Católicos e muçulmanos unidos contra extremismo após assassinato de padre francês
Cinco dias após o assassinato de um padre, crime que abalou a França, muitos muçulmanos manifestaram neste domingo (31) seu horror diante do extremismo, participando de missas em homenagem ao religioso, ao lado dos católicos, e publicando artigos nos jornais.
Também neste domingo, dois homens ligados a um dos assassinos do padre Jacques Hamel, degolado por dois extremistas na última terça-feira (26) na Normandia, foram acusados e presos, anunciou o Ministério Público de Paris.
Dois mil fiéis católicos e uma centena de muçulmanos acompanharam hoje a missa celebrada na catedral de Rouen, no noroeste da França, para homenagear o sacerdote.
Amor a todos, ódio a ninguém, afirmava um cartaz pendurado dentro da catedral por uma associação muçulmana.
Vários militares vigiavam a entrada da catedral, onde foram reservados assentos para os moradores de Saint-Etienne-du-Rouvray, também no noroeste do país, onde fica a igreja na qual o padre foi assassinado quando celebrava uma missa.
Entre os fiéis, cerca de 100 muçulmanos responderam ao chamado do Conselho Francês do Culto Muçulmano (CFCM), que convidou os responsáveis de mesquitas, imãs e fiéis a assistir à missa para expressar sua solidariedade e compaixão.
No sábado, foram realizadas vigílias inter-religiosas em várias cidades do país. Na outra igreja de Saint-Etienne-du-Rouvray, frente a um retrato do padre rodeado de ramos de flores, fiéis católicos e muçulmanos ouviram com atenção as palavras do padre Auguste Moanda, que recordou que a fraternidade existe entre as duas religiões.
Em Bordeaux, no sudoeste, 400 pessoas de diferentes confissões participaram de uma oração conjunta na igreja de Notre Dame e, em Nice (sudeste), cidade ainda em luto pelo atentado de 14 de julho que custou a vida de 84 pessoas, muitos muçulmanos acompanharam uma missa na igreja de Saint-Pierre-de-lAriane, que contou com a presença do imã Otman Aissaoui.
Dois acusados
A polícia continua investigando o entorno dos autores do ataque, Abdel Malik Petitjean e Adel Kermiche, ambos de 19 anos. O ataque foi reivindicado pelo grupo extremista Estado Islâmico (EI).
Petitjean e Kermiche haviam sido fichados em diferentes momentos pelos serviços de Inteligência franceses.
A investigação permitiu estabelecer que os dois assassinos do padre entraram em contato através do aplicativo de mensagens criptografadas Telegram dias antes de agir, segundo vários veículos de comunicação. Kermiche teria, inclusive, descrito o do atentado nessas conversas, mencionando uma faca e uma igreja.
No domingo, dois homens ligados a Petitjean foram acusados. O primeiro é um primo dele, Fraid K., de 30 anos. Segundo o MP de Paris, ele tinha perfeito conhecimento, ainda que não do dia e do local precisos, ao menos da iminência do projeto de ação violenta por parte de seu primo.
O outro é Jean-Philippe J., um jovem de 20 anos que tentou viajar para a Síria em junho passado com Petitjean.
O refugiado sírio e o menor de 16 anos detidos anteriormente foram libertados, mas a Polícia ainda analisa documentos de propaganda extremista encontrados no telefone e no computador deste último.
Batalha cultural
Em uma coluna no Journal du Dimanche (JDD), cerca de 40 personalidades muçulmanas da França disseram estar consternadas com a impotência da organização atual do Islã na França, que não tem nenhuma influência nos acontecimentos.
Médicos, universitários, empresários e artistas muçulmanos de fé e de cultura convocaram para uma batalha cultural contra o Islã radical, que seduz uma parte da juventude, em um momento no qual o risco de divisão entre os franceses é a cada dia maior.
Em artigo também publicado no JDD, o primeiro-ministro francês, Manuel Valls, considerou que, embora o Islã tenha encontrado seu lugar na República, é urgente construir um verdadeiro pacto com a segunda religião da França.
Segundo Valls, apesar do fracasso da Fundação pelo Islã na França, criada há mais de dez anos para reunir com toda transparência os fundos necessários para seu desenvolvimento, será preciso revisar algumas regras para esgotar o financiamento externo e aumentar, para compensar, a possibilidade de recolher fundos no país.
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