ter sido agredido e "quase morto" pelos agressores. "O clima era de caos total. Até porque a nossa tropa estava com aproximadamente 20 homens. Acredito que eram mais de 200 de pessoas lá no interior do Palácio. E nós já tínhamos enfrentado eles lá fora", relatou, completando que houve dificuldade em colocar os manifestantes de forma ordeira para efetuarem as prisões. "Todo tempo esperávamos uma debandada [...]. Era um número de policiais muito inferior e com dificuldade com o Exército que não queria que efetuássemos prisões."

A soldado a que se refere Beroaldo é a cabo Marcela Pinno. Ela também prestou depoimento neste caso e estava sob o comando de Marco Teixeira. No entanto, ela estava com a parte do grupo que atuou no Congresso. Marcela foi empurrada de uma das cúpulas do prédio e caiu de uma altura de aproximadamente três metros. Depois, ela foi agredida por manifestantes e teve o capacete a prova de balas amassado por uma barra de ferro e precisou ser resgatada por outros militares da tropa.

"Há de se frisar a agressividade dos manifestantes e a quantidade de vândalos que se encontravam ali. [...] Fui jogada da cúpula, consegui retornar para a linha e quando estava praticamente chegando, fui atacada novamente, jogada ao chão, agredida várias vezes com pedaço de pau e com o próprio gradil que servia para contenção", detalhou a militar.

O major Gustavo Cunha de Souza, que também prestou depoimento nesse processo e era responsável pelo comando da tropa de Choque, frisou o baixo número de policiais atuando em relação aos manifestantes e disse ter sido complicado contê-los. "Até fazer todo mundo sentar e deitar no chão teve bastante resistência, demorou. Não foi de imediato".

O major estimou que, no Planalto, havia, no máximo, 10 PM's, além do apoio de militares das Forças Armadas. Gustavo Cunha citou que um dos coronéis do Exército pediu apoio, mas que outro "meio que tentou barrar a nossa entrada quando a gente arrancou as barricadas", mas que, após a PMDF ter dado ordem de prisão, não houve desautorização por parte do Exército.

Ao R7, o Exército afirmou que "quaisquer esclarecimentos em relação aos depoimentos sobre os acontecimentos relacionados ao evento de 8 de janeiro, serão prestados exclusivamente aos órgãos competentes pelas apurações" e que o "Exército não se manifesta no transcurso de processos de investigação".

Gabriela Coelho e Bruna Lima, do R7, em Brasília