Com música e nas redes sociais, jovens negros combatem o racismo

02/08/2016 00h00 - Atualizado há 4 anos
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Divulgação

Crianças e adolescentes debateram o combate ao racismo, hoje, na nona edição do Festival Latinidades, no Museu da República, em Brasília. Sob a mediação da produtora cultural e articuladora social Renata Morais, Gustavo Gomes, 11 anos, a MC Soffia, 12 anos, e o youtuber Pedro Henrique Cortês, 14 anos, expuseram as dificuldades que os jovens negros ainda enfrentam no Brasil.

Os três fizeram várias críticas à escola pela forma que trata o tema e, principalmente, à mídia pelo pouco espaço que concede aos negros, notadamente nas novelas e nos programas de TV ou a forma estereotipada dos personagens. Renata Morais, que tem um movimento Crespinhos SA, disse que acha incrível o papel desses jovens. Quando eles tomam essa afirmação e essa consciência desde cedo, muita coisa muda. Sempre digo que a gente ainda vai continuar sofrendo com o racismo, mas vai passar, destacou.

Gustavo Gomes, autor do livro Meu Universo elogiou o Latinidades porque, segundo ele, dá visibilidade para a cultura negra e principalmente para as mulheres negras, pessoas que, argumenta, sofrem muito com o racismo. Mas é importante mostrar não só esse lado, mas também um lado bonito e importante dos negros. Importante dá visibilidade tanto para o lado bom como para o ruim, afirmou.

Racismo

Para ele, é importante rejeitar o racismo desde pequeno. Quando vemos que muitas pessoas que lutam por essa causa conseguem muita coisa, vale a pena. Dá pra dizer eu sou negro e vou ser negro de boa e ninguém tem o direito de me denegrir por isso. Então, é importante mostrar também para as crianças que existe motivo para lutar, acrescenta.

Pedro Henrique, chamado também de PH, e que tem um canal no Youtube que defende heróis negros brasileiros, o festival está sendo incrível por ser um evento para celebrar a mulher negra. Ele destaca que isso permitiu que ele conhecesse várias pessoas incríveis, com um trabalho parecido com o dele . Você sai inspirado. São várias pessoas com histórias incríveis para contar.... [No festival] são shows, são palestras, bate-papo, que você sai inspirado e querendo mudar alguma coisa, enfatizou.

Para combater o racismo, PH destaca que é preciso educar as pessoas. Ele lembra que, embora a Lei 10.639 defenda que todos têm o direito de aprender sobre a cultura afro-brasileira nas escolas, isso muitas vezes não acontece. Então, se a gente não vê a história do Brasil em todos os sentidos, só a dos colonizadores, e não a de pessoas incríveis, como a dos abolicionistas negros, seria uma forma de ver que homens e mulheres negros fizeram coisas incríveis também.

Além da educação, ele, que pretende ser produtor e diretor, defende a representatividade dos negros nas mídias, como nas novelas e na TV de maneira geral. Você se vendo representando, a coisa já muda e passamos a nos ver de igual para igual, acrescenta.

Bem humorada, a MC Soffia destaca que sua música, ao falar da questão das negras, lembra que elas devem se aceitar e gostar de si mesmas. É difícil fazer rap no Brasil. Há dificuldades, pois sou criança e mulher. Não possa cantar em certos lugares por conta da idade. Mas a gente dá um jeito.

Menina pretinha

Com letras como Menina pretinha, exótica não é linda; Você não é bonitinha, Você é uma rainha, MC Soffia afirmou que nem bem chegou direito no Latinidades e já está adorando o festival. Mães deem voz a suas crianças. Diga que elas podem ser a melhor médica, o melhor jogador de futebol e invistam nelas. Que todas as crianças se aceitem e se gostem e nas escolas comecem a falar a questão dos negros. Mas não [só[ que eles foram escravos, mas que foram heróis e heroínas.

O Latinidades , que se consolidou como o maior festival de mulheres negras da América Latina, vai até amanhã (31), em Brasília, no Museu Nacional, na Esplanada dos Ministérios. Organizado pelo Instituto Afrolatinas, tem a parceria da Organização das Nações Unidas (ONU) no Brasil e patrocínio do Governo do Distrito Federal. De acordo com os organizadores, nasceu para celebrar o Dia da Mulher Afro-Latino-Americana e Caribenha e abrir espaço para convergir debates e iniciativas do estado e da sociedade civil relacionadas à promoção da igualdade racial e enfrentamento ao racismo e sexismo.

Agência Brasil