Homem tem remissão do HIV após transplante de células-tronco
Paciente é o sétimo do mundo a alcançar a remissão de longo prazo do vírus após tratamento para leucemia
Um homem de 60 anos de Berlim, na Alemanha, tornou-se a sétima pessoa do mundo a alcançar a remissão a longo prazo do HIV após receber um transplante de células-tronco para o tratamento de leucemia. O caso foi relatado em estudo publicado na Nature na segunda-feira (1º).
O paciente havia sido diagnosticado com HIV em 2009 e, posteriormente, desenvolveu leucemia mieloide aguda em 2015. Como parte do tratamento do câncer, ele foi submetido a um transplante de células-tronco de um doador compatível e entrou em remissão da infecção consequentemente.
Diferentemente dos casos anteriores de remissão do HIV devido a um transplante de células-tronco, o doador era "heterozigoto" para uma variante genética chamada CCR5 Δ32, que bloqueia a principal porta de entrada do HIV nas células. Isso significa que ele tinha apenas uma cópia dessa mutação, e não duas. Mesmo assim, o paciente conseguiu interromper a terapia antirretroviral três anos após o transplante e permanece livre do HIV.
Com isso, o novo caso mostra que não é preciso ter duas cópias da mutação para alcançar a remissão do HIV. Basta uma única cópia, o que amplia o número potencial de doadores compatíveis e a chance de cura da infecção.
Além disso, as descobertas recentes sugerem que outros fatores são fundamentais para a remissão do HIV, como diminuição ou eliminação dos chamados "reservatórios virais", células onde o vírus pode se esconder.
Segundo os pesquisadores, antes do transplante, o paciente tinha o vírus intacto no organismo. Depois do procedimento, mesmo após testes mais sensíveis, não foram detectadas partículas virais capazes de se replicar, nem no sangue, nem em tecidos. As respostas imunes específicas ao HIV diminuíram ou desapareceram, o que indica que o vírus não estava mais ativo no corpo.
Para os autores do estudo, o caso pode abrir caminhos para estratégias de cura do HIV mais amplas e que não dependam somente do transplante. Mais pesquisas precisam ser realizadas.
Quem são os outros pacientes que atingiram a remissão?
O primeiro caso de um paciente com HIV curado foi Thimothy Ray Brown, conhecido como "paciente de Berlim". Ele foi diagnosticado com HIV em 1995, na Alemanha, e recebeu o diagnóstico de leucemia em 2006.
O segundo homem curado foi Adam Castillejo, que ficou conhecido como "paciente de Londres". Ele tinha linfoma de Hodgkin e passou pelo transplante de medula com material de um doador com a mutação no gene em maio de 2016.
Em 2022, mais dois casos foram anunciados: em fevereiro, uma mulher foi submetida a um tratamento com sangue do cordão umbilical de um doador com mutação no CC5 e células-tronco sanguíneas parcialmente compatíveis de um parente de primeiro grau.
Pouco tempo depois, em julho, foi divulgado o quarto caso de cura do HIV. O homem de 66 anos, que não quis revelar sua identidade, recebeu o apelido de "paciente de City of Hope".
Em 2023, cientistas do Hospital Universitário de Düsseldorf, na Alemanha, anunciaram o quinto paciente curado do HIV após transplante de medula óssea. Conhecido como "paciente de Düsseldorf", ele também tinha leucemia e recebeu células-tronco de um doador com genética resistente ao vírus, como os casos anteriores.
No mesmo ano, um homem na Suíça, apelidado de "paciente de Genebra", apresentou remissão do vírus HIV após a realização de um transplante de medula óssea. Seu caso também foi diferencial em relação aos anteriores, pois a medula óssea recebida não possuía mutação CCR5 Δ32.
Gabriela Maraccini, da CNN Brasil
