Análise: julgamento no STF expõe limites da fidelidade a Bolsonaro
Capital eleitoral assegura apoio político ao ex-presidente, mas estratégia do “cada um por si” se consolida entre acusados
É inegável que, mesmo sentado no banco dos réus, Jair Bolsonaro (PL) ainda dispõe de um capital político digno de ser disputado por todo o campo da direita. É nas mãos dele que ainda residem muitos dos votos que guiarão a eleição presidencial do ano que vem. Votos esses que, naturalmente, lhe garantem uma dose bem razoável de apoio político, diante do julgamento que enfrenta no STF (Supremo Tribunal Federal).
Não à toa, Bolsonaro se senta no banco dos réus com o reforço de muita gente importante. Tarcísio de Freitas (Republicanos), governador de São Paulo e seu afilhado político, foi até Brasília para demonstrar seu apoio ao padrinho. Legendas de direita e do Centrão passaram os últimos dias abraçando a pauta da anistia. E aliados dos mais diversos se revezaram em entrevistas e postagens de apoio ao seu maior líder.
Mas momentos como a sessão desta quarta-feira (3) no STF ajudam a evidenciar os limites da fidelidade ao ex-presidente. A todo e qualquer político de direita, interessa herdar parte dos votos de Bolsonaro. Mas, aos demais réus da trama golpista, o capital eleitoral do ex-presidente interessa muito pouco ou absolutamente nada. E o jogo, então, passa a ser o bom e velho "cada um por si".
A defesa de Augusto Heleno, general que comandou o estratégico GSI (Gabinete de Segurança Institucional), a quem Bolsonaro delegava sua segurança pessoal, deixou o ex-chefe na chuva. Fez de tudo para se descolar de quaisquer atos que possam ser vistos como antidemocráticos pelos cinco ministros da Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal. Ficou no ar a ideia de que Heleno enxergou, sim, a gestação de um ataque à democracia. Mas que ele próprio não tinha nada a ver com aquilo tudo.
Paulo Sérgio Nogueira, ex-ministro da Defesa de Bolsonaro, adotou uma estratégia mais amena. Mas nem por isso deixou de agir para se descolar do ex-chefe. Seu advogado foi categórico em dizer que seu cliente se esforçava para demover Bolsonaro. Foram muitas menções. A ministra Cármen Lúcia achou melhor confirmar. Demovê-lo de quê? De tomar alguma medida de “exceção”, respondeu o advogado.
Mas não há nada de muito surpreendente na atitude dos demais acusados, diante da defesa do próprio ex-presidente. Afinal, muito da estratégia do próprio Bolsonaro se apoia na ideia de que ele não pode ser responsabilizado pelos atos de terceiros. Ali também o jogo virou. E passou a ser o bom e velho cada um por si.
Blog Clarissa Oliveira - CNN