Covid longa afeta negativamente a função cognitiva e a memória, mostra estudo

22/03/2024 04h34 - Atualizado há 8 mêses

Pesquisadores descobriram que sintomas duradouros da infecção podem causar dificuldades relacionadas à memória e às habilidades executivas e de raciocínio

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Maria Korneeva/GettyImages

A Covid-19 pode impactar a capacidade cognitiva e de memória de pessoas por mais de um ano após a infecção, de acordo com pesquisadores do Imperial College London, na Inglaterra. Em um novo estudo, os cientistas descobriram pequenas deficiências no desempenho de tarefas cognitivas e de memórias em pessoas que se recuperaram da infecção pelo coronavírus, em comparação com quem não teve a doença.

Os resultados do estudo, publicados no final de fevereiro no New England Journal of Medicine, também incluem pessoas que apresentaram Covid longa, ou seja, sintomas que perduram por meses ou, até mesmo, anos após a infecção.

O estudo envolveu mais de 140 mil participantes, que foram convidados a realizar uma avaliação cognitiva inovadora na plataforma Cognitron, que compreende tarefas que podem detectar mudanças sutis em diferentes aspectos da função cerebral, como memória, raciocínio, função executiva, atenção e impulsividade.

A grande escala do estudo e a sensibilidade dos testes utilizados pelos pesquisadores permitiu que os fatores relacionados aos déficits cognitivos pós-Covid fossem examinados detalhadamente, controlando variáveis como idade, dados demográficos e condições médicas pré-existentes.

Impacto na função cognitiva foi maior em pessoas com Covid longa

Os resultados do estudo mostraram pequenas deficiências cognitivas que ainda eram detectáveis um ano ou mais após a infecção por Covid-19, principalmente em pessoas que tiveram Covid longa — apesar de os pesquisadores também terem encontrado esse déficit em pessoas que tiveram sintomas por um curto período.

De acordo com os pesquisadores, o impacto na função cognitiva foi maior em pessoas que tiveram sintomas que duraram 12 semanas ou mais, naquelas que foram hospitalizadas devido à doença ou em quem foi infectado com uma das variantes iniciais do vírus da Covid-19.

“Os potenciais efeitos a longo prazo da COVID-19 na função cognitiva têm sido uma preocupação para o público, os profissionais de saúde e os decisores políticos, mas até agora tem sido difícil medi-los objetivamente em uma grande amostra populacional”, afirma Adam Hampshire, coautor do estudo e professor do Departamento de Ciências do Cérebro do Imperial College London, em comunicado.

Os resultados mostraram que a Covid-19 estava associada a impactos negativos em múltiplas áreas da cognição, principalmente na memória, como, por exemplo, a capacidade de lembrar imagens de objetos que foram vistos alguns minutos antes.

Além disso, os participantes também apresentaram pequenos déficits em algumas tarefas que testam habilidades executivas e de raciocínio, como planejamento espacial e raciocínio verbal.

“Ao utilizar a nossa plataforma online para medir múltiplos aspectos da cognição e da memória em grande escala, fomos capazes de detectar défices pequenos, mas mensuráveis, ​​no desempenho de tarefas cognitivas. Descobrimos também que as pessoas provavelmente foram afetadas de diferentes maneiras, dependendo de fatores como duração da doença, variante do vírus e hospitalização”, explica Hampshire.

O estudo também mostrou que aqueles que tiveram Covid longa, mas que não tinham mais sintomas no momento do estudo, tiveram uma melhoria nas funções cognitivas a níveis semelhantes aos participantes que tiveram sintomas com curta duração.

“Além disso, o impacto cognitivo da COVID-19 parece ter diminuído desde as fases iniciais da pandemia, com menos pessoas a terem doenças persistentes e a cognição sendo menos afetada entre aqueles que foram infectados durante o período em que Omicron era a variante dominante”, comenta Paul Elliot, autor sênior do estudo e diretor do programa REACT, da Escola de Saúde Pública do Imperial College London.

“No entanto, dado o grande número de pessoas infectadas, será importante continuar a monitorizar as consequências clínicas e cognitivas a longo prazo da pandemia da COVID-19”, completa.

Gabriela Maraccini da CNN