Guerra comercial entre Estados Unidos e China preocupa empresariado brasileiro

04/07/2019 00h00 - Atualizado há 4 anos
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Divulgação

Desde quando o governo norte-americano anunciou, em junho de 2018, a aplicação de sobretaxas contra centenas de produtos chineses e obteve uma contramedida equivalente do país asiático, as exportações brasileiras para a China foram afetadas de forma significativa. Só em 2018, aumentaram mais de 30% na comparação com o ano anterior.

Segundo levantamento da Confederação Nacional da Indústria (CNI), o incremento nas exportações para o mercado chinês foi de US$ 8,1 bilhões. A notícia pode soar boa, em um primeiro momento, porém a imprevisibilidade e a insegurança geradas por uma guerra tarifária entre as duas maiores economias do planeta prejudica o crescimento econômico mundial – incluindo o brasileiro –, atrapalha investimentos e já gera efeitos colaterais dentro do Brasil. O momento é de cautela.

EFEITOS POSITIVOS - O Brasil aumentou o saldo comercial com a China, no curto prazo, principalmente com a exportação de commodities do setor agropecuário. O grande destaque foi a soja, que, nesse contexto, teve seu preço aumentado. As exportações do produto tiveram um ganho de US$ 7 bilhões em 2018 na comparação com 2017 (aumento de 34,6%). Como somos o maior exportador de soja do mundo, o Brasil surge como a primeira opção alternativa quando há turbulência entre parceiros comerciais tradicionais.

Além da soja, outros itens brasileiros também tiveram suas vendas disparadas no mercado chinês, com destaque para tabaco, algodão, fígados, ovas, milho e lagosta congelada.

Além desses itens, o Brasil conseguiu inserir outros produtos no mercado chinês, como carne bovina, pedaços e miudezas de galos e galinhas, suco de laranja, caixa de marchas e suas partes para veículos e automotores, castanha-do-Pará e peixes ornamentais. Assim, em 2018, o Brasil atingiu o maior superávit da história com a China, de US$ 30 bilhões.

Já nas exportações para o mercado norte-americano, não houve ganho expressivo. O aumento foi de US$ 1,2 bilhão em 2018 na comparação com o ano anterior. Isso não impediu que, em 2018, a balança comercial com os Estados Unidos voltasse a ser deficitária. O destaque ficou com a venda de óleos brutos de petróleo e minerais betuminosos, que representaram um ganho de US$ 427,7 milhões (16% de aumento) em 2018 na comparação com 2017.

Os dados também mostram uma dificuldade de inserção de produtos manufaturados no mercado norte-americano, que compra esses itens principalmente da China. “Em tese, o Brasil poderia se beneficiar de alguma forma, mas as empresas brasileiras conseguiram aproveitar, ainda, a possibilidade de entrada no mercado americano com manufaturados”, analisa Welber Barral, especialista em defesa comercial e negociações internacionais e sócio sênior na Barral M Jorge.

PREOCUPAÇÕES - Se, de um lado, a guerra comercial aumentou de forma expressiva as exportações brasileiras para a China, por outro, ela apresenta pontos preocupantes. “No ano passado, já foi reduzida a previsão de crescimento mundial de 2019 por conta da guerra comercial. Isso pode prejudicar outras vendas do Brasil, ou seja, pode diminuir as exportações brasileiras para outros países. O resultado final tende a ser pior para nós no médio e longo prazo”, analisa Fabrizio Panzini, gerente de Negociações Internacionais da CNI.

O fogo cruzado entre Estados Unidos e China apresenta outro ponto de preocupação para os empresários, principalmente do setor da indústria: gera inseguranças, tornando praticamente impossível fazer um planejamento de investimentos, tendo como pano de fundo um conflito tão imprevisível e sem data para terminar. O momento pede cautela antes de se realizar qualquer investimento.

A opinião é compartilhada com Barral: “Uma guerra comercial entre as duas maiores economias do mundo cria uma insegurança sistêmica. Na realidade, isso implica aumento de custos de seguros e uma maior variação cambial. Isso é ruim para todo mundo”, afirma o especialista, que foi secretário de Comércio Exterior (2007–2011) e é conselheiro da Câmara de Comércio Americana (Amcham).

A tensão comercial tarifária gera, ainda, efeitos negativos dentro das vendas internas no Brasil. “A soja, por exemplo, foi exportada preferencialmente para a China e, assim, desviada de mercados internos. Isso aumentou o preço do produto para algumas cadeias produtivas, o que gera um efeito colateral”, explica Panzini.

HISTÓRICO - Em junho de 2018, o organismo que trata do comércio externo norte-americano, o United States Trade Representative (USTR), anunciou uma sobretaxa de 10% contra mais de 500 produtos chineses, causando enorme repercussão no comércio internacional. É praticamente tudo o que o país importa da China, como produtos eletrônicos e insumos industriais. 

Como contramedida, o governo chinês também aplicou, no mesmo mês, uma sobretaxa equivalente a centenas de produtos norte-americanos, principalmente insumos do agronegócio. Passou a vigorar, desde então, uma tarifa mais alta para ambos os lados.

Editoria: Internacional

Da Revista Indústria Brasileira

Foto: José Paulo Lacerda

Para a Agência CNI de Notícias