Como a Igreja católica sobreviveu aos anos mais radicais da Revolução Cubana

20/09/2015 00h00 - Atualizado há 4 anos

O papa Francisco chegou na tarde deste sábado a Cuba, em sua primeira visita como pontífice à ilha – e a terceira de um papa em menos de 18 anos. Mas para a Igreja católica no país, sobreviver aos anos mais radicais da Revolução Cubana foi uma difícil tarefa.

Quando, em 1959, Fidel Castro e seus combatentes entraram vitoriosos em Havana, imagens de igrejas incendiadas e católicos perseguidos na Espanha da Segunda República (1931-1939) se instalaram rapidamente na mente de alguns dos fiéis na ilha.

Com menor ou menor identificação com o castrismo, os religiosos concordam que este foi o antecedente inicial da relação tortuosa entre a revolução e os católicos cubanos.

Talvez por isso, Cuba é o único país, além do Brasil, a ser visitado pelos três últimos papas. O temor nos anos cinzentos

A Revolução Cubana não tinha o fim do catolicismo como um de seus objetivos políticos, mas o rumo socialista tomado pelo país nos primeiros anos da década de 60 tensionou a relação com todo o mundo religioso.

Esta tensão duraria mais de duas décadas, até os últimos anos da década de 1980, e teria um de seus momentos mais significativos em 1976, quando a nova constituição cubana declarou o caráter ateu da ilha.

O texto constitucional declarava o Estado cubano como: socialista, que baseia sua atividade e educa seu povo na concepção científica materialista do universo.

A presença da igreja foi difícil nos anos cinzentos. Os primeiros anos da Revolução foram de confronto e desconfiança, diz o bispo cubano José Conrado, sacerdote conhecido por suas críticas ao governo da ilha.

Segundo ele, a Igreja católica ficou reduzida ao mínimo neste período.

Leigos e padres abandonaram o país. A Igreja espanhola os convocou, por temer uma onda de perseguições e a possível proibição da religião, afirma.

Em entrevista à BBC Mundo, serviço em espanhol da BBC, Conrado disse que, em seus primeiros anos como padre, trabalhou em populações de 80 ou 90 mil pessoas onde apenas quatro crianças assistiam às aulas de catequese.

Não tínhamos nem 100 pessoas nas igrejas, relembra.

Mas Frei Betto, religioso brasileiro que era mais próximo a Fidel Castro e à Revolução, afirma que os temores dos católicos durante estes anos eram infundados e obedeciam a influências extrangeiras.

Foi a influência franquista do catolicismo espanhol em Cuba que fez com que muitos católicos ficassem contra o caráter socialista da Revolução e da influência soviética. No entanto, nenhum padre ou pastor foi fusilado e nenhum templo foi fechado, disse à BBC Mundo.

Muitos anos depois, Castro explicaria a Frei Betto porque o ateísmo foi estabelecido como política de Estado na ilha. O assunto foi abordado no livro , publicado em 1985.

O que nós estávamos exigindo era a adesão plena ao marxismo-leninismo. Acreditávamos que qualquer pessoa que se unisse ao partido aceitaria a política do partido e a doutrina em todos os aspectos, disse o líder cubano.

BBC Brasil