Paixão pelo vinho leva Galvão Bueno a produzir uvas no Rio Grande do Sul
São 40 anos de narrações esportivas. Fórmula 1, futebol, dez copas do mundo. A figura tão conhecida da televisão também se aventura por outros gramados.
Nessa reportagem você conhece um Galvão Bueno diferente que do que estamos acostumados. A paixão pelos vinhos levou ele para o campo, para produção de uvas.
É montado num cavalo crioulo que ele gosta de ver de perto o desempenho das videiras. “É um dos maiores prazeres da minha vida, e uma realização pessoal sem tamanho”, afirma.
Galvão percorre os parreirais e acompanha o trabalho de colheita. “Eu comecei a conhecer os vinhos quando comecei a viajar pelo mundo. Aí eu também tive a oportunidade de conhecer vinhos de Portugal, Espanha, Itália, França. Conheci enólogos, visitei vinhedos e botei na cabeça: um dia vou fazer um vinho. E de uns anos pra cá, de 10 anos pra cá... Isso aqui é uma joia, na campanha gaúcha”, conta.
A fazenda de 108 hectares fica no município da Candiota, no Rio Grande do sul, no pampa gaúcho. A região é conhecida tradicionalmente pela pecuária, mas nos últimos anos vem se destacando pela produção de uvas para vinho, graças às características do ambiente, que formam o chamado terroir.
“Terroir é uma expressão de final, de copa, de vegetação, de solo, do clima em geral”. O agrônomo Edvard Kohn, o Edinho, explica que uma das principais vantagens da região são os verões mais secos, clima ideal para a fase de maturação dos frutos. Diferentemente das uvas de mesa, que se destacam pela qualidade da polpa, nas uvas para vinho, casca e sementes têm muito valor. Por isso, o fruto não precisa ser graúdo para ser bom.
“O que mais importa é a relação casca/polpa. Por exemplo, se eu colher cachos pequenos, bagas pequenas, eu vou ter uma relação muito menor, vou ter vinhos menos diluídos, mais encorpados. Quando a baga ficar muito grande eu vou ter um volume maior de polpa, de líquido para uma superfície menor de casca e de sementes, que é onde estão os compostos aromáticos, os taninos mais macios. A cor tá na casaca, os aromas estão na casca”, explica.
Só de videiras, são 30 hectares plantados. Entre as uvas cultivadas estão a petit verdot, a cabernet sauvignon, e a merlot, a preferida de Galvão. “Cada país tem sua bandeira, a bandeira da Argentina é o malbec, do Chile, o cabernet sauvignon, A do Brasil tem que ser o merlot. É o q faz o gol”, afirma.
Galvão está satisfeito com os resultados. “Um recadinho que me foi dado por um mestre dos vinhos Michael Roland, francês. Ele me disse: ‘Galvão, o problema do vinho brasileiro não é qualidade, é o preconceito’. Temos qualidade, a indústria do vinho do Brasil cresce a cada dia, porquê se tomar um vinho dos vizinhos com menor qualidade do que aquele que nós fazemos aqui?”, questiona.
As uvas colhidas no vinhedo são levadas para a cantina de uma vinícola que fica a poucos quilômetros da propriedade. Os frutos passam pela primeira etapa de processamento. A finalização, a parte de envelhecimento em barricas, é feita numa unidade de Bento Gonçalves, na Serra Gaúcha.
“A uva tinta é prensada imediatamente, por isso no vinho rosé não solta cor. Ele vai pra fermentação sem a presença da casca, como se fosse um vinho branco, nesse caso é um rosé”, explica o enólogo.
O enólogo responsável pela produção de Galvão Bueno é italiano, mas Adriano Miolo e Miguel Almeida, também enólogos, auxiliam no processo de transformação das uvas em vinho. “Este vinho vai ter duas fermentações, uma em ambiente aberto e depois tem uma fermentação fechada na garrafa. É daí que vem a perlage. Nos espumantes, quanto menor for a perlage, ou a bolinha, melhor qualidade vai ter o vinho”, explica Miguel e Galvão.
Acompanhar o processamento também faz parte da rotina do Galvão quando ele está no Rio Grande do Sul. “Eu não sou enólogo, não sou somelier, não sou enófilo – porque detesto a palavra - eu tento não ser enochato, mas aos pouquinhos acho que aprendi um pouco”, diz.
O Galvão separou alguns dos vinhos produzidos por sua vinícola, entre eles um pinot noir. “Esse pinot expressa de fato o terroir da campanha. Ele tem uma expressão forte de fruta inicialmente, uma acidez equilibrada, muito agradável, muito fácil de tomar”, diz Adriano.
O primeiro vinho produzido pela vinícola, é um tinto feito com uma mistura de uvas. “Esse é aquele que eu digo... que precisa dar um tempo a ele. Ele está ganhando oxigênio... O álcool se transforma em buquê”.
“Acho que tudo que eu fiz até agora foi uma declaração de amor, tenho paixão, por aquilo que nós fazemos, tenho paixão pelos vinhos, acho cada um deles uma obra de arte... Não sei aonde quero chegar como vinicultor, eu quero ser feliz, e fazer meus vinhos, e que as pessoas gostem. Saúde para vocês!”, declara Galvão.
Em alguns dos países onde mais se bebe vinho no mundo, como a França e Portugal, o consumo médio passa de 40 litros por pessoa por ano. No Brasil, esse consumo é de apenas dois litros! Temos muito o que crescer.
Cristina Vieira - Candiota - RS
Globo Rural
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