O sofrimento e a impotência dos pais de extremistas franceses

29/07/2016 00h00 - Atualizado há 4 anos
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Divulgação

Adel Kermiche e Abdel Malik Petitjean degolaram um padre no noroeste da França em nome do grupo Estado Islâmico. Contudo, seus pais haviam tentando, em vão, mudar sua conduta. Mas como fica a vida quando um filho se radicaliza?

Preocupada com a intenção de viajar à Síria do jovem Adel, a família Kermiche contactou as autoridades para sinalizar o seu desaparecimento no momento da sua primeira tentativa, em março de 2015.

Depois de tentar fazer a viagem uma segunda vez, em maio de 2015, sua mãe foi entrevistada pelo jornal suíço La Tribune de Genève, mencionando um menino feliz, que foi enfeitiçado, como em uma seita.

A família tentou endireitar o jovem a qualquer preço. Em vão.

Mais de um ano depois, Adel Kermiche e Abdel Malik Petitjean, ambos de 19 anos, juraram fidelidade ao grupo extremista Estado Islâmico. Na terça-feira, eles entraram numa igreja de Saint Etienne du Rouvray (noroeste) e degolaram o padre Jacques Hamel, de 86 anos.

Mais de um ano antes do ataque, a mãe de Adel reconhecia sua impotência frente a situação: não sabemos a quem recorrer para nos ajudar.

Mais e mais famílias se veem afetadas por fenômenos de radicalização ou pela partida repentina de um parente, e buscam associações de apoio.

De acordo com os números mais recentes, pelo menos 680 cidadãos franceses ou residentes na França estariam presentes na Síria e no Iraque.

Totalmente impotentes, as famílias que buscam ajuda das associações passam por um grande sofrimento e um grande sentimento de culpa, explica à AFP Amélie Boukhobza, psicóloga clínica e membro da organização EntrAutres, presente em toda a França.

O objetivo destes atores não é tanto ajudar os menores radicalizados, que de toda forma não pedem [esta ajuda], mas os pais.

Entre o amor e a injúria

Não há perdão, reconhece a especialista, mas o amor dos pais está presente o tempo todo, apesar de tudo.

Eu amo você, eu sinto sua falta, dizia em uma mensagem de voz na quarta-feira a mãe de Abdel Malik Petitjean, segundo jihadista de Saint Etienne du Rouvray. Ela não podia acreditar no envolvimento de seu filho, que estava prestes a ser revelado.

Mesmo quando os filhos partem para se juntar às fileiras extremistas, as famílias tentam manter uma ligação, algumas têm um contato regular e até mesmo diário.

Trocam fotografias, vídeos, relatam sobre o seu dia, o tempo que passa, antes que apareçam as injúrias: os filhos começam a tratar seus pais como infiéis, repreendendo-os por continuar a viver no Ocidente, explica Amélie Boukhobza.

Eu cortei todas as relações [com a minha filha] há cinco meses, diz Ivan Sovieri, cuja filha, A., de 29 anos, foi para a Síria com o marido e os filhos. Sofria quando conversávamos, então não quis saber mais dela, relata.

Depois de algumas conversas tensas, A. chegou a rejeitar seu pai. Para minha filha, a única coisa que importa é Alá e nada mais, afirma Ivan Sovieri, convencido de que não a verá novamente.

Para essas famílias, uma partida [para a Síria ou o Iraque] significa uma morte de qualquer maneira. É uma perda quase certa, diria 99% certa, diz Patrick Amoyel, psicanalista e responsável por EntrAutres.

A isso, soma-se o pânico generalizado de que seu filho seja responsável por um ataque.

Cada vez que há um ataque na França, as famílias têm apenas um medo: será que meu filho estava entre as pessoas e cometeu este ato?, indaga Amélie Boukhobza.

Não há nada a fazer, lamenta Ivan. Apenas cruzar os dedos para que nada aconteça.

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