Menina de quatro anos morre de fome em Gaza em meio a crise alimentar

21/07/2025 05h39 - Atualizado há 10 dias

Ao menos 76 crianças morreram de desnutrição no território desde o início do conflito, em outubro de 2023, além de dez adultos, segundo Ministério da Saúde palestino

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Palestinos se reúnem para receber comida feita por cozinha de caridade em Khan Younis, na Faixa de Gaza • 02/01/2025 REUTERS/Hatem Khaled

Razan Abu Zaher, uma menina de quatro anos, morreu em um hospital no centro da Faixa de Gaza neste domingo (20) devido a complicações causadas pela fome e desnutrição, de acordo com uma fonte médica.

Ao menos 76 crianças morreram de desnutrição no território desde o início do conflito, em outubro de 2023, além de dez adultos, segundo o Ministério da Saúde palestino.

Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), a maioria dessas mortes ocorreu após as autoridades israelenses terem imposto um bloqueio ao envio de ajuda humanitária no início de março.

Razan foi uma das quatro crianças que faleceram nos últimos três dias, sendo que a mais nova tinha apenas três meses.

Nas últimas 24 horas, 18 mortes foram registradas devido à fome em Gaza, segundo o Ministério da Saúde, refletindo o agravamento da crise no território.

A CNN encontrou Razan pela primeira vez há um mês. Ela já estava fraca de fome e muito magra. A mãe dela, Tahrir Abu Daher, disse na época que não tinha dinheiro para comprar leite, que, aliás, raramente estava disponível.

“Sua saúde era muito boa antes da guerra, mas depois dela sua condição começou a se deteriorar devido à desnutrição. Não há nada que a fortaleça", comentou.

Isso foi em 23 de junho. Razan já estava hospitalizada há 12 dias. Ela lutou pela vida por mais 27 dias.

Bloqueios à ajuda humanitária intensificam fome em Gaza

A garota morreu em meio à crescente fome em Gaza e à redução do fluxo de ajuda humanitária. No início de março, autoridades israelenses proibiram a entrada de comboios com suprimentos no território palestino.

Essa proibição foi parcialmente suspensa no final de maio, mas agências humanitárias afirmam que a quantidade de ajuda que chega ao território é insuficiente para sustentar a população.

Israel justificou a ação dizendo que o Hamas estava roubando e lucrando com os suprimentos – o que o grupo palestino nega.

Agências israelenses também afirmam que ONU pegou suprimentos que estivessem prontos para entrar em Gaza.

As Nações Unidas, por sua vez, destacaram que as forças de Israel frequentemente negam permissão para transportar ajuda dentro de Gaza e que muitos suprimentos aguardam liberação.

Gaza era fortemente dependente de ajuda humanitária e carregamentos comerciais de alimentos antes do início do conflito em outubro de 2023. A escassez de alimentos, suprimentos médicos, combustível e outras necessidades só piorou desde então.

Gaza enfrenta pior fase da fome, relata médico

A escassez de alimentos desde março fez com que cada vez mais pessoas procurassem ajuda em hospitais que já estão lotados.

“Gaza está testemunhando a pior fase da fome, que atingiu níveis catastróficos em meio a um silêncio internacional sem precedentes”, afirmou o doutor Khalil Al-Daqran, porta-voz do Hospital dos Mártires de Al-Aqsa, neste domingo, onde Razan faleceu.

Al-Daqran comentou que as crianças que estão morrendo tiveram a infância roubada duas vezes: “uma vez por bombardeios e assassinatos, e outra vez por privá-las de leite e um pedaço de pão”.

O Ministério da Saúde afirmou no sábado (19) que “um número sem precedentes de cidadãos famintos de todas as idades está chegando aos pronto-socorros em estados severos de exaustão e fadiga”.

“Centenas, cujos corpos foram severamente debilitados, agora correm risco de morte iminente devido à fome e à incapacidade de seus corpos de suportarem por mais tempo”, acrescentou a pasta.

Palestinos mortos enquanto buscavam ajuda

Quase 800 palestinos foram mortos enquanto tentavam obter ajuda em Gaza entre o final de maio e 7 de julho, de acordo com o ACNUDH (Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos).

Durante esse período, o ACNUDH registrou o assassinato de 798 pessoas, 615 das quais foram mortas perto de locais da controversa GHF (Fundação Humanitária de Gaza), apoiada pelos Estados Unidos.

Além disso, o órgão pontuou que outras 183 pessoas foram mortas “nas rotas de comboios de ajuda”, sem fornecer detalhes sobre quem os comandava.

CNN