Corte de CO2 pode injetar até R$ 600 bilhões no PIB do Brasil, diz estudo

24/09/2015 00h00 - Atualizado há 4 anos

Investimentos para reduzir as emissões de gases de efeito estufa no Brasil seriam bons não só para o ambiente, mas também para a economia do país, segundo um estudo da UFRJ. A pesquisa projeta que o PIB brasileiro ganharia uma injeção de cerca de R$ 600 bilhões entre 2015 e 2030 como fruto de investimentos numa economia verde (montante no acumulado do período, em R$ de 2005).

A conclusão está dentro do estudo IES-Brasil (Implicações Econômicas e Sociais: Cenários de Mitigação de Gases de Efeito Estufa), realizado pela UFRJ Universidade Federal do Rio de Janeiro.

O trabalho, elaborado pela Coppe (Coordenação dos Programas de Pós-Graduação de Engenharia), simulou o que deve acontecer com a economia monitorando diversos fatores, como o nível de emprego, a inflação, os juros, a balança comercial e o consumo. A ideia era projetar como os investimentos em energia limpa e as mudanças em outros procedimentos para redução de emissões de CO2 transformariam a economia do país.

A transformação, independentemente do grau de investimento, seria para melhor, apontou o trabalho. Em um dos cenários, no qual se investiria em R$ 99 bilhões em 15 anos, o país criaria mais de 350 mil postos de trabalho. Em outro, mais ousado, um investimento de R$ 372 bilhões projeta a criação de 1,15 milhões de empregos.

A diferença no crescimento do PIB entre os dois cenários é entre um acréscimo de R$ 182 bilhões e outro de R$ 609 bilhões. No primeiro caso, os investimentos permitiriam frear o aumento das emissões, mas estas ainda subiriam um pouco em relação às de 2012, de 1,2 bilhão de toneladas de CO2 para 1,3 bilhão. No segundo caso, as emissões já entrariam em trajetória de queda para chegarem a 1,0 bilhão em 2030. Esse grau de redução estaria em compasso com o corte necessário globalmente para impedir que o planeta tenha um acréscimo de mais de 2°C em função do aquecimento global.

“Se o Brasil ingressar no caminho de uma economia verde, num cenário em que o mundo assume uma taxa de carbono e penaliza o combustível fóssil, nós temos uma vantagem competitiva muito grande”, disse ao G1 Luiz Pinguelli Rosa, professor da Coppe que coordeno ou trabalho. “Nós podemos fazer mais que os outros países.”

Contramão

Para que o cenário otimista avistado pelos cientistas se concretize, porém, a política brasileira de incentivo a combustíveis fósseis precisaria se reverter logo.

“Neste momento, nosso setor energético está indo na contramão, porque de alguns anos para cá o preço da gasolina mantido baixo artificialmente tornou pouco atrativo o álcool, que impede a emissão de CO2”, afirma Pinguelli. “A política de gestão das hidrelétricas, além disso, acabou levando a um esvaziamento dos reservatórios, o que nos obrigou a acionar termoelétricas de baixa eficiência, que consomem muito combustível e emitem muito CO2.”

O preço da gasolina, no cenário criado para o estudo, não poderia ser independente e teria de ser taxado para estimular o etanol. O estudo também prevê uma continuidade de políticas que mantém o desmatamento em níveis mais baixos, menores que os 5.000 km² atuais.

O desmate ainda é a maior fonte de emissões no Brasil, mas na conta líquida (que considera o CO2 absorvido por florestas em regeneração), já foi superado pela agropecuária, que emite metano e óxido nitroso -- dois gases-estufa menos abundantes que o CO2, mas também relevantes.

Investimentos para mudar o modelo de pecuária e plantio de grãos também foram levados em conta no trabalho, mas o setor energético foi o principal alvo, em razão de sua maior tendência de aumento das emissões no longo prazo.

Uma cópia do estudo IES-Brasil foi entregue nesta terça-feira (22) pelo Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas à Ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira.

Fonte: G1, em São Paulo