Com lotação máxima, Cras alerta para riscos de domesticar animais silvestres
Com 700 animais internados, o Centro de Reabilitação de Animais Silvestres (Cras) tem funcionado com lotação máxima e alerta para o risco de domesticar animais silvestres. Alguns dos que estão no local nunca mais poderão ser reintroduzidos na natureza devido ao excesso de contato com o homem. Em alguns casos mais graves eles carregarão sequelas para o resto da vida – como o macaco que teve a perna amputada após ser atacado por um cão pit bull.
Por dia são consumidos mais de cem quilos de ração e frutas, conta a coordenadora do Cras, Nara Teodoro Pontes. A manutenção do Centro é feita pelo Governo do Estado. A maior parte dos animais que está no local são aves, principalmente papagaios, mas há também macacos e dez onças. Algumas delas não poderão ser soltas novamente, pois foram retiradas da natureza ainda filhotes e não aprenderam a caçar.
Cada animal tem uma ficha com todas as informações. Quando chegam, eles recebem uma espécie de RG [Registro Geral] e uma marcação individual. Alguns estão muito debilitados e precisam de medicação. Eles passam por avaliação clínica, são vermifugados e ficam em quarentena por sete dias, explica a coordenadora.
Equipe formada por seis técnicos de nível superior e cinco tratadores é responsável pelos cuidados com os animais. Os veterinários se revezam para plantões de 24 horas.
Quando já estão em condições, os pacientes são designados aos recintos apropriados. Os que são de convívio vão para o grupo e aqueles de hábito individual recebem um recinto próprio, detalha.
Rota do tráfico
O problema é que o número de animais que chega ao Cras aumenta no período de reprodução das espécies. Em um só mês o local já chegou a receber mais de dois mil papagaios, frutos de apreensões. MS é rota para passagem do tráfico de animais, lamenta a coordenadora. Segundo ela, a maioria das apreensões vem da região sul do Estado. Alguns animais chegam a ser comercializados em feiras.
A solução passa pela conscientização das pessoas, aponta Nara. Com redução da demanda pela compra de animais silvestres, diminui também o número de animais comercializados ilegalmente.
De acordo com ela, de setembro a novembro é o período em que aumentam as apreensões, principalmente de filhotes. Papagaio é a ave mais traficada no Estado, destacou.
Nara já testemunhou várias apreensões e detalha que os animais chegam ao Cras bastante debilitados, acondicionados em caixas e praticamente empilhados. Muitos chegam aqui já bem desidratados e acabam morrendo, revelou. A estimativa é de que a cada dez animais traficados, somente um sobrevive.
Para ela, o modo da sociedade ajudar é deixando de tentar domesticar animais silvestres. As pessoas em vez de querer ter um animal silvestre que comecem mais a contemplar o animal na natureza, solto, o que não é tão difícil tendo em vista que nossa fauna é muito rica, comentou.
Reabilitação
Onça abrigada pelo Cras foi retirada ilegalmente da natureza ainda filhote e não aprendeu a caçar, por isso tem poucas condições de ser reintroduzida ao seu habitat.
Por se tratar de um local de tratamento, os animais não estão disponíveis para visitação. Contudo, quem participa da trilha do Parque Estadual do Prosa tem a oportunidade de conhecer as instalações. As visitas são feitas sempre com grupos reduzidos e regras para não estressar os animais, alguns já moradores permanentes.
Apesar da lotação, o Cras continua de portões abertos para receber animais silvestres que precisem de atendimento – já os animais domésticos não são atendidos no local. O centro é destino dos apreendidos pela Polícia Militar Ambiental (PMA) e todo o trabalho é feito de modo que eles sejam reintroduzidos na natureza.
A maioria das aves tem condições de ser solta, os filhotes com grandes chances de retorno ao seu habitat. Principalmente porque a gente faz todo o trabalho direcionado à não domesticação, para eles não ficarem dóceis, ressaltou a coordenadora.
Ela lembrou que as pessoas que desejarem ter como animal de estimação um papagaio, por exemplo, podem fazer tudo da maneira legal, procurando criadouros certificados pelo Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).
Já aqueles que encontrarem um animal silvestre fora da natureza podem acionar a PMA pelo telefone (67) 3357-1500, que os militares vão ao local fazer o resgate.
Quando se tratar de pássaro ou animal que possa ser levado ao Cras, também é possível fazer isso pessoalmente e orientações para o transporte podem ser obtidas pelo telefone (67) 3326-6003.
Danúbia Burema – Subsecretaria de Comunicação (Subcom)
A Tribuna News