Brasil lida com tarifaço de forma melhor do que o imaginado, diz Apex

27/09/2025 05h41 - Atualizado há 12 horas

Entre 2 e 4 de outubro, agência estará em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos; Jorge Viana vê oportunidade de "inserção de mais de 450 produtos nesse comércio"

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Jorge Viana, presidente da ApexBrasil • Foto: Agência Brasil / Ilustração gerada por IA

O Brasil está lidando com a pressão do tarifaço imposto pelos Estados Unidos de uma forma melhor do que o previsto, avalia Jorge Viana, presidente da ApexBrasil (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos), em entrevista à CNN.

Deflagrada em agosto, a sobretaxação em 50% para uma série de produtos brasileiros vendidos ao mercado norte-americano resultou em demissões e aumento das incertezas aos segmentos que não foram incluídos na lista de exceções.

Mesmo assim, Viana destaca a diversificação de mercado proposta pelo governo federal como forma de contornar a problemática.

"Identificamos 195 produtos brasileiros potencialmente impactados pelas tarifas e a partir disso trabalhamos para inserir esses produtos em novos mercados, diversificando destinos e diminuindo a dependência das empresas brasileiras de um único parceiro comercial", explica.

A busca de novos parceiros, porém, vem de antes do anúncio de Trump, em julho. Desde 2023, a agência vem realizando uma série de encontros com os Secoms (Setores de Promoção Comercial e Investimentos), Sectecs (Setores de Ciência, Tecnologia e Inovação) e adidos agrícolas de diversos países.

Após nove missões, a ApexBrasil viaja a Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, entre os dias 2 e 4 de outubro, encerrando o ciclo global de articulação diplomática e comercial para inserção internacional do Brasil, percorrendo todos os continentes do mundo.

Num balanço do projeto, o presidente da Apex, Jorge Viana, destaca que, entre 2023 e 2025, foram abertos mais de 400 mercados para produtos do agronegócio.

A seguir, os principais destaques da entrevista

A iniciativa é anterior a esse momento conturbado para o comércio exterior, mas como esse tipo de ação pode ajudar a mitigar os problemas correntes?

Acredito que estamos nos saindo melhor do que o imaginado dessa situação porque a diversificação de mercados é um fator central da política do governo Lula.

O primeiro encontro com os Secom, Sectecs e adidos aconteceu em junho de 2023, desde então foram nove encontros, nos encaminhando para a finalização com o décimo na próxima semana.

Se contar as várias outras ações como fóruns presidenciais, missões comerciais, feiras e outras iniciativas lideradas pela ApexBrasil e em parceria com o governo federal, estamos sempre buscando inaugurar relações, aprofundar outras, sempre com o objetivo de levar os produtos brasileiros para o mundo.

Agora não é diferente. A Apex mapeou, estado por estado, os setores mais dependentes das exportações para os Estados Unidos.

Identificamos 195 produtos brasileiros potencialmente impactados pelas tarifas e a partir disso trabalhamos para inserir esses produtos em novos mercados, diversificando destinos e diminuindo a dependência das empresas brasileiras de um único parceiro comercial.

Qual a expectativa da Apex com a missão ao Oriente Médio? Qual a relevância e potencial desse mercado para o agro brasileiro?

O Encontro de Secoms, Sectecs e adidos agrícolas é uma oportunidade estratégica para dialogar com os agentes que atuam para ampliar a presença do Brasil nesse mercado dinâmico que é a região do Oriente Médio, Cáucaso, Ásia Central, parte do Sul da Ásia e Turquia.

São países altamente relevantes tanto para o agronegócio e para a indústria de transformação. Em 2024, as exportações brasileiras para os Emirados Árabes Unidos, por exemplo, somaram US$ 4,5 bilhões, o que posicionou o país como o 14º destino das vendas externas do Brasil.

Estamos falando de um mercado tradicionalmente atrativo para o agro. Produtos como açúcares e melaços, carnes de aves e carne bovina lideram a pauta exportadora, mas há espaço para a diversificação das nossas vendas com a inserção de mais de 450 produtos nesse comércio. Produtos como motores diesel, coque de petróleo calcinado, laminados de aço, ônibus e móveis de madeira tem muitas oportunidades.

A relação bilateral também se fortalece no campo dos investimentos: os Emirados Árabes Unidos aportaram US$ 2 bilhões no Brasil em 2023, com empresas como Acelen, Porto Sudeste, Rota das Bandeiras e Embraport entre as maiores do país.

O que motivou o início desse ciclo de viagens?

Essa é uma iniciativa inédita que surgiu da necessidade de aproximar ainda mais a política de promoção comercial e de inovação da realidade dos diferentes mercados internacionais e dos setores produtivos brasileiros.

Hoje, o Brasil conta com uma ampla rede de representação no exterior, são 128 setores de promoção comercial em embaixadas, consulados e missões multilaterais; 60 setores de ciência, tecnologia e inovação; e 40 adidâncias agrícolas, número que deve chegar a 50 até o fim do ano.

Foi um giro ao redor do mundo para perceber os desafios e oportunidades específicas que cada região traz. Nosso primeiro encontro foi em Joanesburgo, África do Sul e percebemos as dificuldades de infraestrutura e de pessoal e entendemos a importância das missões comerciais e da participação em feiras setoriais como forma de aumentar nossa presença no continente africano.

Já na Europa, onde o Brasil mantém relações comerciais mais consolidadas, o foco está em inteligência de mercado e nosso grande debate se concentrou no acordo Mercosul-União Europeia.

Foram momentos de muita troca diretamente com diplomatas, adidos e técnicos que atuam diariamente na ponta, mas também de ouvir as empresas brasileiras sobre os obstáculos e oportunidades que encontram no exterior.

Esse diálogo é essencial para alinhar estratégias, ampliar mercados e fortalecer a presença do Brasil no comércio internacional.

Que frutos já tem sido colhidos? O agro brasileiro tem sido melhor visto no exterior?

Entre 2023 e 2025, foram abertos mais de 400 mercados para produtos do agro. Essas conquistas são fruto de uma atuação articulada entre ApexBrasil, Ministério da Agricultura e Pecuária, Ministério das Relações Exteriores, Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços e o setor privado; atores que se reuniram nesses encontros e puderam alinhar suas expectativas e trabalhar juntos para ampliar as oportunidades de mercado, consolidando o agro nacional como referência mundial.

Um dos principais frutos é a memória gerada a partir dos encontros. Compilamos desafios e oportunidades identificados pelos setores de promoção comercial, ciência e tecnologia e adidâncias agrícolas.

Esse mapeamento nos permite direcionar ações de forma mais estratégica, beneficiando setores como o agronegócio.

E o quão simbólica é essa próxima missão, encerrando a passagem por todos os continentes?

Esse evento marca o encerramento de um ciclo inédito, como eu já disse, de encontros que percorreram todos os continentes.

Será a décima reunião dessa natureza realizada em parceria entre a ApexBrasil, o Itamaraty e o Ministério da Agricultura e Pecuária e será muito especial, pois articularemos representantes de 22 países.

É um marco relevante por duas razões principais. Em primeiro lugar, porque consolida um trabalho de articulação global que envolveu adidos agrícolas, setores de promoção comercial, ciência, tecnologia e inovação, além das equipes da ApexBrasil, em uma série de reuniões estratégicas.

Em segundo lugar, porque o encontro em Dubai encerra esse ciclo com foco em uma região de importância crescente para o agro e para a economia brasileira como um todo.

Trata-se de um feito que resultou em diagnósticos, estratégias e prioridades definidas ao longo de reuniões enriquecedoras. O objetivo é, a partir de cada encontro, traçar um plano de ação claro para os próximos anos, sempre com foco na promoção dos produtos brasileiros no exterior e na atração de investimentos para o país.

Esse não é apenas o encerramento de uma série de encontros, mas um símbolo do compromisso do Brasil com uma estratégia global integrada, fortalecendo nossa presença internacional em todos os continentes.

João Nakamura, da CNN, São Paulo