Invasão de vereador em ‘sala vermelha’ de UBS termina com morte de paciente no interior de Minas

06/02/2025 05h17 - Atualizado há 2 mêses

Wladimir Canuto, do Avante, alega ser ‘fiscal do município’ e que foi ao local após receber reclamações de atrasos no atendimento

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Divulgação

Um paciente cardíaco de emergência morreu após a invasão de um vereador em uma UBS (Unidade Básica de Saúde). O caso aconteceu em Felício dos Santos, na Região Central de Minas Gerais, nessa segunda-feira (3).

O político é Wladimir Canuto, do Avante, que está na Câmara dos Vereadores da cidade desde 2017. Em um vídeo publicado nas redes sociais, ele afirmou ser um “fiscal do município” e que foi ao local após receber reclamações de atrasos no atendimento.

A vítima estava sendo atendida na “sala vermelha” da UBS com um quadro de parada cardiorrespiratória. Em nota, a Prefeitura de Felício dos Santos chamou de “vil e ardilosa” a ação do vereador e considerou “abrupta e injustificada” a invasão.

Foi registrado um boletim ocorrência contra o político por conta do episódio.

Vereador se explica

Após a repercussão do caso, Wladimir publicou um vídeo de 12 minutos nas redes sociais e afirmou que seu objetivo era “mostrar a verdade”. Ele afirma que chegou no centro de saúde por volta de 16h30 e encontrou pacientes que aguardavam desde às 14h.

“Dentre essas pessoas, tinha uma senhora que estava lá chorando de dor na coluna desde 2h da tarde e não conseguiu um atendimento, não conseguiu nada. Tinha uma jovem especial que estava toda molhada, numa situação delicada, que também não conseguiu atendimento, dentre várias outras pessoas”, detalha.

O vereador conta que se sentou e aguardou um tempo na recepção. Depois, procurou a recepcionista e questionou a demora nos atendimentos. A funcionária explicou que havia dois médicos na UBS e que eles estavam ocupados atendendo emergências, segundo o relato do político.

Wladimir Canuto, então, seguiu a mulher para dentro da unidade de saúde e disse que argumentou ser “fiscal do município” e que fiscaliza “o salário que todos os funcionários da prefeitura recebem”.

Após invadir o local, o vereador afirma que encontrou um dos médicos sentado mexendo no celular e disse que ele estava no WhatsApp.

No registro policial, o profissional argumentou que fazia “uma prescrição médica através do sistema PEC [prontuário eletrônico do cidadão] e não teve tempo de explicar ao vereador sobre a sua atuação médica”.

O político, então, continuou a invasão para procurar pela outra médica, que estava dentro da sala vermelha.

“Eu simplesmente abri a porta, eu não entrei. Aí vi que tinha muita gente lá dentro. Eu só perguntei: ‘tem médico aqui nessa sala?’ Aí a médica falou assim: ‘eu sou a médica. Obrigado, fechei a porta e saí”, alega Wladimir.

A funcionária da UBS afirmou aos policiais que tentou segurar a maçaneta da porta da sala de emergência, mas que o político “bateu em sua mão”.

Os outros profissionais envolvidos alegaram que “o vereador agiu com extrema arrogância e desleixo quanto ao risco do paciente, o que desestabilizou a equipe e impediu que o monitoramento fosse contínuo”, de acordo com informações do boletim de ocorrência.

Wladimir nega a agressão física, mas confirma as agressões verbais.

O homem faleceu às 17h50, conforme consta na certidão de óbito.

O vereador afirma que, após a invasão, o primeiro médico abordado começou a atender as pessoas que estavam na fila.

Após a morte do paciente, os profissionais da UBS chamaram Wladimir para conversar. Segundo o registro policial, o motivo da conversa foi para informar o vereador sobre as atividades realizadas e justificar a demora no atendimento.

“A guarnição PM se deslocou em rastreamento do vereador Wladimir Canuto, porém, ele não foi localizado”, afirmaram os militares em registro.

Vinícius Brito - ITATIAIA